A guerra havia acabado, mas nem de perto foi como eles haviam previsto.
Eu não pude acreditar. Quem imaginaria que logo eles, tão cheios de orgulho, estariam agora suplicando por suas vidas, com lágrimas misturando-se ao suor em seus rostos impecáveis?
Os alto-elfos têm a eternidade para guardar rancor. Para eles, o tempo é uma questão de paciência, enquanto para a maioria de nós é apenas um sonho que dura conforme a sorte de se manter vivo.
Daqui a algumas gerações, essa batalha estará distorcida na memória do povo. Quando isso acontecer, essa guerra será lentamente reacendida pelos mesmos que hoje choram e imploram. E, quando acontecer, eles não cometerão os mesmos erros, e tudo será mais difícil.
Esta não foi uma guerra comum; era tudo ou nada. Demos tudo de nós, e não restou nada para celebrar.
Criamos uma união como jamais foi vista. Todos em Dastraea se juntaram: água, terra e ar. Orcs, Familiares, Fadas, Dríades, Goblins, mestiços, Trolls, Druidas, Seres da noite e tantas outras raças lutaram pela nossa causa. Do outro lado, controlados por uma ideologia distorcida, estavam os elfos e um exército de humanos, manipulados por uma ambiciosa magia de controle em massa.
Tot'Glaur, um alto-elfo mestiço de dragão, iniciou uma manipulação silenciosa no governo élfico. Com sua influência e poder, colocou em prática seu plano perturbador de invocar humanos, desprovidos de defesas contra seres mágicos, transformando-os em marionetes para serem usados como mão de obra e soldados descartáveis no campo de batalha.
Ele alegava que, pela deficiência de reprodução dos elfos, estavam fadados a desaparecer silenciosamente, já que o número de mortos era maior que o dos nascidos. Mas...
Seus motivos já não importavam para nós, apenas seus objetivos: nosso extermínio. Sabendo disso, nos unimos na maior força que esta terra já presenciou.
Ninguém estava preparado para o que estava por vir. Ninguém imaginava a verdadeira dimensão do horror. A quantidade de sangue que seria derramado... incontáveis vidas deixariam de existir quando a guerra, inevitável como uma tempestade, finalmente explodisse. Nem os mais sábios profetas, nem os adivinhos mais astutos ousaram prever o destino que nos aguardava. As cartas e runas que consultamos tremiam diante dos resultados, pois não havia como contar quantas almas seriam destruídas.
Não havia como fugir.
No início, talvez houvesse um frágil controle, talvez ainda restasse esperança. Mas quando tudo começou a ruir, não houve volta. O caos engoliu nossa visão e a desordem tomou conta. As forças de ambos os lados ergueram-se como ondas avassaladoras, destruindo tudo o que tocavam, enquanto o mundo, outrora vibrante em paz, afundava-se em um abismo de destruição.
O campo de batalha era um banquete para os corvos. O ar, sempre pesado e úmido, era uma mistura nauseante de suor, fezes, carne queimada e o ferro adocicado do sangue coagulado. O cheiro era tão intenso que cortava a respiração, impregnando as roupas e a alma de todos que ali estavam.
Os gritos agudos dos feridos se misturavam aos rugidos de raiva daqueles que estavam fora de si. Espadas quebradas e escudos rachados espalhados pelo chão eram o resultado violento dos combates. Membros amputados estavam abandonados, como folhas secas caídas ao solo.
Soldados, com os olhos vidrados e a respiração ofegante, arrastavam-se pelos charcos de sangue. Alguns ainda lutavam, enquanto outros simplesmente desabavam, encontrando a paz na morte. O caos era total. A ordem morreu no primeiro encontro de espadas.
No final, após dias de combate, a chuva torrencial açoitava o campo de batalha, transformando-o num labirinto de lama e corpos. Elfos lutavam lado a lado com humanos sem expressão contra os Orcs, que avançavam em hordas imparáveis com seus rugidos guturais. Enquanto isso, goblins, ágeis e traiçoeiros, atacavam pelas costas. Suor, medo e cansaço impregnavam cada centímetro do campo de batalha. Aos poucos, os sobreviventes deixaram de brandir suas espadas ou lançar suas magias. Tudo o que fizeram foi depositar sua esperança nos dois heróis que finalmente se encontraram no campo de batalha.
Entregamos nossas esperanças a eles e seu destino seria o nosso.
No centro do campo, dois guerreiros se enfrentavam no duelo que decidiria tudo. Tot'Glaur, com seu sua espada élfica curva e reluzente, era a personificação da graça e da agilidade. Seus olhos, um azul frio como um iceberg e o outro vermelho como brasa ardente era traços de sua raça mestiça e refletiam a determinação de proteger seus semelhantes e sua ideologia. Do nosso lado, Krog-hul, outro mestiço de Ogro e dragão, era a força bruta personificada. Seus músculos se destacavam sob a pele verde, e seus olhos, um vermelho e outro verde, estavam cheios de vigor e instintos selvagens.
Seus golpes se chocavam com a força de um trovão, fazendo a terra tremer. A cada impacto, faíscas voavam e pedaços de armadura se espalhavam pelo chão. Tot'Glaur, com movimentos rápidos e precisos, tentava encontrar uma brecha na defesa de Krog-hul, enquanto este, com sua força bruta, tentava esmagar o elfo.
A espada curvada de Tot'Glaur, quebrada em dois, voou pelos ares. A espada de duas mãos de Krog-hul foi arremessada para longe e se perdeu entre os soldados que, catatônicos, observavam o desfecho da batalha. Desarmados, exaustos e sem magia, os dois guerreiros se agarraram em uma luta visceral. Punhos cerrados, unhas cravando-se na pele, dentes trincados em um rosnado mútuo. A cada golpe, sentiam a dor e a exaustão, mas também a adrenalina que os impulsionava para frente.
Tot'Glaur, sentindo o gosto metálico do sangue em sua boca, e Krog-hul, com a visão turva pelo sangue, pensavam apenas em destruir seu inimigo e vingar seu povo caído. Naquele momento, agiam como se existissem apenas os dois, ignorando todos os corpos, as veias de sangue que corriam pelo chão e os soldados à sua volta. Nada mais existia para eles.
Com um último esforço, Tot'Glaur subiu nos ombros do ogro e cravou suas garras nos olhos de Krog-hul, provocando um grito de dor que ecoou pelo campo de batalha. O ogro cambaleou para trás, cego e atordoado. Aproveitando a oportunidade, Krog-hul segurou o Alto-Elfo pelos braços e começou a quebrar seus ossos. Sem deixar o elfo escapar começou a arrancar seus pedaços com mordidas. Suas unhas se enterraram nas entranhas do elfo indefeso, e tudo terminou na cena mais brutal e selvagem que alguém poderia presenciar. Krog-hul arrancou o coração de seu inimigo e o ergueu, mostrando a todos que a vitória era sua.
Tot'Glaur estava no chão, estraçalhado e sem vida. Um silêncio sepulcral se instalou sobre o campo de batalha, interrompido apenas pelo som da chuva. Krog-hul, exausto e ferido, ajoelhou-se ao lado do corpo de seu inimigo. A vitória era sua, mas o preço havia sido alto. A guerra havia deixado marcas profundas em sua alma, em seu corpo e em todos ao seu redor.
A primeira parte do nosso grande objetivo foi finalmente alcançada com nossa vitória sobre os elfos. Mas ainda não podemos descansar, pois resta uma tarefa crucial de garantir que essa ameaça não se repita. A única maneira de assegurar nossa segurança e proteger nosso mundo é erguendo uma barreira que impeça que humanos sejam invocados novamente para cá.
Reuni os mais poderosos magos, feiticeiros, arcanos e estudiosos de todas as raças, convocando-os para uma missão de importância extrema . Unidos em um propósito comum, dedicamos nossa sabedoria e habilidades para criar uma magia que perdurará pelo tempo necessário para que nunca mais humanos possam ser invocados.
Seis meses de intenso trabalho, refinamento e preparação culminaram na criação de nossa solução definitiva. Mobilizamos um exército de quarenta e três Grão-Mestres magos divididos em vinte e quatro Grão-Mestres da magia natural, sete Grão-Mestres em conjuração e doze Grão-Mestres em magia de selamento.
À noite, sob a primeira luz da lua cheia, lançaremos o feitiço que selará nosso destino e protegerá nosso mundo para sempre. Esta será nossa última ação e provavelmente eu não voltarei viva.
Com isso, encerro minha primeira carta.
~~ Ass: Persia Eyns - Rainha Itera das Tropas Aliadas ~~
EM BREVE CAP 0.1
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A Coroa de Pedra
Fantasía"Adentre o mundo épico e repleto de mistérios de 'A Coroa de Pedra', uma saga de alta fantasia que transportará os leitores para além das fronteiras da realidade. Neste enredo envolvente, uma jovem desperta nua e desorientada em um universo desconhe...