Capítulo 21

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POV CHARLOTTE

Empurro a porta do apartamento com tudo, Elijah me mostrou como chegar em sua casa, embora esteja perdendo muito sangue.
Ele mentiu para mim, a bala não pegou de raspão, acertou em cheio seu braço esquerdo, e a cada segundo que passa, mais sangue jorra do ferimento.
Ele senta em uma poltrona da sala de estar, provavelmente já está tonto e praticamente inconsciente, vou até a mesma poltrona, ajoelho em sua frente, sem me importar em como pareço submissa, ele salvou minha vida.
E tomou um tiro por isso.

– Tire a camisa. – Exijo rapidamente, olho em volta da casa, uma mesa de canto repleta de bebidas caras, é disso que preciso.
Elijah obedece e retira a camisa sem questionar, levo um susto ao ver o quanto ele é musculoso, eu obviamente já imaginava, mas ver é uma surpresa totalmente diferente.

Merda. Não tenho tempo para isso.

Analiso o ferimento com o estômago totalmente embrulhado, não posso vomitar ainda, o buraco está limpo, sem fragmentos.
Isso é bom.

– A bala entrou e saiu. – Revelo, ele coloca a cabeça na mão direita, está muito tonto pela perda de sangue. – Eu o proíbo de ficar inconsciente, Elijah.

Ele levanta os olhos até mim e me dá um sorriso mínimo.

– Preocupada comigo, amor? – Pergunta com malícia, não tenho tempo para isso.

Levanto e saio do cômodo, escancaro todas as portas da casa, procurando algo que me ajude.

– Talita! – Grito, completamente em vão, não tem ninguém em casa.
Merda. Merda. Merda.
Vou para o lavabo do corredor e reviro o armário abaixo da pia, tudo que encontro é uma caixinha de primeiros socorros e um kit de costura de viagem, vai ter que servir.
Volto para a sala e vejo um Elijah quase inconsciente, ele está tremendo. Ignoro a sensação de desespero e preocupação e vou em direção a adega de cima da mesa, pego a bebida mais forte que encontro, que aparenta ser rum, abro a garrafa e ajoelho para Elijah novamente, com cuidado, levanto o braço machucado o suficiente para jogar a bebida, ele geme de dor com o gesto.
Faço contato visual com ele, estou nervosa demais para qualquer joguinho.

– Vai doer para cacete, Elijah. – Explico, mais firme do que realmente estou. – Vou te costurar.

– Não é a primeira vez que levo um tiro, Chary. – Ele usa humor para me distrair da situação, aproveito o momento para jogar o álcool no ferimento, Elijah segura o grito de dor.
Não posso parar porque ele está sentindo dor, tenho que continuar.
Com as mãos trêmulas, arranco um pedaço da minha própria camiseta, enrolo em uma tira e amarro logo acima do buraco da bala para cortar a circulação de sangue, uso toda a minha força para amarrar o braço gigante dele.
Retiro as gases do kit de primeiros socorros e limpo o máximo de sangue que consigo, assim, consigo enxergar o ferimento com mais clareza.

– Já costurou alguém? – Ele pergunta, fraco.

– Meu pai, algumas vezes. – Respondo, completamente concentrada. Tiro a linha e agulha da caixa, molho de rum as duas coisas, respiro fundo e me direciono para o buraco.
É só não pensar.
Apenas deixe seu corpo agir, é algo automático.

Enfio a agulha na pele dele, ele suspira de dor e nada mais, faço o primeiro ponto, ouço o xingar com palavras que nem sabia que existiam, dou o segundo e o terceiro ponto de uma vez, depois, espero-o se recuperar da dor para dar o quarto ponto, ele resmunga algo e meu coração despedaça, perco a conta de quantos pontos dou, só sei que termino quando minhas mãos dão o último nó.
Enfaixo tudo com algumas tiras de gaze.
Está feito. Acabou.

Levo uma mão ensanguentada até o pescoço dele, seus batimentos estão fracos e irregulares.

– Temos que aumentar seus batimentos para que você não desmaie. – Imponho, sem confiança alguma.

– Não tenho certeza se é isso mesmo que... – Interrompo-o ao levar uma mão até seu pau, acho que ele para de respirar. – Eita porra.

Não penso no que estou fazendo, apenas continuo no automático, sinto o membro dele endurecer ao mais simples dos toques, agora sua respiração está ofegante, levo a outra mão novamente até seu pescoço e sinto seu coração.

Deu certo. – Sorrio como um gato, ele revira os olhos para mim, mas continua imóvel e duro.
Retiro a mão e me levanto, à procura de algo para cobri-lo, já que logo virá o frio da perda de sangue, acho uma coberta jogada em um báu da sala, coloco por cima de seus ombros, sorrio ao notar a expressão de dor em seu rosto, uma dor que não está sendo causada pelo ferimento.

– Você ainda tem uma mão livre. – Proponho com malícia, ele ergue uma sobrancelha para mim.

– Vai ficar aí olhando? – Pergunta, irritado por estar cedendo.
Viro de costas para ele e caminho até o primeiro quarto do corredor, quando chego, grito:

– Pelo menos estará se movimentando e não irá desmaiar. – Rio um pouco. – De nada.

...

Depois de vomitar até as tripas no banheiro, decidi me deitar na cama de Elijah, estou exausta, mas depois de alguns minutos, acordo graças aos pesadelos que insistem em voltar.
Muito sangue.

A porta do quarto de Elijah é escancarada, Talita arregala os olhos para mim, está nervosa e provavelmente irritada comigo, veio correndo.

O que aconteceu? – Ela pergunta, sento na cama, a tensão do dia cai sobre meus ombros. – Por que meu primo está com o braço enfaixado?

Levanto da cama em um segundo, passo por ela sem nem pensar em respondê-la, vou até a sala, com ela me seguindo, mas Elijah não está mais lá, apenas seu rastro de sangue. Vou até o escritório dele e abro a porta como se estivesse arrombando, encontro-o mexendo em muitos papéis com o braço direito.

– Bater na porta antes de entrar é um bom exemplo de bons modos. – Diz cada palavra com calmaria, como se nada tivesse acontecido hoje.

– Você deveria estar descansando. – Resmungo, com raiva. Ele ergue as sobrancelhas.

– Alguém estava na minha cama. – Dá de ombros, sem se importar.

– Alguém pode explicar que porra está acontecendo? – Talita grita por trás de mim.

– Encontramos alguns Violas na casa da Chary e levei um tiro, foi isso. – Ele continua analisando os papéis, sem nem olhar para a prima preocupada. – A maioria está morta.

– Você matou Violas? – Talita parece prestes a desmaiar, ou ter um ataque cardíaco.
Elijah dá de ombros mais uma vez.

– Eles atiraram primeiro. – Mente descaradamente, e fica óbvio que ela também percebe.

– Puta que pariu, Elijah. – Ela grita mais uma vez. – Você vai acabar com essa família por causa de uma...

Cuidado com a língua, prima. – Ele diz cada palavra com um sorriso psicopata, sua raiva profunda e intensa está aparente para todos dessa sala, e é por isso que Talita fica quieta.

– Empreste um vestido para a Chary. – Fala mais uma vez de forma casual, Talita sai do cômodo sem nem dizer mais uma palavra.

...

POV ELIJAH

A dor está suportável depois de tomar os remédios que Chary me empurrou, ela refez os curativos e agora está se arrumando para a festa exatamente como eu mandei.
É fácil demais se acostumar com a presença dela aqui, comigo.
Sei que não deveria, mas quero que ela fique mais, e estou disposto a ignorar o que ela quer para mantê-la segura, e se eu for quem a mantiver segura, ela ficará mais comigo, querendo ou não.

...

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