Encontros

504 21 4
                                    

- Já nos conhecemos? - Ömer indagou, o olhar fixo nos olhos da morena à sua frente.

Depois de todo o seu passado e tudo que enfrentaram juntos, a pergunta assumia certos ares de estupidez. Conheciam-se profundamente, de corpo e alma, de um jeito que só marido e mulher poderiam. Já haviam sido um só contra o mundo, contra a família Ünal, contra tudo e todos que ameaçassem o amor de ambos. A morena havia até mesmo enganado a morte para continuar no plano terrestre com Ömer. A conexão de ambos, tão forte em tão pouco tempo, só possuía uma única explicação para sua origem: foram feitos um para o outro.

- Ainda não. - Kıvılcım entrou no jogo de seu ex-marido, muito embora ele não jogasse jogo algum. Aquela pergunta significava um recomeço. Aquele era Ömer em sua mais pura tentativa de renovar o amor de ambos, que nunca havia enfraquecido do jeito que um e outro pensava. - Sou Kıvılcım Arslan.

- Ömer Ünal. - E então, repetiram ambos o mesmo aperto de mão do dia que se conheceram, selando o recomeço almejado.

Brindadas as próximas taças de vinho e conversados o ar e a água, chegaram a um claro impasse. Ömer não sairia daquele bar sem Kıvılcım, mas a mesma ainda se encontrava receosa perante seu término recente.

- Acabo de sair de um relacionamento. - Afirmou ela enquanto olhava nos olhos de Ömer. - Era um bom homem. Não será fácil esquecê-lo.

Ömer, porém, não desanimou. Sabia que Erto era o menor dos empecilhos para que recuperasse sua ex-esposa. Ele era passado, tal qual Görkem, que nunca chegou a ser qualquer coisa além de um passatempo para fazê-lo esquecer que Kıvılcım estava com outro homem.

- Eu posso te fazer esquecer dele. - Ömer sussurrou com um sorriso malandro enquanto bebia mais um gole do vinho em sua taça. Gostava da sensação do álcool adentrando seu organismo e relaxando seus músculos, fazendo-o sentir-se confiante e poderoso. Seu único objetivo era reconquistar a mulher à sua frente, e um homem em uma missão não desiste facilmente.

Kıvılcım ergueu as sobrancelhas ao ouvir a resposta do ex-marido. Após mais algumas taças de vinho, não demorou até que ambos se encontrassem na porta de entrada do apartamento de Ömer. Ele segurou as chaves sem dificuldades, livre dos tremores e sequelas da bolha que repousava anteriormente em seu cérebro. Kıvılcım seguiu-o sala adentro mimosamente, em um percurso que havia feito tantas vezes atrás. O álcool fluindo no sangue de ambos proporcionava a desinibição que precisavam depois de tanto tempo afastados, embora os braços de Ömer nunca houvessem deixado de ser convidativos como um lar para Kıvılcım.

- Onde está Metehan? - Kıvılcım indagou, trazendo à tona a lembrança do ex-enteado que ela conhecera quando ainda era um menino e agora já havia se tornado um homem.

- Foi passar uns dias na casa da mãe. - Ömer anunciou despreocupado, deixando a entender que tinham a casa só para eles. Retirou o blazer da morena em um ato de cavalheirismo, depositando a peça de roupa em cima da cadeira mais próxima. Em seguida, apontou para o sofá, fazendo menção para que sentassem. - Por favor.

Sentaram-se lado a lado no grande sofá, refazendo antigos movimentos que seus corpos já conheciam tão bem. A domesticidade não causava estranheza, pelo contrário. Era como se a casa de Ömer estivesse, enfim, completa novamente. As mãos se encontraram em um tímido gesto que dispensava qualquer palavra, e o polegar de Ömer desenhou pequenos círculos invisíveis na mão de unhas meticulosamente feitas. Kıvılcım não estava usando as alianças de noivado e casamento, e a visão de seu dedo anelar nu fez Ömer amaldiçoar sua própria estupidez. Como poderia ele ter dado motivos para que aquela mulher não usasse seu diamante comprado com tanto amor? Ou a aliança de ouro que a própria comprou quando o pediu em casamento, reconhecendo as diferenças em seus estilos de vida e reafirmando que, independente das mesmas, lutaria pelo amor de ambos. A mulher que teve sua vida revirada de cabeça para baixo e ainda assim escolheu permanecer ao seu lado, enquanto Ömer se acovardou diante do primeiro empecilho que surgiu em seu caminho.

Amores ParalelosOnde histórias criam vida. Descubra agora