Capítulo 39

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POV CHARLOTTE

Talita se remexe na cama e sei que está acordada só pela forma que resmunga, está me esperando acordar para me dizer alguma coisa.

– Pode falar. – Revelo que estou escutando, ela se senta na cama imediatamente, permaneço deitada, um tanto incomodada com o sol da manhã batendo em meu rosto.
Ela me encara com seriedade, mas logo desvia o olhar, como se estivesse considerando o que é melhor a se dizer.
Na verdade, ela está confusa com alguma coisa, percebo pelo modo que suas sobrancelhas formam um vinco profundo.

– Sabe o que eu não entendo? – Talita parece não estar falando exatamente comigo, parece falar para qualquer um ouvir.

– Não entendo o motivo de Alexei se importar tanto com você. – Continua no mesmo tom, pigarreio, de repente nervosa.

– E tem motivo para ele fazer alguma coisa? – Me sento encostada na cabeceira da cama, encarando tudo no quarto, menos Talita.

– Charlotte, você já se encontrou alguma vez na vida com Alexei? – A pergunta estranha me deixa incomodada.

– O que ficou sabendo? – Pergunto um pouco mais arisca, ela cerra os olhos.

– Não faz sentido... Alexei não é conhecido por agir de maneira tão lenta quanto ao seu caso, ele é mais do tipo impulsivo que atira na nossa cara sem nem pensar duas vezes.

O que exatamente quer dizer, Talita? – Minha voz sai acusatória, ofendida.

– Fiquei pensando no que Peterson disse, ele te chamou de mentirosa, mais especificamente... – A ruga em sua testa aumenta, está conectando pontos em sua mente. Ela vira o rosto para mim, está séria, sem expressão. – Precisa me contar alguma coisa, Charlotte?

Meu rosto deve ter mostrado que fiquei completamente ofendida com a pergunta de Talita, mas ela escolhe não comentar.
Ela está me acusando do que, exatamente?
Ela acha que sou uma espiã de Alexei?
Talita acha que planejei tudo o que aconteceu comigo apenas para Elijah me salvar?
De repente me sinto completamente desconfortável na cama dela.
Elijah também pensa assim?
Foi ele quem pediu para Talita me interrogar?

– Se tem algo para me perguntar, pergunte logo, porra. – Digo com arrogância e mau humor.
Talita dá de ombros com uma leveza impressionante.

– Relaxe, Charlotte. Só estamos jogando conversa fora, não é? – Responde com um sorrisinho antes de se levantar.
Cerro os olhos para ela e encaro-a durante muito tempo, até que ela entra no banheiro e fecha a porta com força.
Que porra acabou de acontecer aqui?
Passo alguns segundos encarando uma parede vazia, quando finalmente levanto da cama e vou até a porta, preciso tirar algumas conclusões.
Caminho até o quarto bem ao lado de Talita, não bato na porta, porque na minha cabeça é melhor pegá-lo desprevenido, entro no quarto de Elijah sem me importar nada com a camiseta curta demais para cobrir minha bunda toda, nem me importo que estou sem sutiã.
Elijah para o movimento no meio quando percebe minha presença, ele está sentado na beira da cama, apanhando para passar uma quantidade absurda de pomada em seu olho roxo, ele fixa o olhar em mim como uma águia, seus olhos dançam pelo meu corpo, demorando-se na barra da camiseta dele.
Ergo o queixo, sem deixar transparecer qualquer um dos meus desejos secretos.

– O que foi? – Pergunta calmamente, sua voz está rouca pela manhã e tento não pensar em como me sinto ao ver a casualidade que ele agiu ao me ver em seu quarto de manhã, entrando quando bem entendo.
Vou até ele em passos lentos e curtos, quando estou perto o suficiente, retiro a pomada de sua mão e deposito um pouco em meus dedos, ele me encara durante todos os gestos, só para de me olhar quando passo uma perna por cima das deles e monto em seu colo, meio que sem sair do chão.
Faço de propósito para deixá-lo nervoso, para irritá-lo com a casualidade que ajo ao sentar bem em cima de seu pau.
Faço contato visual e tudo o que vejo em seus olhos é a selvageria que só vi na noite em que ele me chupou até me fazer delirar.
Levo os dedos até sua pálpebra inchada pelo hematoma, passo a pomada com a maior delicadeza que encontro, com medo de machucá-lo com o mais simples dos gestos.

– O que está fazendo aqui? – A voz grossa e rouca dele tão perto de mim faz meu corpo vibrar de uma maneira bem gostosa.
Arfo audivelmente ao senti-lo endurecer bem debaixo de mim, finjo naturalidade, mas minha respiração fica completamente ofegante.

– Estou cuidando de você, seu idiota presunçoso.

– Idiota presunçoso? Acredito que consiga me xingar de coisas muito piores, Chary.

– Seu filho da puta de merda, você é o cara mais babaca que já conheci na vida, odeio a forma que usa um apelido para me tirar do sério, é um maldito que tem como objetivo principal me tirar do sério. – Solto tudo de uma vez, sem nem fazer ideia que tudo estava preso em minha garganta. Vejo um sorrisinho infeliz em sua expressão, além de uma risada baixinha. – Satisfeito?

– Muito, Chary.

Evito revirar os olhos porque parece um gesto íntimo demais para posição que estamos agora.
Termino de passar a pomada na região do hematoma, analiso o outro ferimento, os arranhões que eu mesma fiz.
Merda.
Continuo na mesma posição, ainda encarando-o.

– Você acha que sou uma espiã de Alexei? – Odeio como o termo surge em meus lábios, como se eu participasse de um filme de ação.

Elijah franze o cenho em uma reação genuína.

– Da onde veio isso? – Solta, parecendo confuso com minha reação. Dou de ombros, o leve movimento do meu corpo faz ele gemer baixinho, sorrio ao sentir o pau dele reagir ao meu corpo. – Não se mexa.

– Não sigo ordens suas. – Resmungo com implicância, mas permaneço parada.

– Você ouviu Paolo falando alguma coisa...? – Ele pergunta em um suspiro, cerro os olhos.

– O que Paolo disse? – Pergunto, minha revolta é explícita.

Elijah faz cara de quem foi pego tentando acobertar uma bela mentira.

Merda.

– É uma merda mesmo. – Resmungo de mau humor.
Como se fosse uma ironia do destino com minha cara, a porta do quarto é escancarada e um Paolo meio descabelado entra.
Ele parece sonolento até ver me ver montada em Elijah como se fosse a cena mais normal do mundo.
Não me dou o trabalho de me esconder ou sair de cima dele.

– Foi mal, Eli... Eu esqueci de bater. – Sua voz sai completamente desconfortável, quase envergonhado.

– Saia. Agora. – A voz de Elijah mostra bastante possessividade e sei que é para mim, e é exatamente por isso que ouso levantar a barra da minha camiseta, o suficiente para Paolo ver boa parte da minha lingerie, e ele obviamente me olha. Quase de imediato, sinto Elijah abaixar a minha camiseta com bastante agressividade, cobrindo qualquer parte nua da minha bunda, ele me encara com uma fúria selvagem, dou de ombros com um sorrisinho.

– Espere, fique um pouco. – Minha voz sai com segundo sentido.
Elijah encara o fundo da minha alma e me aprisiona à ele com um único olhar.

Chega, Charlotte. – É um aviso extremamente sério, seu nível de possessividade está lá no alto e é um limite que nunca ultrapassei, e nem sei se quero.
Ele fica sombrio quando age como se eu fosse sua posse mais preciosa.

– O que você falou sobre mim que eu não deveria ter ouvido? – Pergunto para Paolo, ele franze as sobrancelhas, depois desvia o olhar, pego no flagra.
Saio de cima de Elijah em um único movimento fluido, como se fosse completamente acostumada a fazer isso.
Cruzo os braços e encaro Paolo.

– Você e Talita se uniram contra mim? – Finalmente pergunto, um tanto magoada demais.

– Saia, Paolo. Agora. – A voz de Elijah não traz nenhum pingo de um humor, antes que eu possa protestar contra, Paolo sai do quarto e fecha a porta imediatamente.
Merda.
Viro para Elijah, irritada e magoada.

– Não se preocupe com o que eles dizem. – Intervém Elijah.

Cerro os olhos em um gesto de pura irritação.

– Não me preocupo com o que eles pensam. – Dou de ombros, e sou sincera, porque o único que me importa é Elijah, mas nunca direi isso em voz alta.
Decido que essa discussão é demais para mim para esse horário do dia, então me viro e caminho até a porta, deixando-o para trás com boa parte de meus pensamentos.

...

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