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No céu, nuvens carregadas se aglomeravam, formando um manto escuro que sufocava a luz das estrelas. Sussurros de trovões, como grunhidos de um gigante adormecido, ecoavam ao longe, prenuncio da tempestade que se aproximava. O ar, antes fresco e revigorante, tornava-se pesado e úmido, carregado de uma eletricidade palpável.
Imerso em seus pensamentos, Jonathan Blackwell permanecia afundado em uma poltrona de couro, seus pés descansando sobre a mesa oval de vidro à sua frente. Seus olhos observavam as chamas crepitantes na lareira imensa de mármore negro, um vermelho hipnotizante que o prendia em seu transe.
Com calma, ele saboreava um gole de uísque quando um relâmpago iluminou a sala como um clarão efêmero.
Erguendo-se ligeiramente, sem tirar os olhos do fogo, seu olhar se perdia em um vazio pensativo.
O telefone tocou insistentemente pela quinta vez. Jonathan girou a cabeça devagar, fixando os olhos no aparelho sobre a mesinha ao lado da poltrona. Não tinha vontade de falar com ninguém, principalmente àquela hora da noite. O toque persistiu ainda por mais algumas vezes antes de finalmente cair na secretária eletrônica.
"Ei John, faz tempo que a gente não se fala", a voz de Alexander soou abafada, seguida de um chiado irritante. "Tava pensando em te visitar, já que vou estar em Seattle por uns dias para um seminário no Benaroya Hall. Acho que você vai adorar conhecer nossa princesinha, a Ava. Bom, é isso aí... enfim, me liga." Com desdém, ele desligou a mensagem, colocando o copo de uísque pela metade ao lado do telefone.
Desde a morte do pai, alguns anos atrás, Jonathan não tinha contato com Alexander. A mensagem o pegou de surpresa, pois considerava o irmão imaturo, alguém que só queria se aventurar pelo mundo em vez de ajudar nos negócios da família.
Ele colocou o copo vazio na mesinha de centro de madeira rústica. Exagerou no uísque, droga. Sentia os efeitos em seu corpo. Passou os dedos pelos cabelos negros, inspirou fundo e soltou o ar devagar.
Os ponteiros do relógio já marcavam dez para as duas da madrugada. Jonathan se levantou, cambaleando levemente devido aos copos de uísque. Antes de fechar a porta, percorreu o ambiente com os olhos cansados, suspirou, balançou a cabeça e bateu a porta com força.
Alexander sempre fora o favorito da mãe. O irmão mais novo era como um ímã, atraindo a atenção de todos com seu carisma. Ele sempre estava por dentro de tudo, mesmo que superficialmente, e falava sobre qualquer assunto com desenvoltura.
Jonathan era o oposto. Reservado, pensava duas vezes antes de falar e se aprofundava ao máximo nos assuntos que lhe interessavam. Tinha sede por conhecimento e, ainda mais, por reconhecimento do pai. Mergulhava nos livros de economia, buscando incansavelmente a aprovação paterna. Era um típico Blackwell em busca de aplausos.
Quando finalmente adormeceu, Jonathan teve pesadelos envolvendo seu pai e irmão, algo que não acontecia há muito tempo.
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A reunião daquela terça-feira, marcada para terminar pontualmente às dez, não seguiu o roteiro planejado. Tudo desandou, frustrando as expectativas e resultando em um prejuízo colossal: milhares de dólares em cotas de uma empresa que, ironicamente, despencou em queda livre apenas meia hora após a compra.
Descontente com o revés, Jonathan Blackwell fechou os olhos, buscando refúgio na quietude de sua mente. Respirou fundo, inspirando e expirando lentamente, tentando relaxar os músculos tensos que traíam sua frustração. As lembranças da reunião falida pairavam como fantasmas em sua mente, insistindo em perturbá-lo.
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O Blackwell
RomanceJonathan Blackwell, um empresário de boa aparência e humor péssimo, recebe a devastadora notícia da morte de seu único irmão e sua esposa em um acidente de carro. Para piorar, a única filha do casal, uma criança de seis anos, pode ser entregue à gua...