Horas mais tarde, quando já o manto estrelado bordava o céu noturno...
Vestida em trajes esplendorosos, mais bela do que as estrelas na abóbada celeste, Selene apressava-se. Naquela noite excepcional, sua beleza era um reflexo da felicidade que alcançara, um auge resplandecente em sua jornada.
-Tem certeza de que não desejas me acompanhar, Elara? - Questiona, com uma ponta de insegurança, dirigindo-se à sua amiga e confidente.
-Ora, Selene, estou certa de que triunfarás sem minha sombra a seguir-te.
-Não, Elara, não estarei bem sem ti. Sabes que em tua presença encontro segurança; apenas tu conheces verdadeiramente meu ser, minhas fraquezas.
-Selene, deixe de ser tão frágil. Quando retornar, aqui estarei, aguardando-te com a mesma lealdade de sempre. - As duas se abraçam com força, sorrindo uma para a outra.
-Obrigada por tudo, Elara. - Expressa Selene, emocionada.
Em seguida, atravessa a porta em direção ao jantar oferecido pelo rei de Valória, deixando para trás sua confidente, cuja presença se torna um farol de conforto na vastidão do castelo.
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Selene
Ao adentrar os portões majestosos do palácio real de Valória, surpreendo-me com a recepção calorosa dos nobres reis. A cortesia deles é como uma doce melodia, permeando o salão com gentileza e cordialidade. Contudo, é ao vislumbrar Alden que meu coração, qual harpa tocada pelo vento suave, ressoa em acordes de expectativa e amor.
No banquete que se desenrola, a atmosfera é serena e jubilante. O rei, empenhado na forja de alianças, anseia por um pacto que una os destinos de nossos reinos, enquanto em seu olhar reluz o desejo por uma união matrimonial entre Alden e eu.
-Avancemos, Selene, na união da minha produção de lã à habilidade de teus súditos na plantação. Empenhemo-nos, também, em ampliar a exploração das tuas minas de diamantes. Que essa aliança seja como um fio de ouro entrelaçado, tecendo prosperidade entre nossos reinos, unindo o suave toque da lã à riqueza oculta nas entranhas da terra.- Exclamava o rei com entusiasmo, sua voz ecoando como um trovão em meio às muralhas do castelo.
O jantar, como uma tapeçaria de esperanças, desdobra-se, e o brilho dos candelabros reflete a promessa silenciosa que trocamos, carregada de juras eternas e amor por vir.
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Ao retornar ao lar, Selene contava os minutos, ansiando chegar ao castelo e compartilhar os eventos do dia com Elara. Entretanto, ao adentrar, uma cena de desordem e caos a recebe, despertando temor imediato. Aflita, corre para o quarto de Elara, chamando por ela, mas encontra apenas o vazio, a ausência da amiga lhe acometendo com temor.
Ao retornar à sala, depara-se com a cozinheira, cujo olhar aflito fala volumes. A mulher se aproxima rapidamente.
-Senhora, levaram Elara. - As palavras, como flechas, atingem Selene, dolorosas e amedrontadoras.
-Quem ousou perpetrar tal afronta? Diga-me agora, e seguirei atrás desse infeliz. - Questiona, tomada pela ira.
-Senhora... Foram os guardas do rei. Vasculharam o quarto de Senhorita Elara, encontraram seu diário e deduziram que era de bruxaria. Os inquisidores condenaram-na, alegando que seus cabelos de fogo eram obra do diabo, destinados a seduzir homens. - A cozinheira relata, pausando para conter a agitação. - Ela será decapitada esta noite em praça pública. Por favor, senhora, salve-a.
Uma dor penetrante aperta o coração de Selene. O medo de perder Elara momentaneamente a deixa cega. No instante seguinte, ela corre até o salão subterrâneo e emerge minutos depois, vestida de negro, com a seiva de sombravéu adornando seu rosto. Suas armas repousam no cinto preso ao vestido, prontas para a jornada que se desenha sombria diante dela.
Ao galope veloz de Ébano, Selene adentra as profundezas da floresta, buscando alcançar Valória e resgatar sua amiga Elara da cruel guilhotina. Por fim, quando chega à praça do reino, testemunha uma cena que a dilacera por dentro. Diante de seus olhos, jaz o corpo sem vida de Elara, a cabeça já separada do pescoço, e o sangue escorrendo livremente. Incapaz de aceitar a realidade que se desenha diante dela, Selene entra em estado de choque, seu coração dilacerado e um desespero profundo a envolvendo como a escuridão que se abate sobre uma noite sem estrelas.
"OBSCURUM UMBRAL DISSIMULATUM, OCULI VIDENTES ME TENEBRESCERE,"
Ao sussurro das palavras mágicas, lá se materializa ela, oculta aos olhares curiosos. Com presteza, atravessa o espaço até o corpo inerte da amiga. Ao confirmar a trágica veracidade, um grito sufocado de agonia escapa-lhe, ecoando por todo o reino de Valória, como uma lamentação que se prolonga pela noite adentro.
-Vejam, era uma bruxa de grande poder, pois sua alma ainda nos atormenta mesmo após a morte. - Murmuram os habitantes do reino. Ignorantes do fato de que a ira de uma bruxa poderosa ainda ecoa sobre todo o reino, viva em sua fúria além dos confins da vida.
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Duquesa de Umbrafell ( Primeiro Livro da Duologia FILHA DA ESCURIDÃO)
RomanceQuando ao invés da princesa, o príncipe se apaixona pela bruxa...