Olhei de um lado para o outro antes de atravessar a rua, meus passos eram apressados, a pasta debaixo do braço teimava em escorregar, enquanto equilibrava os dois cafés. Um suspiro pesado saiu dos meus lábios, pois era mais um dia cansativo de trabalho e talvez devia ter fingido uma gripe ou disenteria, tudo para não encontrar o presidente Ok.
Quando nos beijamos naquele cinema, foi algo que não posso explicar, ou como ele acabou. Os olhos do presidente ficaram fixos nos meus após deixar uma mordida em meu lábio e sua mão livre afastar uma mecha do meu cabelo do rosto. Senti meu peito palpitando, os braços ainda envolta de seu pescoço, enquanto o encarava.
— Ainda duvida que é minha, senhorita Souza? — pisquei por alguns instantes, até praticamente pular para longe de seu colo.
— Não sou uma propriedade, senhor. — Respondi arrumando o casaco no corpo.
— Oh, eu tenho ciência disso. — Ele apoiou o cotovelo no braço da poltrona e o punho no queixo.
— Essa sua brincadeira não tem a menor graça, pois não pretendo e nem quero ser uma de suas amantes. — Cerrei os punhos, convicta de minhas palavras.
— Mulheres para mim não são um jogo, mas algo a ser descartado quando não tem serventia. — Meneou a mão com desdém, arrancando uma risada sem humor de mim.
— O senhor é um monstro! — proferi aquelas palavras esperando uma carranca, mas o que recebi fora um sorriso perverso. — Pode até pensar, mas não sou uma pobre coitada e desesperada por sua atenção ou afeto. Sou uma mulher adulta e não irei permitir que infernize minha vida por estar se sentindo entediado, achando que sou uma de suas amantes para jogar fora como lixo. — Ele continuou com aquele sorriso perverso. — Irei esperá-lo na van. — Fiz uma reverência e saí daquela sala de cinema.
Nunca me senti tão patética quanto estava me sentindo naquele momento e se tivesse um buraco para me enterrar, assim o faria. Lidar com aquele homem era um infortúnio e quando decidiu ir para sua casa, fizemos o caminho em silêncio — o doce e agradável silêncio.
Aquele dia em questão estava fresco e ao adentrar o prédio da empresa, alguns funcionários me cumprimentaram cordialmente no saguão. Jang Hyun, do departamento de vendas, segurou as portas do elevador para que eu pudesse entrar sem mais transtornos. Fiz uma mesura de agradecimento, entrando no cubículo de metal.
Queria que aquele dia passasse voando e estava disposta a me esgueirar novamente pela empresa para evitar qualquer um dos chefes. As portas do elevador abriram na cobertura e vislumbrei a figura do secretário Kim enfiando papéis dentro de sua valise.
— Bom dia, secretário Kim — cumprimentei o mais velho, que se virou afobado. — Alerta laranja? — essa era a cor de algum compromisso urgente.
— Alerta marrom, na verdade — respondeu pegando mais outras pastas em cima da mesa.
— Viagem de última hora?
— Sim.
— O que houve?
— Ele acha que se não pegarmos o Mr. James desprevenido em sua viagem de férias em Bahamas, nunca conseguiremos o contrato internacional — secretário Kim soltou um suspiro cansado.
O presidente Ok tinha aquelas ideias do nada de encontrar seus contatos, então o secretário Kim tinha que correr para conseguir falar com o piloto do jatinho particular e organizar os pertences do presidente. O coitado estava com uma cara péssima e com certeza nem comeu direito.
Pus as coisas em cima da mesa e de dentro da bolsa tirei um sanduíche que guardei para o lanche. Tirando do plástico, enfiei o alimento na boca do secretário, que murmurou alguma coisa, mas mastigou sem reclamar. Não havia nada pior do que ser secretário daquele homem odioso e talvez o gordo salário e plano médico não valesse a pena com relação em ser um trabalho escravo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
MAUS
RomanceNão havia um ser na Terra que poderia competir com a maldade daqueles dois irmãos. Cruéis, sádicos e que se divertiam com a dor alheia, estando em um nível de poder elevado, usavam de tal poder para intimidação. Seus funcionários os temiam e não hav...