Após ouvir sobre todo o ocorrido, enquanto remendava o buraco que eu mesma fiz no jovem Galahad, sento-me diante dos rapazes incrédula. - Oque diabos o Vittorio foi fazer dentro das terras do castelo do rei de Valória? - Não sabemos senhor, mas ouvimos falar que ele tentava roubar uma joia trazida pelo rei Cedric de Thorn. Em questão de minutos adentro meus aposentos e saio trajando um vestido negro e uma longa capa escura com capuz, apanho a besta e o saco com as flechas que repousavam em uma cadeira e saio pela porta.
Ao deixar os imponentes portões do castelo para trás, percebo murmúrios e passos que ecoam por entre as árvores da densa floresta. Ergo minha besta, pronta para enfrentar qualquer desafio que possa surgir. Subitamente, sou confrontada pelos homens a serviço de Don Vittorio, os quais, em sua imprudência, permaneceram à espreita. Dirijo-lhes um olhar incisivo, enquanto minhas mãos habilmente seguram a besta, indicando minha prontidão para a batalha iminente.
- Ao que parece, a lição proporcionada pelo destino de vosso companheiro não foi devidamente aprendida. - Minha voz ressoa com severidade, ecoando entre as árvores.
Diante de mim, rostos perturbados revelam o temor daqueles que desafiaram minha autoridade. Um dos homens, buscando justificar-se, ousa sugerir que também busquem Don Vittorio. Contudo, rechaço tal proposta com firmeza.
- Não! Entrarei sozinha nas masmorras do castelo. Fiquem de guarda na entrada da floresta, e aguardem-me. - Imponho minha decisão com autoridade, desconsiderando quaisquer protestos que possam surgir.
Percebendo a tensão no rosto do jovem rapaz, vejo-o recuar, acatando a ordem com uma expressão envergonhada. O silêncio da floresta é rompido pelo som de suas botas afastando-se, enquanto eu me preparo para enfrentar os desafios que aguardam nas profundezas do castelo. Monto no leal corcel Ébano e, com destemida velocidade, atravesso a espessa escuridão da floresta. Ao alcançar os domínios do reino, atento-me para não chamar a atenção de olhares indiscretos. Cuido para que minha chegada seja discreta e desapercebida.
Estaciono o fiel Ébano próximo ao pátio do majestoso castelo, murmurando palavras sábias e antigas que envolvem meu cavalo em um véu de invisibilidade. Dessa forma, busco assegurar-me de que nenhuma alma curiosa testemunhe minha presença. Com passos cautelosos, adentro os domínios do castelo, onde sombras dançam nas paredes de pedra. Pronuncio as palavras certas antes de completar minha difícil missão.
"OBSCURUM UMBRAL DISSIMULATUM, OCULI VIDENTES ME TENEBRESCERE,"
Em breves instantes, torno-me completamente invisível aos olhos de qualquer observador. Com cautela, adentro os imponentes portões do castelo e prossigo em direção às profundezas das masmorras. Após uma jornada cuidadosa, deparo-me com Vittório, confinado em uma cela suja e impregnada pelo manto da poeira.
Sem grande esforço, manipulo as fechaduras que guardam o pássaro aprisionado, desvendando o ambiente repleto de um incômodo odor de mofo.
-Quem está aí? - Seguro o riso ao contemplar seu semblante apavorado, enquanto a porta se abre misteriosamente, sem revelar a presença de ninguém do lado de fora.
- Ora, ora, vejam só, o grandioso Pássaro de Ferro está apavorado, temendo a presença de um espectro! - Debocho, soltando uma risada descontraída em seguida. - Selene! Pare de falar e me tire logo daqui! - As palavras de Don Vittorio soam ansiosas.
- Eu o libertarei, mas deverá me explicar o que tinha na cabeça para tentar roubar o palácio sob os olhares de dois reis! - Desafio-o, encarando-o com firmeza.
- Isso não é da sua conta, menina! - Ele retruca com arrogância.
- É o que veremos, Don Vittorio! É o que veremos!
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Duquesa de Umbrafell ( Primeiro Livro da Duologia FILHA DA ESCURIDÃO)
RomanceQuando ao invés da princesa, o príncipe se apaixona pela bruxa...