INTERLÚDIO - I: SANGUE E FOGO

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23: 45

QUINZE MINUTOS ANTES DO FIM

Fulô e Cris dançavam, junto à multidão que pulava embaixo de um pequeno palco que ficava na sala de estar. Deixavam que seus corpos simplesmente seguissem o ritmo da música, preocupando-se apenas em não deixar que as garrafas de cerveja lhes escapassem das mãos. Os cabelos de ambas grudavam no rosto suado, há muito já tinham tirado suas máscaras e agora permitiam-se simplesmente dançar, experimentando uma deliciosa e quase mística sensação de estarem totalmente conectadas à dança e a música, quase como se estivessem numa espécie de transe.

Fulô experimentava pela primeira vez em muito tempo, uma estranha sensação de felicidade, recordava-se há pouco da conversa que tivera:

- Olha Fulô – disse-lhe Cris em voz alta, inclinando para perto dos seus ouvidos para que pudesse ouvir – este é o senhor Junqueira, ele é o representante de uma rede de hotelaria pra quem a gente fez campanha esse ano! Ele disse que tinham uma vaga no setor e eu falei que você já era formada na área...

- Sério? Olá! Como vai!

- Prazer, a Cris me disse que você tem curso superior na Turismo, não é mesmo?!

- Sim, na verdade eu tenho também duas especializações e também publiquei alguns artigos...

- Escuta, você tem algum tipo de formação em hotelaria?

- Na verdade a minha dissertação foi sobre esse setor...

- Sério? Faz o seguinte... tá muito barulho aqui, pegue aqui o meu cartão e me ligue amanhã... tenho certeza que temos muito que conversar!

Mal podia acreditar! Meses desempregada e de repente...

- Sim... – disse ela totalmente surpresa – Claro, claro! Olha, muito, muito, muito obrigada mesmo!

- Que é isso, qualquer pessoa recomendada pela Camila vai ter um lugar na minha empresa! Ligue e marcaremos uma conversa, ok... agora...

Saiu, batendo aos encontrões com outras pessoas. Fulô olhou pra Cris surpresa:

- A Camila? A tua chefe? Ela me recomendou?

- Eu pedi um favor... ela só precisou dar um telefonema!

Era terrível imaginar que uma pessoa, com apenas um celular na mão, poderia decidir sobre o futuro de alguém que nem conhece com a mesma simplicidade com que se liga pra pedir uma pizza ou um fastfood. Mas o fato é que agora...

- Eu nem sei o que te dizer – disse Fulô engolindo seco – com o olhar agradecido e ao mesmo tempo envergonhado...

- Não precisa dizer nada, além disso eu não pediria se não soubesse que você ia dar conta!

Ficaram olhando-se em silêncio por quase um minuto e depois se abraçaram. Era como se duas amigas tivessem voltado a se encontrar depois de muito, muito tempo.

- Agora vamo cair na pista! – disse Cris.

- Demorou!

E de repente, o que parecia ter sido uma festa que não queria vir se transformou na noite que mudaria sua vida. Pensava nessas coisas enquanto dançava de olhos fechados, ciente de que Cris estava logo na sua frente quando...

- Cris? Cris cadê você?

Ela tinha sumido.

Fulô olhou ao redor, tentando encontra-la, observava por todos os lados, mas nada, até que a viu atrás do palco conversando com uma figura alta, que não estava fantasiada. Da distância que estava não podia reconhecer que era, mas pelo olhar dela, via que estava com problemas. Tentou vencer a multidão de gente que estava entre ela e os dois, quando percebeu o olhar da amiga mudando para uma expressão irritada, avançando até o homem que estava a sua frente e quase que imediatamente ele tinha ido embora.

FESTA DE HALLOWEEN - VOL. 1 DE PERDIDAS NUMA NOITE SUJAOnde histórias criam vida. Descubra agora