Volta

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Kıvılcım respirou fundo ao acordar na manhã seguinte. Sentia as têmporas latejando e o estômago embrulhando ao fazer menção de se levantar da cama. Contou até três e sentou-se, deixando suas costas prensarem a textura gelada da cabeceira da cama. Repassou todos os acontecimentos da noite passada com um suspiro, amaldiçoando o dia em que conheceu os Ünal. Nada de bom jamais poderia sair daquela família, com exceção de Defne. Ainda assim, Kıvılcım insistia em convencer a si mesma de que a filha sempre seria mais Arslan do que Ünal, embora começasse a se parecer cada vez mais com Ömer conforme crescia.

A morena estremeceu ao relembrar cada palavra dita no jantar, e de como precisava se desdobrar para manter a postura sempre que encontrava aquela família. A vontade de matar Alev crescia a cada dia, já que Kıvılcım estava ficando sem argumentos para defendê-la das línguas afiadas da família Ünal, especialmente a de Pembe. Kıvılcım sabia que tinha tomado uma atitude imatura e imperdoável ao esconder sua gravidez, embora julgasse estar certa devido às circunstâncias de sua situação, mas Alev continuava a arrastar o nome da família na lama sem se importar com as consequências e aquilo incomodava profundamente a irmã mais velha.

Depois, pensou em Defne e em como a menina havia ficado feliz em conhecer Metehan. O ex-enteado estava destinado a ser um ótimo irmão mais velho, e Kıvılcım tinha consciência disso. Embora Ömer continuasse a se tornar uma incógnita indecifrável em sua vida, Metehan era um menino de ouro. "Ömer poderia aprender a ser gente com o próprio filho." Ela pensou enquanto se vestia para o café da manhã.

Aquele seria um longo dia. Estava decidida a escolher uma escola, e Defne iria acompanhá-la para conhecer os lugares e decidir aonde quer estudar. Já estava com cinco anos, e por mais que Kıvılcım hesitasse em deixá-la ir, já era hora da menina começar a ter amigos de sua idade e aprender a ler e escrever no idioma natal dos pais.

Defne estava quieta durante o café da manhã. Comeu rapidamente e perguntou se poderia assistir televisão até a hora de saírem. Kıvılcım concordou, procurando evitar conflitos. Não era a estratégia mais eficaz de maternidade, mas não havia mais nada a ser feito. Era melhor deixá-la entretida com a televisão do que perguntando pela ausência do pai.

Kıvılcım refletiu muito e decidiu por não dizer nada a Ömer sobre visitar escolas, ainda chateada após o fiasco do jantar. Ela sabia que ele já havia ficado de fora de muitas decisões sobre a vida de Defne, mas só a ideia de vê-lo novamente fazia seu estômago embrulhar. No momento, a prioridade de Kıvılcım era manter seu café da manhã no devido lugar, e isso implicava em não pensar em sua situação com Ömer. Após terminar de comer e de se arrumar, saiu acompanhada da filha Istambul afora em busca de uma escola decente.

Mãe e filha visitaram duas instituições de ensino renomadas na comunidade turca. A primeira, uma das mais caras da cidade, prezava por uma educação bilíngue e globalizada pautada no secularismo, o que agradava o gosto de Kıvılcım. Era uma escola onde estudavam filhos de atrizes e políticos famosos. Defne passou em frente às salas de aula e viu pelas janelas todas as crianças sentadas numa postura quase militar, o que a preocupou. Contudo, Kıvılcım não poderia estar mais satisfeita com aquela visão. Não se decidiram pela primeira opção pois ainda tinham outra opção para visitar, mas a diretora, ex-colega de faculdade de Kıvılcım, fez questão de anotar pessoalmente o número de telefone da morena para que mantivessem contato.

A segunda escola era um liceu extremamente religioso e tradicionalista, com uma mensalidade alta e inacessível para a grande maioria da população. Naquela escola estudavam os filhos de empresários muito ricos e religiosos como...

- Ömer! - Kıvılcım exclamou ao ver o ex-marido saindo da sala do diretor.

Ömer levantou as sobrancelhas ao direcionar o olhar para a morena, e Kıvılcım o viu hesitar por um instante. Defne saiu correndo para abraçá-lo e quase o derrubou.

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