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DUAS HORAS E TRINTA E CINCO MINUTOS PARA O INÍCIO DO FIM
Sua mente voltava agora ao presente, focando nas coisas que a amiga lhe dizia sobre Israel. Seu passado, detalhes da sua personalidade, e, enquanto continuava, ela não deixou de achar curioso o contraste entre aquele cara e o homem que ela conhecera quando foi na agência pela primeira vez.
Como eram diferentes!
* *
20 de maio de 2007
Quatro meses e onze dias para o início do fim
- Olá, bom dia!
- Bom dia!
- Desculpe eu fui convidada pelo senhor Israel Silveira Maciel. Acho que tenho hora marcada.
- Ah, deixa eu ver... ah sim! Entre por favor!
A sala estava tão fria que lhe lembrou um consultório médico. Era uma sala grande, pintada de cores claras e enormes fotografias em preto e branco exibindo homens e mulheres nus. Uma rápida olhada foi o suficiente para fazê-la perceber que a posição dos corpos dos modelos estava de tal forma que as partes íntimas não ficavam à mostra, mas parecia-lhe que poderiam aparecer à qualquer momento. Era como se estivesse invadido o sonho de outra pessoa.
Israel estava sentado atrás da sua mesa de vidro ao telefone em frente uma enorme tela do computador. Reparou como nem o teclado, nem o mouse tinham fios. Ele usava uma blusa social branca que tinha riscos escuros na vertical, com mangas longas, mas tinham sido dobradas até os cotovelos. Mesmo sentado ainda podia ver a calça preta e o sapato social. Ela pensou que a única coisa que faltava para aquilo ser mesmo um consultório médico era que ele estivesse usando um jaleco e um estetoscópio no pescoço. Olhando assim, era bem diferente do esportista que vinha todas as tardes à academia onde ela trabalhava e soltava-lhe gracejos.
Ele tinha um olhar ainda jovem, talvez ainda não tivesse trinta anos. O cabelo loiro e bem cortado, não se lembrava de algum dia ter aparecido sem fazer a barba, a pele clara e um sorriso de comercial de produtos esportivos.
Curiosamente, até aquele dia, ele mal o tinha falado por muito tempo. Entrava e saía da academia sempre olhando o relógio, como se sempre estivesse atrasado. Lembrava-se de uma vez, após o trabalho, quando chegou em casa já tarde da noite e ligou a televisão. Estavam reprisando a animação de Alice no País das Maravilhas. Começou a assistir exatamente na parte onde o Coelho passava por Alice olhando para o relógio e correndo rumo ao buraco onde a garota cairia em direção ao País das Maravilhas. Desde então, sempre que o vira, lembrava-se do Coelho branco e passou a chama-lo assim para si mesma e para sua amiga com quem dividia a casa onde morava. No entanto, por alguma razão que ela não fazia ideia, naquele dia, o Coelho Branco resolveu parar para falar mais que um "oi", "bom dia" ou algum flerte casual. Ela sorria e tentava esforçar-se para se desvencilhar da insistência dele, mas ele não desistia.
- Nossa você tem um sorriso lindo, sabia?
- Sabia! – dizia sorrindo – agora pode por favor desocupar a entrada pros outros também poderem entrar?
- Você já trabalhou como modelo antes?
- Depois do photoshop e das redes sociais todo mundo agora é modelo, você devia saber!
- Estou falando sério! Por que você não vem trabalhar pra mim? Tenho uma agência de Modelo-e-Propaganda. Você devia fazer um teste com a gente. Aposto que você ia se dar muito bem.
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FESTA DE HALLOWEEN - VOL. 1 DE PERDIDAS NUMA NOITE SUJA
Mystery / ThrillerO Ano é 2007. Uma festa de halloween numa mansão à beira da Praia. Nela estão as maiores personalidades da cidade e algumas das maiores personalidades do País. Todos ali comemoram o sucesso da Agência de Modelo e Propaganda Digital, "Digital Sirens"...