⚜️Capítulo 15⚜️

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Na alvorada daquela manhã, o rei Cedric recebe entre suas mãos um presente sublime, cujo peso sugere o ouro reluzente ou talvez uma joia adornada com pedras raras. Animado e ansioso, apressa-se para seus aposentos, desejoso de desvendar o que a caixa esconde, afastando-se do escrutínio alheio. Ao desvendar o presente, o rei experimenta um instante de paralisia, seu olhar transbordando de temor diante do conteúdo revelado, antes de sucumbir desfalecido.

A princesa adentra o recinto e, ao deparar-se com seu pai prostrado no chão, é tomada pelo assombro. Contudo, é somente ao vislumbrar o que repousa ao lado do monarca desfalecido que compreende a razão de seu desmaio. Dentro da caixa, um coração, semelhante ao humano, pulsa ainda, coberto em sangue, ao lado de uma carta que proclama:

"O vindouro serás tu."

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Alden

Há luas que não cruzo com Selene, tentativas de me achegar a ela findam em fracasso. Nos primeiros crepúsculos, contornei as muralhas de seu castelo, mas me informaram que agora habita nos salões do palácio real. Busquei visitá-la no novo lar, mas os guardas vedaram minha passagem. Nem na floresta a encontrei mais, nem nos jardins da venerável Eleanor Hawthorn, e pela feira de Solhaven, também não divisei sua presença. Ela parece ter escapado inteiramente de meus braços e da trama de minha existência.

O rei Cedric, em seu anseio, tentou restabelecer nosso acordo, ansiava que a princesa Genevieve unisse-se a mim em matrimônio, tornando-se minha rainha. Contudo, jamais me permitiria unir-me a qualquer alma, enquanto nutrisse os sentimentos que alimento por Selene.

Neste dia, serei coroado soberano de Valória, e fui notificado de que também Selene receberá a coroa. Antes do crepúsculo, um pequeno presente me foi entregue, o destinatário velado em mistério. Ao desembrulhar o presente, deparei-me com um relicário, onde um diminuto sol se funde a uma minguante lua, cravejados em ouro e pedras preciosas. Não careci de muito ponderar para perceber que ela ainda me tinha em sua memória e pensamentos.

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Selene

Perante o espelho, contemplo o suntuoso vestido negro, ricamente entrelaçado em fios de ouro e adornado com diamantes cintilantes. Sua beleza é inquestionável, entretanto, não encontro conforto em tamanho esplendor. A costureira da corte, com suas súplicas, insistiu que assim deveria ser, e, por fim, minha resistência cedeu ao capricho real.

-Senhora, estais pronta? - Indaga Evangeline, minha recém-adquirida dama de companhia. - Ai de mim, como estais esplêndida! - Exclama com os olhos resplandecendo em entusiasmo.

-Agradeço, Evangeline. - Respondo com cortesia e graça.

Há apenas dois sóis desde a chegada de Evangeline ao palácio, e foi contrariando os desejos de meu coração que ela se tornou minha dama de companhia. Jamais permitiria que alguém ocupasse o posto outrora pertencente a Elara. Ainda que tenha acatado a presença de uma nova dama de companhia, jamais aceitaria substituir a posição de minha melhor amiga, pois Elara seria única em meu caminho.

-Senhora, alguém trouxe uma missiva para vós. - Anuncia Evangeline, aproximando-se com reverência.

Aceito a carta de suas mãos com graciosidade, desdobrando-a com uma hesitação que ecoa pela sala, pois nenhum remetente se revela. Enquanto meus olhos percorrem as palavras entrelaçadas, meu coração agita-se como folhas ao vento e minhas mãos, antes serenas, tornam-se prisioneiras de uma ansiedade inesperada.

Minha Amada Selene, Que esta carta encontre-te bem em teu reino de sombras, onde a lua reflete a beleza que habita em teu ser. Nestes dias em que o destino nos mantém afastados, sinto a tua ausência como uma escuridão que encobre meu coração. As horas passam lentas, e a distância que nos separa parece esticar-se como uma sombra interminável. Contudo, mesmo na penumbra da incerteza, a luz de tua lembrança ilumina cada canto de meu ser. Cada estrela que adorna o céu parece sussurrar teu nome, e o vento, mensageiro fiel, carrega contigo o perfume de nossos momentos compartilhados. Selene, és minha musa, minha inspiração, e em breve, serás a rainha soberana de Sombrestia. Que honra será governar ao lado de alguém tão intrinsecamente ligada à noite como a lua ao firmamento. Pois, assim como a lua guia os viajantes noturnos, tu guiarás teu povo com sabedoria e compaixão. Ainda que as circunstâncias nos mantenham separados, meu amor por ti não conhece barreiras. Tu és a lua que ilumina minhas noites escuras, a esperança que persiste em meu coração. Mesmo quando as estrelas se perdem no manto negro do céu, sei que nossa ligação transcende o tempo e a distância. Prometo-te, Selene, que mesmo com a coroa pesando sobre minha cabeça como futura realeza de Valória, jamais esquecerei a promessa que fizemos um ao outro. Ainda que governemos reinos distintos, nossos corações serão um só, como a lua que paira sobre nós, testemunha silenciosa de nosso eterno amor. Que esta carta alcance-te como uma suave brisa noturna, carregada de suspiros de saudades e juras eternas. Estou ansioso pelo dia em que, finalmente, as estrelas nos permitirão encontrar-nos novamente. Com todo meu amor, Alden

Encerro a decifração da epístola, com lágrimas nos olhos, certa de que meu coração jamais desvanecerá a lembrança de Alden, a única luz que consegui lançar sobre minha própria escuridão. Cada palavra entrelaçada na carta é como uma melodia antiga que ecoa na câmara do meu ser, ressoando a promessa feita sob o manto de estrelas distantes.

As lágrimas que deslizam por minhas faces são testemunhas silenciosas de um amor que persiste, resistente às vicissitudes que a vida nos impõe. Alden, o príncipe que se tornará rei, permanece como a constante em meu coração, a luz que guia meu caminho através da noite eterna que se estende diante de mim.

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As sombras dançavam ao ritmo solene da noite, enquanto os cidadãos de Sombrestia aguardavam com expectativa o momento que mudaria os destinos de seu reino. O grande salão do castelo real estava adornado com veludos negros e ornamentos prateados, refletindo a elegância e a austeridade da ocasião. Sob o cintilar de velas, a figura imponente de Selene Shadowthorn se erguia, trajando um manto negro que ondulava como as sombras noturnas.

Ao som dos tambores e da melodia suave de uma harpa, Selene avançou em direção ao trono, onde a aguardava a coroa real. Seus olhos, profundos como a noite, brilhavam com a responsabilidade que se aproximava. Os murmúrios da multidão ecoavam como um murmúrio distante, celebrando a ascensão daquela que se tornaria sua soberana.

Sir Tristan Ferre, agora, o leal conselheiro, ergueu a coroa, feita de obsidiana e decorada com gemas sombrias. Com uma reverência respeitosa, ele a colocou sobre os cabelos escuros de Selene. À medida que a coroa se assentava, um raio de lua atravessou uma janela, iluminando a recém-corada rainha. Era como se a própria noite reconhecesse sua nova governante.

Selene ergueu a mão, silenciando a multidão. Seu discurso ressoou no salão, prometendo justiça, proteção e prosperidade para Sombrestia. As palavras, impregnadas de determinação, ecoaram nas paredes de pedra, alimentando as esperanças daqueles que a aclamavam.

Assim, Selene Shadowthorn foi coroada, não apenas como rainha de Sombrestia, mas como uma guardiã das sombras, destinada a guiar seu reino pelas noites vindouras. As sombras testemunharam a ascensão de sua nova monarca, e o reino aguardava, sob sua régia sombra, um futuro moldado por sua liderança.

No crepúsculo da trama, desenhou-se o término, um ponto final no pergaminho do destino. Alcançamos o epílogo desta narrativa, contudo, quiçá seja o limiar de uma jornada inexplorada...

Duquesa de Umbrafell ( Primeiro Livro da Duologia FILHA DA ESCURIDÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora