Segredos

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A quantidade de sangue que um corpo humano possui é impressionante. Muitas vezes me perguntei a quantidade exata a ser perdida para o corpo ceder, mas nesse momento eu preferia não saber. Os dias se passaram e eu ainda estava aqui, lutando para escapar desse tormento que se repetia a cada minuto. Meu sangue escorria dos inúmeros e profundos cortes em meu corpo, minha visão estava turva, minha respiração pesada. Eu choramingava, tentando me libertar das algemas que prendiam minhas mãos, mas tudo isso era em vão.


Os passos na escuridão chegaram mais perto, meu torturador voltara para uma próxima seção. Me encolhi quando pude escutar sua risada abafada em sequência do áspero som de metal raspando contra as paredes.


- Do que vamos brincar hoje? - Christopher me levantou sem dificuldade, colocando-me ereta contra a parede. Seu sorriso psicótico era o que eu mais temia a cada novo dia, a cada nova ferida aberta. Ele vinha aqui, me provocava e me torturava até que eu apagasse. Ele era meu carrasco por todas as intermináveis noites. - Que tal esquartejamento? Ou prefere contar os dedos?


Ele ergueu o grande alicate de metal rente a meus olhos, um objeto bastante intimidador e que eu sabia muito bem para o que servia. Apenas pude apertar os olhos e esperar pela dor que sabia que viria.


- Sabe o que é mais engraçado? - ele riu enquanto encaixava o alicate em um de meus dedos. - Você está sempre agindo como se fosse forte, um poço de confiança. - ele riu novamente. - Quando na verdade é patética, sua mente esta consumida pela vingança de uma forma que nem consegue mais ter seu precioso autocontrole. Nêmesis ficaria orgulhosa de você.


Com essas palavras eu apenas pude gritar enquanto ele apertava o alicate. A dor subia da minha mão e se espalhava por todo meu corpo, me enlouquecendo de uma maneira que mal pude formular palavras.


- Você não queria contar? - Christopher riu diabolicamente, erguendo meu dedo que acabara de arrancar com um fascínio doentio. - Agora conte!


***


Abri meus olhos completamente desorientada, erguendo meu corpo com muita rapidez. Tinha sido um erro, pois uma dor aguda em minhas costelas me fez trincar os dentes. Voltei a deitar novamente, desta vez tentando acalmar meus batimentos cardíacos e minha respiração. Eu estava na enfermaria?


Ergui a mão e a encarei, até ter certeza absoluta de que tudo aquilo não tinha se passado de um horrível pesadelo. Sim tinha sido apenas um pesadelo...


Minha cabeça doía, meu corpo estava dolorido, mas não lembrava de como tinha ido parar ali. Voltei a me erguer, dessa vez mais cuidadosamente, passando as pernas para fora do leito onde me encontrava. Me sentia como se tivesse sido atropelada por um caminhão.


Caminhei com certa dificuldade até o lado de fora, parando para que meus olhos se acostumassem com a intensa luz do sol. Obrigada, Apolo.


Parecia que tudo estava normal. Era apenas mais um dia no acampamento. Alguns semideuses espalhados pela área de treino, mas ao que tudo indicava, estava na hora do café da manhã. Não iria até lá por agora, precisava verificar meu estado, que não deveria estar nada bom, antes de me juntar aos outros.

Diário de Uma Filha de HadesOnde histórias criam vida. Descubra agora