CAPÍTULO 2: LIKE A GOOD CHRISTIAN GIRL

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19:50

QUATRO HORAS E DEZ MINUTOS PARA O INÍCIO DO FIM


"Nossa, como ela fala! - pensava enquanto Cris vestia sua fantasia e começava a falar - Engraçado, eu ainda não disse a ela que meu verdadeiro nome é Fernanda. Na verdade, ela me contou quase tudo sobre a vida dela, mas ela não sabe nada sobre mim nem sobre minha família. Só sabe que a minha família é rica e que eu conheço o Israel e a Camila desde que éramos crianças. Eu podia contar agora, mas não sei porque ainda não quero contar... quer dizer... eu sei sim. Quero ver a cara dela e de todas as outras quando eu jogar toda a merda no ventilador essa noite."

Durante todos aqueles anos, tinha sido divertido para Fernanda ter uma espécie de outra identidade. Ser Samara lhe havia permitido ir a lugares e fazer coisas que nunca poderia fazer antes como Fernanda. Quer dizer, até que poderia fazer, mas lhe traria muita dor de cabeça e irritação não só com sua família, mas com os círculos sociais que fazem parte do seu mundo. Talvez devesse ser grata a Camila por ter lhe proporcionado aquela oportunidade, mas nos últimos anos, desde de que entraram naquela guerra particular uma com a outra, o trabalho havia ficado cansativo. Todo aquele estresse só havia aumentado vertiginosamente o ódio que sentiam uma pela outra. Durante os últimos anos Fernanda tinha esperado pela oportunidade de destruir Camila e a sua chance finalmente havia chegado.

Tudo iria acabar naquela mesma noite.

"Mas é tão cansativo. - pensava ela - Eu tô de saco cheio de tudo isso. Tá que vai ser divertido acabar com aquele 'traveco' e aquela merda de agência que ela tanto ama, mas ainda assim... isso cansa! Hah! E pensar que fui eu mesma quem fui entrar em toda essa confusão. Só de lembrar que..."

* *

Foi numa noite de fevereiro de 2004, numa quarta-feira de cinzas. Ela entrou no seu quarto, abriu o computador e viu aquele anúncio em sua caixa de e-mails dizendo que a Agência de Modelos e Propaganda Digital Sirens estava selecionando novas candidatas para modelo fotográfico e que não era preciso ter experiência.

Encostou a nuca no espaldar da cadeira e fechou os olhos. Ainda estava com os ombros e as costas ardendo e podia sentir o sol no seu rosto enquanto ouvia as vozes das amigas ao seu lado, o "tibum" dos "garotos" - como ela gostava de chamar a ala masculina do grupo - quando caíam na água:

"Vamos Fernanda!"

"Vem com a gente!"

Estava calor, mas também com preguiça de levantar-se e cair na água. Preferiu deixar-se estar ali, além disso, o fato de saber que estava atraindo olhares dos outros que a chamavam insistentemente para se juntar a eles lhe dava uma sensação interna de autossatisfação. Por trás da máscara de indiferença diante dos pedidos insistentes escondida naquele rosto silencioso, apenas coberto por um chapéu de palha de abas largas e pelos óculos de sol havia um júbilo interno aliada à uma sensação de liberdade.

Aquele era um dos raros momentos onde permanecia alienada de toda a pressão e cobranças que envolviam seu mundo.

"Querida, olha os modos" - dizia sua mãe

"Vamos filha, eu precisar que seja o princesinha do papai esta noite" - lhe dizia seu pai com um sotaque norte-americano que nunca havia perdido, mesmo depois de passar mais de vinte anos morando no Brasil.

FESTA DE HALLOWEEN - VOL. 1 DE PERDIDAS NUMA NOITE SUJAOnde histórias criam vida. Descubra agora