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A noite se arrastava como um pesadelo interminável para Jonathan. As memórias amargas latejavam em sua mente como feridas abertas, impedindo-o de encontrar o sono reparador. Hannah, ao seu lado, dormia profundamente, alheia à tempestade que se desenrolava em seu interior. A luz da aurora se insinuava pela fresta da janela, anunciando o fim da escuridão e o início de um novo dia.
Era hora de Jonathan retomar o controle da própria vida, de ressurgir das cinzas e se tornar o homem que ele outrora foi. Voltar ao trabalho era o primeiro passo nesse árduo caminho, a primeira fagulha para reacender a chama da sua força interior.
Sentado na cama, curvando-se sob o peso das suas aflições, Jonathan soltou um suspiro profundo que carregava consigo o fardo de suas dores. Ergueu a cabeça, os olhos marejados, e coçou-os com força, como se quisesse apagar as imagens que o assombravam.
Precisava se levantar, enfrentar os desafios que o aguardavam com bravura e determinação. No fundo de sua alma, ele sabia que a jornada seria árdua, mas também nutria a convicção de que nada era impossível para um Blackwell.
Com movimentos cautelosos para não perturbar o sono de Hannah, Jonathan se levantou da cama. Observou-a por alguns instantes, enquanto ela permanecia adormecida, enrolada nos lençóis como uma boneca de porcelana.
Havia algo nela que o fascinava, uma força interior que a impulsionava a seguir em frente, mesmo diante das adversidades da vida. Hannah cometera seus erros, sim, mas jamais se deixava abater ou demonstrava fraqueza. Ela sempre tinha um plano na manga, uma carta na manga, pronta para ser utilizada no momento certo.
Jonathan admirava sua resiliência e sua capacidade de lidar com as disputas que permeavam o mundo da moda, um ambiente implacável onde a competitividade era regra.
Enquanto contemplava a figura serena de Hannah, a imagem de sua nova inimiga surgiu em sua mente: Samantha Brooks. A mulher que ousara duvidar de sua capacidade de cuidar de uma criança. Talvez ela estivesse certa, mas Jonathan jamais permitiria que ela soubesse disso. Ele não se permitiria sucumbir à derrota, nem mesmo diante daqueles que o subestimavam.
Levantou-se da cama com determinação e caminhou até a janela, buscando na brisa fresca da manhã um alento para seus pensamentos confusos.
De repente, o toque abafado do celular o tirou de seus devaneios. Com o coração batendo acelerado, Jonathan se aproximou do criado-mudo e atendeu a ligação.
— Bom dia, senhor Blackwell. Peço desculpas por incomodá-lo tão cedo, mas o senhor Lawrence convocou uma reunião urgente com os presidentes da Petrolífera Charlottetown Ville para esta manhã. Fui informada de que o senhor deve estar presente por exigência do presidente sênior da empresa — disse a voz tensa da secretária.
— Já estou a caminho — respondeu ele com firmeza, contendo a raiva que subia em seu peito.
— Há algo que eu possa providenciar para a reunião, senhor Blackwell? — perguntou a secretária educadamente.
— Não é necessário, senhorita Miller. Apenas avise ao Adam que estou chegando — instruiu Jonathan, tentando manter a calma.
Um breve silêncio se instalou antes da secretária retomar a fala.
— O senhor Lawrence não estará presente na reunião de hoje — informou ela, surpreendendo-o.
— Como assim? — exclamou Jonathan, elevando a voz sem perceber, fazendo com que Hannah se mexesse na cama, incomodada pelo tom exaltado de sua fala.
— Fui informada de que houve um incidente em uma de nossas filiais em Toronto e o senhor Lawrence teve que viajar às pressas para resolver a situação — explicou a secretária.
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O Blackwell
RomanceJonathan Blackwell, um empresário de boa aparência e humor péssimo, recebe a devastadora notícia da morte de seu único irmão e sua esposa em um acidente de carro. Para piorar, a única filha do casal, uma criança de seis anos, pode ser entregue à gua...