⚜️Capítulo 3⚜️

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Diante da cama do rei enfermo, o príncipe Alden caminha de um lado ao outro do grande aposento real, sua expressão de decepção só não é maior que a de aborrecimento que brota no semblante do velho nobre. O príncipe não aceita os métodos de liderança do pai e o questiona com frequência, tornando a convivência entre ambos, cada vez mais difícil.

- Eu jamais faria o que o senhor costuma fazer com essas pobres mulheres! Não acredito que insiste em continuar ordenando tais atrocidades, só para agradar o santo padre!

- Ordeno e continuarei ordenando! Estou doente, preciso garantir minha salvação, agradar o santo padre me garantirá isto! E você seu insolente, não ouse me contrariar, tampouco atrapalhar meus planos! Preciso que cresça e amadureça, logo este trono e esta coroa serão seus!

- Quando este dia chegar meu pai, tudo por aqui será diferente!

Um olhar de incredulidade surge no semblante do nobre que se torna enrubescido de raiva logo em seguida. Um acesso de tosse toma conta do velho senhor prostrado a cama, e o semblante antes enrubescido pela ira, torna-se pálido e agonizante. A rainha mais que depressa sai das sombras, de onde observara tudo desde o início do embate entre o esposo e o filho, com um copo de água e um frasco de seiva de raízes indicado pelo boticário do reino, ela o alcança e a muito custo consegue controlar a situação, enquanto o príncipe, aproveitando-se do momento de distração da mãe, decide por escapar do ambiente de estrema toxidade.

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Selene

Com um pouco mais de seiva da raiz da Sombravéu noturna, lá estava eu, totalmente irreconhecível aos olhos de quem quer que me visse. As roupas de plebeia me caiam muito bem, complementando meu disfarce com perfeição. O tecido áspero e desgastado, tingido pelos tons da terra, ocultava minha verdadeira identidade enquanto eu me movia pelas ruas estreitas do vilarejo.

A sombravéu noturna era uma planta rara de folhas acinzentadas, encontrada apenas na parte mais sombria da floresta, revelando-se ao anoitecer, quando suas flores lançavam um brilho mágico à escuridão. Sua toxidade a tornava um desafio para qualquer feiticeira, exigindo grande destreza para manipular suas propriedades sem sofrer desfigurações. A seiva da sombravéu, uma poção ancestral quase milenar, prometia resultados perfeitos, sem históricos de infortúnios, mas apresentava um dilema: quem a utilizasse seria invariavelmente reconhecido por alguém que a amasse verdadeiramente.

Nas noites de lua nova, quando a obscuridade se intensifica, embarco numa jornada pela floresta densa, ansiando por colher plantas e raízes na proximidade do feudo de Nigra; onde a vegetação, por alguma razão, é impregnada de uma magia intrigante. Meus passos apressados ecoam na escuridão enquanto avanço pela floresta encantada, até que finalmente alcanço os limites do feudo de Nigra. Um olhar imponente é suficiente para que os guardas a serviço de Don Vittorio concedam-me permissão para adentrar.

-Ah, o que a nobre Duquesa de Umbrafell faz aqui em minhas terras? - Ecoa a voz jocosa do meu velho amigo assim que adentro a sua modesta morada.

-Me reconheceu mesmo estando disfarçada? - Pergunto, surpresa. - Será que o Pássaro de Ferro está apaixonado por mim? - Brinco com um tom de deboche.

Uma sonora gargalhada escapa de seus lábios, preenchendo todo o ambiente, criando um clima ameno e familiar após tantas semanas sem nos vermos.

-O que a traz aqui? - Questiona Don Vittorio enquanto me acomodo em um banquinho junto à porta, repousando meu cesto no chão da velha cabana.

Duquesa de Umbrafell ( Primeiro Livro da Duologia FILHA DA ESCURIDÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora