Capítulo 38

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POV CHARLOTTE

Assim que anoitece, Talita aparece na cozinha ao meu lado, resolvi cozinhar alguma coisa, já que os dois se trancaram no escritório desde tarde e não faço ideia de onde esteja Paolo.
Ela chega por trás de mim e me observa, por cima dos ombros, picar alguns legumes com uma faca.

– O que está fazendo? – Pergunta com leveza, nem de longe parece a mesma mulher de de manhã.

– Risotto, você gosta?

– Sou uma boa filha de Italianos, Charlotte... É óbvio que gosto de Risotto. – Ouço-a ir até a sala e pegar uma garrafa de bebida, ela volta com dois copos lisos, não me pergunta se quero antes de servir uma dose para mim.
Viro o copo antes mesmo dela fechar a garrafa, Talita sorri para mim com bastante gentileza.

– Por que bateu no meu primo? – A pergunta finalmente vem.

– Ele mereceu. – Digo simplesmente, ela dá de ombros, indo até a pia para lavar as mãos.

– Não estou dizendo que não mereceu, só quero saber o motivo. – Com as mãos limpas, ela assume os legumes que eu estava picando.
O silêncio recai na cozinha enquanto frito a cebola e o alho, ela continua o trabalho com os legumes.

– Sabe, pode me contar. – Sua voz sai mais gentil dessa vez, encaro a panela, ainda sem dizer nada. – Tenho que saber o que esses filhos da puta dos meus primos andam fazendo.

POV ELIJAH

Paolo não bate na porta do escritório antes de entrar, ele cheira a bebida e perfume feminino, mostrando onde esteve a tarde toda.
Ele foi para festa enquanto Talita e eu nos matávamos de trabalhar.

– Caralho, primo! Você percebeu que sua cara está sangrando? – Pergunta enrolando as palavras, Paolo é bem forte para bebida, então se ele está bêbado, provavelmente bebeu dois barris.

– É. Percebi. – Digo sem muita importância, ele dá de ombros.

– O que aconteceu?

– Charlotte aconteceu. – Resmungo como resposta antes que eu possa me impedir, Paolo arregala os olhos e depois cai na gargalhada.
Ótimo.

– E você mereceu? – Pergunta quando termina de rir, imediatamente sério.

– Para caralho.

Paolo me encara seriamente, confirma apenas uma vez com a cabeça, como se simplesmente compreendesse sem muita explicação.
Agradeço por não perguntar meus motivos, irmão.

– Aconteceu o que eu mais temia, Elijah – Ele dá um passo em minha direção, agora não cheira mais a bebida, está perfeitamente sóbrio, como se tivesse vestido uma máscara. – Você enfraqueceu por causa dela.

Cerro os olhos para o homem em minha frente, considerando se devo ou não estripá-lo.

– Peterson ainda está vivo – Continua sem se abalar. – Piedade não é uma das qualidades da nossa família, primo.

Um longo sorriso sem humor se forma em meu rosto, pela primeira vez em anos, vejo Paolo recuar.

– Posso provar agora mesmo que ainda aprecio a violência da mesma forma que antes, primo. – Digo cada palavra com frieza, sem nem reconhecer meu amigo. – Peterson está vivo porque precisava viver até cumprir o que determinei a ele, depois que esse curto prazo acabar, eu mesmo serei o responsável por levá-lo dessa terra.

– Infelizmente, não acredito em você. – Mesmo tenso, Paolo continua com o discurso, está tentando me testar. – Rumores surgiram que além de ter se tornado o Verdetto piedoso, você anda distraído no ringue, está lutando como um amador. Admiro que enfim tenha achado alguém, mas, primo, você está se tornando o elo fraco dessa família por causa de uma garota.

Avanço nele com um só golpe e já tenho seu pescoço em mãos, Paolo tenta me socar no estômago, mas está completamente imobilizado.

– Eu sou essa família. – Sussurro de maneira letal. Sinto as veias do pescoço dele latejando entre meus dedos, implorando pela circulação. – O nome Verdetto não seria nada sem mim e minhas contribuições, você não seria nada sem mim. Não ouse pensar que existe algo nesse mundo que me deixa fraco.

Paolo pisca lentamente, está quase inconsciente.
Ouço a porta do escritório ser aberta de maneira brusca, com o canto do olho vejo uma Talita furiosa vindo em minha direção, ótimo.

– Elijah! – Ela grita, com raiva. Muita raiva.

– Já lido com você, porra. – Resmungo quando finalmente solto meu primo, ele cambaleia por meio segundo, tentando desesperadamente não parecer desesperado por ar.
Talita avança em mim com um empurrão, cambaleio quando ela me empurra repetidas vezes, bufo de ódio, segurando os pulsos da garota como se não fosse nada.
Ela gira os pulsos e não sei como consegue se soltar, ergo minha guarda, mas não é rápido o suficiente, ela acerta um soco em meu olho esquerdo, cambaleio para trás com a vista escura, preciso me apoiar na escrivaninha para não cair no chão.

– Caralho, Talita! – Xingo, tentando focar minha visão na mulher à minha frente, procurando por mais algum golpe surpresa.

– Eu vou matar você, seu filho da puta. – Ela grita, mas tem a decência de esperar eu me recompor, quando finalmente me endireito, ela me empurra mais uma vez. – Vou matá-lo pelo o que fez ela passar!

Ai, merda.
Chary contou para Talita.

– Seu porra, quem fala uma coisa dessas para uma mulher? – Está gritando tanto que imagino ser a primeira vez que a vejo tão irritada comigo.
E eu mereço.
Mereço ser xingado e com certeza mereço o olho roxo que acabei de ganhar.

– Espero que seu pau caia! – Grita mais uma vez, suspiro audivelmente e cutuco o novo hematoma em meu rosto.
Dor. Que bom.
Ela não parece querer me dar outro soco, mas eu deixaria se ela quisesse, deixaria que qualquer um me espancasse, porque mereço.
A risada de Paolo faz meu sangue ferver um pouco.

– O que eu perdi entre vocês? – Ele pergunta com um sorriso.

– Só precisa saber se também quiser apanhar. – Ela responde com irritação, Paolo dá de ombros, massageando o pescoço.

– A gente precisa de um belo jantar em família para resolver essas merdas todas. – Paolo ironiza.

– Convença ela a se afastar de mim – Digo para Talita, com muita seriedade. – Diga que eu sou um merda, qualquer coisa.

É melhor assim.
É melhor que ela me odeie.

POV CHARLOTTE

Desligo o fogo quando o arroz atinge o ponto ideal de Risotto, e é nesse exato segundo que sinto a presença de Elijah na cozinha.
Ele não me olha quando passa por mim e vai até a geladeira enorme no canto, pega um saco de ervilhas congeladas e coloca em cima do olho esquerdo.
Encaro-o por um tempo, mesmo ele fingindo não me ver, me viro para ele.

– O que aconteceu? – Pergunto quase como uma ordem, ele ignora.
Vou até ele em passos longos, não espero-o recuar, ergo a mão e retiro o saco de ervilhas congeladas de seu rosto, vejo o roxo recente em seu olho.
Meu coração dispara de preocupação.
Faço contato visual, ele me queima com seu olhar furioso.

– O que aconteceu lá dentro? – Pergunto baixinho.
Ele encara o ponto onde toco sua mão, faço o favor de soltá-lo.

– Alexei sabe que estamos fingindo, vamos ter que atuar melhor. – É tudo o que diz antes de sair da cozinha.

...

Notas da autora:
Talita tem medo do Elijah, mas obviamente não deita pra ele... 🤭
Saudem essa mulher, pois ela merece.
Bjinhoooosss

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