Tente Não Amarelar

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- Eles não podem ficar juntos, é perigoso pros dois. Entenda isso Anna.

- Hades, por favor, não o leve. Como Nathalie vai ficar?

- Ela é muito pequena, não vai se lembrar disso. Juro, vou cuidar dele. Um dia eles se encontrarão novamente.

Desci os degraus da escada de um por um para não tropeçar nas pantufas de cachorrinho. Eu tinha voltado a ter dois anos de idade? Aquilo era algum tipo de memória? Empurrei a porta e esfreguei os olhos para afastar o sono.

- Mamãe? - perguntei, minha voz era infantil e sonolenta.

Minha mãe, Anna, se virou para mim e em seguida para meu pai. Ela caminhou até mim e me levantou em seus braços, me balançando para que eu voltasse a dormir.

- Está bem... - minha mãe disse com dificuldade. - Leve-o...

Hades assentiu e começou a sair da casa. Escutei um pequeno choro de bebê que foi sumindo gradativamente quando meu pai passou pela porta.


Acordei ofegante no meio da noite, tentando entender exatamente o que aconteceu naquele sonho. Meus deuses, era o mesmo sonho a dias. O mesmo cenário, o mesmo bebê, tu do de forma repetida como se fosse uma espécie de vídeo caseiro doentio. Esse era o motivo real para eu querer ir até São Francisco conversar com minha mãe. Talvez aquilo fosse um aviso ou até mesmo uma memória.

Desgrudei minha camisa que agora estava encharcada de suor e me levantei. Não iria mais conseguir dormir novamente pelo resto da noite, então ao menos daria um passeio noturno pelo acampamento com Athos.

*****

O dia parecia estar se arrastando como uma lesma e a cada minuto que se passava eu começava a ficar mais impaciente. Thays estava em algum lugar junto ao seu novo brinquedinho, Fernando foi com Isa até a casa grande avisar a Quíron e o Sr. D. que Diego estava vivo, e como o rapaz voltou a ser o instrutor de lutas eu ficaria sem fazer basicamente nada o resto do dia, a não ser conversar com Claudio e observar enquanto Athos pulava de um lado a outro. Eu tinha aprendido a fazer algumas armas um pouco mais elaboradas graças a Leo Valdez, o filho de Hefesto mais amigável - na minha opinião - o que fez oa menos minhas mãos se manterem um pouco ocupadas.

- Afinal de contas, o que você está fazendo? - Claudio perguntou.

Estávamos sentados na praia dos fogos observando o mar. Claudio, como sempre, tinha um livro nas mãos, mas o largou para me fitar enquanto fazia meu pequeno trabalho.

- Tentando fazer um dispositivo nesse troço. Me ignore. - falei.

- Vamos, é meio tedioso ficar lendo com outra pessoa e um cachorro enorme por perto. Me fala um pouco mais sobre você vai. - ele pediu.

- Não gosto muito de falar sobre mim... - retruquei, ainda sem tirar os olhos do pequeno dispositivo.

Ele ficou me encarando. Continuou me encarando... Passaram-se quase cinco minutos e ele ainda me encarava...

- Mas que porra, tá legal! O que você quer saber? - perguntei, guardando o pequeno projeto no meu bolso.

- Hum... Onde você nasceu, como é sua mãe... Coisas do gênero.

- Ah, bem. Eu nasci em Toronto, mas eu passava umas férias bem curtas em São Francisco, já que minha mãe tem uma casa por lá. Ela é uma artista, então acaba viajando muito e sempre me levava com ela.

- Entendi... Não tem irmãos ou coisa do gênero?

Essa pergunta foi o mesmo que levar um soco no estômago. Eu não tinha irmãos além dele e Diego, mas sempre senti meio que... Não sei, falta de alguma coisa quando eu era criança. Parecia que faltava uma parte de mim, mas acabei não ligando pra isso depois de meus oito anos de idade.

Diário de Uma Filha de HadesOnde histórias criam vida. Descubra agora