Isso Sim São Chifres

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Caraca, como é fácil se perder no mundo inferior. Eu acho que estava andando em círculos, pois não encontrei nem meus amigos e nem Nico e a trupe dos esqueletos felizes. Parei de correr tentando me concentrar no caminho ainda com a foice na mão.

– Droga, pra onde é o Aqueronte? - perguntei pra mim mesma.

Então me lembrei do cão infernal que meu pai me deu. Provavelmente ele saberia onde ficava o Aqueronte. Me virei para o enorme cão que me fitava com os olhos negros. Ele agora não parecia tão ameaçador quanto os outros que eu vira ao entrar no palácio. Cheguei perto dele e subi em suas costas peludas, vendo onde eu poderia segurar antes de pedir para que ele me levasse.

– Até o Aqueronte garoto. - falei em sua orelha.

O cão correu a toda, quase me fazendo cair pra trás. Passamos novamente por Cérbero que não parecia nos notar devido a enorme fila de almas aguardando o julgamento. Foi então que os sons de espadas se chocando umas contra as outras ficou mais forte. Avistei meus amigos e os guerreiros esqueletos de Nico lutando contra... Espera, aquilo eram ninjas?

Seja lá o que fossem eram rápidos e pareciam serem feitos de escuridão. Todos estavam as margens do rio que separava o mundo dos vivos e dos mortos, mas alguma coisa estava errada com a água. Seu centro esboçava uma forte luz azul escura e o frio que emanava dali era muito forte. Meu novo amigo saltou em um dos "ninjas", fincando os dentes em seu pescoço. A criatura virou pó, mas outras estavam surgindo do centro do rio. Peguei minha foice novamente e me dirigi a James que tentava parar dois adversários com sua pequena adaga de bronze.

– Eu só acho que você está atrasada! - ele bradou.

– Eu sei tá? Mas é a primeira vez que venho aqui.

Tentamos parar mais uma orda dos atacantes, mas eles começaram a aparecer em menor número. Isa, Fer e Nico estavam tendo dificuldades para conte-los, assim como os guerreiros e meu cão infernal. Se continuasse nesse ritmo...

Mas então eles pararam e embainharam as espadas. Só assim pude notar que não tinham rostos, era somente escuridão e frio. Alguns começaram a voltar para dentro do rio em direção a luz azulada.

– O que está acontecendo? - Fer perguntou ainda com sua espada em mãos.

Ninguém respondeu e o que veio a seguir conseguiu congelar minha alma. Uma mão fantasmagórica começou a surgir do Aqueronte, seguida de um rosto que me assombraria para sempre em meus pesadelos. Se aquele era Érebo, então não quero nem conhecer o resto da família. O deus primordial segurava uma foice na mão esquerda e, merda, ele tinha chifres!

– Semideuses... São vocês que eu preciso matar para poder levar a escuridão ao mundo? - sua voz era cortante - Vai ser divertido acabar com vocês.

Érebo ergueu a foice em direção a Isa que segurava o cabo da lança com firmeza se preparando para o impacto, mas algo me dizia que aquilo ia dar muito errado. A lamina da foice de Érebo desceu com tudo, partindo a lança de Isa em duas.

– Ai caramba... Você agora me deve uma lança! - ela gritou para o deus.

Érebo riu, sua foice preparada para descer novamente e dar cabo de Isa com um só golpe. Mas graças aos deuses as fúrias chegaram, descendo em direção ao deus com suas garras estendidas, mas Érebo ainda conseguiu desferir o golpe. Mas quando escutei o barulho de metal contra metal meu coração pulou. Um garoto alto e de cabelos negros com uma cicatriz na parte direita do rosto tinha parado o ataque com sua espada de lamina negra. Ele estava sorrindo para uma Isa que parecia ter congelado no lugar.

– Acho que cheguei na hora Anjo. - Diego começou, se virando para Érebo. Ele tinha girado o cabo da foice do deus que foi parar nas mãos dele. - Quanto a você. Vai pagar por ter tentado feri-la.

Érebo parecia que ia explodir. Seus soldados voltaram a atacar novamente, mas agora tínhamos o reforço que precisávamos. Diego jogou a lança do deus primordial para mim e a peguei em pleno ar. Girei as duas indo em direção aos "ninjas" com um sorriso que muitos da minha escola chamavam de "sorriso da psicopata".

– Vamos dançar...

Cortei dois dos ninjas ao meio e parei o ataque de outro. Transformei minha foice em uma espada para ter mais mobilidade por entre o mar de corpos que lutavam naquele campo de batalha. Vi James lançando um arco prateado para Isa, que o pegou em pleno ar e na mesma hora uma flecha de raios reluziu antes de ir ao encontro de um dos oponentes.

Dessa vez Érebo veio em minha direção. O deus não precisava de arma quando tinha uma espada e aqueles chifres na cabeça.

"Amiguinho, você deve ter levado um baita corno hein?" - pensei, parando outro ataque da espada do deus.

Fer estava controlando as águas para arrastar os adversários novamente para o fundo do rio, enquanto Diego conjurava mais guerreiros esqueletos. James deu uma panelada - não me perguntem de onde ele tirou aquilo - em um dos ninjas e parecia dançar enquanto dizia "Strike 1, strike 2...". Nico estava ocupado demais para dar atenção a qualquer outra coisa e eu ainda tentava parar os ataques mortais de Érebo. Mas eu estava começando a ficar cansada demais para me mexer rapidamente, o que custou um corte profundo em meu braço. Acabei deixando a espada cair pelo choque e pela dor, com meu sangue começando a escorrer por meus dedos. Érebo parou meu ataque com a foice e me levantou do chão pelo pescoço, fazendo com que ficasse difícil respirar.

– Sabe garotinha. - ele começou pegando minha espada do chão - Você já me causou muitos problemas. Diga olá para sua lamina, pois ela vai causar sua morte.

Mas antes de minha espada encontrar algum ponto vital de meu corpo alguma coisa conseguiu ferir o deus das trevas. Cai no chão tentando me orientar novamente, pois minha visão ficara turvada. Quando voltei a olhar em direção ao deus das trevas, Hades estava lutando contra o mesmo. A luta se desenrolou com muito icor dourado - sangue dos deuses - caindo no chão ao redor de ambos.

- Corram!

Diário de Uma Filha de HadesOnde histórias criam vida. Descubra agora