O Blackwell

17.

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Aquela segunda-feira despontou fria e chuvosa, como um espelho da angústia que tomava conta de Samantha. Recolhida no conforto do sofá de sua sala, ela folheava uma velha revista de quase três semanas, buscando distração em meio à tempestade de pensamentos que a assolava.

Seus olhos percorriam as páginas coloridas com uma calma aparente, que contrastava com a agitação interna que a consumia.

De repente, uma matéria específica capturou sua atenção: a cobertura da semana de moda em Milão. Ao franzir o cenho, Samantha avistou a foto de uma loura segurando alguns desenhos, que a lembrava estranhamente da noiva de Blackwell.

Com cautela, ela leu a matéria, virando as páginas com uma mistura de curiosidade e apreensão. E então, seus olhos se depararam com um nome que a fez gelar: Hannah Hearst, a estilista responsável pelas criações.

Um calafrio percorreu o corpo de Samantha, deixando-a desconcertada. A conexão entre a foto e o nome da estilista era inegável, e uma onda de dúvidas e questionamentos a invadiu. Fechou rapidamente a revista e a colocou sobre a mesa, fechando os olhos por um momento, tentando conter a inquietação que a dominava.

Decidida a não se deixar abalar por algo que, em sua mente, não interferiria em sua vida, Samantha julgou tudo como bobagem e suspirou, afundando no sofá. Mas a semente da dúvida havia sido plantada, e a imagem da foto continuava a assombrá-la.

O som da porta abrindo a tirou de seus pensamentos. Samantha abriu os olhos e virou-se para ver quem havia chegado. Para seu alívio, era apenas seu advogado, sempre atrasado e carregando uma pilha de documentos.

— Senhorita Brooks, bom dia — cumprimentou ele, estendendo a mão para ela, que a segurou prontamente. — Peço desculpas por tê-la feito esperar tanto.

O rosto de Samantha revelou um sorriso forçado, balançando a cabeça negativamente em sinal de compreensão. A tensão que a consumia momentaneamente se amenizou com a presença do advogado, mas a inquietude ainda pairava em seu interior.

— Se puder me acompanhar, gostaria de mostrar algumas cláusulas que incluirei na petição do acordo — anunciou ele, guiando-a pelo corredor decorado com quadros abstratos.

Samantha seguiu-o em silêncio, seus olhos observando a chuva fina que caía lá fora. O som das gotas batendo nas janelas criava uma atmosfera melancólica que ecoava em seu interior, refletindo o turbilhão de emoções que a dominava.

Enquanto caminhavam, o advogado explicava detalhadamente as cláusulas do acordo, destacando os pontos mais relevantes e as implicações de cada um. Ele era meticuloso em suas explicações, garantindo que Samantha entendesse plenamente o que estava sendo proposto.

A jovem ouvia atentamente, absorvendo cada informação com seriedade. Seus olhos percorriam os quadros nas paredes, buscando algum significado oculto nas formas e cores abstratas. A sensação de estar envolvida em um ambiente peculiar instigava sua imaginação, despertando uma curiosidade que a fazia questionar a própria essência da arte.

Finalmente, chegaram à sala onde discutiriam os detalhes do acordo. O advogado indicou uma cadeira para Samantha e sentou-se em sua poltrona, estabelecendo uma atmosfera de respeito e formalidade.

— A princípio, estranhei sua mensagem na minha caixa postal e por isso te liguei. Você está realmente disposta a morar na mansão do Blackwell? Foi uma decisão sua ou teve alguma influência? — questionou ele, deixando Samantha confusa com tantas perguntas.

Ela respirou fundo antes de responder, buscando clareza em suas palavras.

— Preferi evitar o tribunal, pois a saúde da minha sobrinha é mais importante. — explicou ela, expressando sua decisão com firmeza e preocupação pela saúde de Ava.