Verdades

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Ömer olhou pálido para a menina à sua frente. Um filme se passava em sua cabeça. Imediatamente, sua mente o transportou para cerca de seis anos atrás, no dia exato que ele levara Kıvılcım ao hospital. Os exames. A notícia da gravidez de Görkem. O jeito que ela havia se fechado após um certo tempo. A conversa que tiveram após ela descobrir sobre Görkem. A partida repentina para a América. As miúdas mudanças que ele notou enquanto a observava pela televisão a milhares de quilômetros de distância.

Tudo fez sentido.

- Ömer! - Kıvılcım parou na frente da escada, ofegante pela corrida que realizou. - Ömer...

O homem estava paralisado em frente à porta. Defne o encarava confusa e cheia de expectativas. Os poucos segundos que a cena durou pareceram séculos. Kıvılcım percebeu pela reação do ex-marido que ele já havia entrado em contato com a verdade. As lágrimas teimaram em sair dos olhos da morena, por mais que ela quisesse manter a postura forte na frente de Defne.

- Defne... vá pro seu quarto. - Kıvılcım declarou com a voz falhando.

Defne se virou e saiu correndo porta adentro. Ömer permaneceu no mesmo lugar, imóvel. Kıvılcım se aproximou do homem com cuidado, até que finalmente viu seu rosto. Os olhos escuros do Ünal estavam úmidos, e sua expressão transparecia uma tristeza intensa.

- Por que? - Ele finalmente disse, a voz baixa e o rosto pálido. - Por que você fez isso, Kıvılcım?

O rosto de Kıvılcım foi ficando mais vermelho conforme o choro ficava mais intenso. Ali, naquele momento, ela sentiu a gravidade do que havia feito. Sentiu como a vida havia lhe dado uma rasteira. Era uma mulher íntegra, que se deparou com uma situação difícil e agiu no calor do momento, resultando no maior e único erro de sua vida. Pensou na filha, pensou no que sua filha deveria estar sentindo naquele momento. E, acima de tudo, pensou em Ömer. Pensou em tudo que Ömer deveria ter passado ao descobrir que o filho de Görkem não era seu, enquanto Kıvılcım escondera sua filha legítima do outro lado do mundo.

- Perdoe-me, Ömer. - Ela disse com dificuldade, quase num sussurro. - Eu ia lhe contar, eu juro. Eu comprei sapatos de bebê para dar a você no mesmo dia que Görkem declarou que estava grávida. Na manhã seguinte, você me disse que não haveria bebês entre nós, que estávamos em outra fase da vida. Eu fiquei sem chão, eu não soube o que fazer. Perdoe-me, por favor.

Pela primeira vez, Ömer viu Kıvılcım desabar. O desespero da mulher era tão grande que ela não conseguiu se manter de pé. As lágrimas quentes escorriam pela pele como uma cachoeira, e a respiração se tornou tão espaçada que o ar não conseguia entrar nos pulmões. Ela nunca havia sentido uma tristeza tão grande, nem mesmo quando Doğa havia se mudado para a mansão Ünal na condição de não lhe ver nunca mais.

Ömer saiu do transe quando viu a ex-esposa naquele estado. Ali, ele enxergou sua própria situação nos últimos cinco anos. Enxergou o primeiro ataque de pânico, e a apatia que sentiu pela própria vida logo em seguida. Sentiu a dor da ex-esposa como se fosse a sua própria. Lembrou-se com desgosto do jeito que a faísca havia desaparecido de sua vida e levado toda a luz que a iluminava junto com ela... E agora havia voltado, trazendo consigo uma explosão que abalou todas as suas fundações. Ah, como aquela mulher fazia jus ao próprio nome!

- Kıvılcım... - Ele agachou à altura dela, nivelando seus rostos. - Kıvılcım, por favor... Que tipo de situação é essa? Por que você não me contou? Você descobre que está grávida e a sua primeira reação é esconder isso do pai do seu bebê?

- Eu quase abortei! - Kıvılcım declarou de súbito, olhando no fundo dos olhos de Ömer, horrorizada com suas próprias palavras. A verdade saía de seus lábios sem esforço, e agora que havia começado a lavar a roupa suja, ela não conseguiria mais parar até chegar ao fim. Aquela era Kıvılcım, em sua mais pura essência. - Eu achei que você não queria ter mais filhos. Se Rüzgar não tivesse me ligado... talvez não existisse Defne hoje. E logo quando eu estava pronta para contar a verdade, naquele mesmo dia que eu lhe implorei para ir embora comigo, você disse que ficaria em Istambul pelo bebê de Görkem.

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