Um ser ursino, dotado de um chifre de pedra sobre a cabeça, olhos repletos de puro instinto agressivo e fúria, um olhar aterrorizador. as patas com garras visíveis mesmo de longe, um vapor saindo da boca junto com um urro grave de congelar a alma das presas, a pele firme como pedra e de cor verde musgo ajudavam como camuflagem em meio às árvores. Em um movimento rápido, consegui puxar Lana enquanto ele despedaçava uma árvore com uma única patada. Pude ver um brilho pálido em suas unhas momentos antes do ataque. Corri o mais rápido que pude, puxando Lana pela mão.
-Rápido por aqui,- gritei sem nenhum plano, apenas desespero e medo.
O desespero que fluía pelo meu corpo, que me mantinha viva, o mesmo eu podia sentir pelo aperto da mão de Lana, pelo suor que corria em nossos dedos, pelos olhos arregalados e o rosto pálido que uma via na outra enquanto corríamos. O animal estava se aproximando rápido e nos alcançaria muito em breve. Lana era mais lenta do que eu e não conseguiríamos fugir juntas.
Enquanto corríamos, encarei seus olhos, olhos de desespero. Enquanto a puxava, eu podia ver por cima de seu ombro o animal correndo, fúria e determinação, puro instinto selvagem se aproximando.
Encarei Lana e balancei a cabeça em negação. Nos seus olhos, ela sabia que não éramos rápidas o suficiente, de que ela estava nos prendendo, nos atrasando. Era impossível escapar juntas.
Sem alternativa, soltei a mão de Lana. Seus olhos lançaram um suplício silencioso, como os de um cordeiro encarando a lâmina afiada na mão do seu pastor. Era um momento de decisão, um momento de sacrifício.
-Não,- ela disse baixinho, em meio a uma respiração pesada e acelerada.
Então, em outro movimento rápido, puxei a lança de sua mão e fiz uma curva acentuada, afastando-me de Lana. Comecei a gritar e pular, chamando a atenção do Ursino enquanto Lana se afastava. O animal me olhou por um instante e me ignorou completamente; parecia saber que ela era mais lenta e mais carnuda, e que correr atrás de mim não era a melhor opção.
Fiquei incrédula quando ele passou por mim, indo agora ao encalço de Lana, que estava desarmada. Então, corri atrás dele. Ainda não tinha nenhum plano, não sabia o que fazer; estava agindo apenas por instinto.
Lana chegou à exaustão e estava sem forças para correr, cambaleava ao forçar as pernas a continuar. O Animal estava em seu encalço e não precisava mais correr. O Ursino, a poucos metros de Lana, ficou em duas patas, enquanto se aproximava, pude ver seu peito brilhar com uma luz pálida, uma luz que atravessava a carne.
Então, o animal rugiu, um som tão avassalador que uma onda de choque percorreu meu corpo. Lana enrijeceu e desabou desacordada quando o som do berro passou por seu corpo e a luz se dissipou no ar. Eu joguei minha lança com toda minha força mas eu estava longe e ela simplesmente quicou e caiu no chão.
-Não pode ser-, murmurei, meus olhos se encheram de lágrimas enquanto meus lábios tremiam.
Eu assistia a tudo sem acreditar no que estava acontecendo: um animal insaciável, a falta de recursos para defesa, a falta de um abrigo, a falta de um lugar seguro, a falta de casa. Eu não poderia fazer nada; não havia como detê-lo. Não daria tempo de chegar até Lana e retirá-la de lá.
Mesmo que eu corresse, eu era fraca demais. E se eu chegasse lá, o que eu poderia fazer? O que uma menina magra, frágil e pequena faria contra uma criatura daquele tamanho? Eu era fraca e caí de joelhos no chão. Todos esses sentimentos borbulhavam em minha cabeça, e meu corpo se contraía. Meus olhos estavam arregalados, e eu não conseguia piscar. Eu sabia que a qualquer momento o pior iria acontecer. Eu paralisei.
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A Coroa de Pedra
Fantasy"Adentre o mundo épico e repleto de mistérios de 'A Coroa de Pedra', uma saga de alta fantasia que transportará os leitores para além das fronteiras da realidade. Neste enredo envolvente, uma jovem desperta nua e desorientada em um universo desconhe...