CAPÍTULO 10

27 3 51
                                    


Lana e eu demos um grito seco e paralisamos. Mamont puxou o braço do corpo e jogou o cadáver no chiqueiro de porcos ao lado de onde estava. Os quais logo se aglomeraram em cima do corpo ainda quente.

-Vamos- falou Mamont friamente, sem expressão alguma, enquanto passou por nós indo em direção à casa. Sem fúria, sem violência ou raiva, apenas uma quietude sombria.

Embora acabássemos de presenciar algo terrível, não senti medo; a raiva dele não estava relacionada a nós.

Voltamos para casa junto com Mamont, que caminhou todo o trajeto em silêncio, deixando um rastro de sangue por onde passava. 

No quarto, os irmãos se lamentavam, e Zarek estava completamente desolado ao lado de Anbeda.

-É minha culpa, filho. Eu a matei. Perdi o controle e usei magia. Não quis, não sabia que podia fazer aquilo-, lamentava Zarek tanto que eu pude sentir toda sua dor, e acredito que Lana também.

Mamont com o braço tingido de vermelho verificou o pulso de Anbeda. Os três irmãos empalideceram instantaneamente e se entreolharam.

-Arzew?, perguntou Zarok pela primeira vez, calmo, quase como um sussurro.

-Ele está alimentando os porcos-, respondeu Mamont sem nenhuma emoçãoe continuou. -Ela se foi. Devemos preparar a pira para o funeral.

Mamont se levantou, envolto numa aura sombria de pesar e ódio. Ele se agachou e jogou Garunthe como um saco de batatas por cima do ombro. Garunthe parecia estar em um estado de demência; não sei o que Zarek fez, mas com certeza destruiu o cérebro de Garunthe.

-O que vai fazer?- perguntei.

-Ele vai alimentar os porcos- respondeu Mamont sem nenhum pesar nas palavras.

-É preciso?- indaguei.

-Ele iria matar Anbeda. Ele matou Anbeda- a rispidez soou na voz de Mamont.

-Olhe o estado dele. Ele já está sofrendo o suficiente-  minhas palavras saíam calmas enquanto todos voltavam olhares para nós. "Tenho certeza de que esse estado é pior do que o que você está prestes a fazer."


-Venha comigo- Pediu Mamont.

Saímos da casa e atravessamos o vilarejo, com Garunthe babando e emitindo sons estranhos, como um bebê aprendendo a falar. Paramos a uma boa distância do vilarejo, onde Mamont indicou o início de uma área selvagem. Com um gesto brusco, jogou Garunthe no chão. O curandeiro estava confuso, emitindo palavras desconexas enquanto Mamont retirava o manto que o envolvia. Revelou-se um corpo decrépito e enrugado, oculto sob a vestimenta. Mamont o empurrou em direção às árvores e colinas, escondidas por detrás da vegetação densa.

-O direito a uma nova vida- Exclamou Mamont, observando Garunthe se afastar, maravilhado com as plantas vermelhas e as borboletas que espalhavam pólen pelo ar.

Não questionei a decisão de deixá-lo nu, pois entendi naquele momento que a oportunidade de uma nova vida significava deixar tudo para trás. Como todo ser que nasce, seu destino agora dependia somente dele para sobreviver. Eu sabia que ele não passaria um dia vivo se continuasse sozinho. Após ver o curandeiro partir, seguimos em direção à casa de Zarek.

-Obrigado. Não sei como são suas regras, mas obrigado por não derramar mais sangue- Agradeci.

-Não existem regras quando tentam matar sua família- Respondeu, a voz suave, tentando esconder uma tempestade que explodia dentro daquele corpo.

-Eu lamento tudo o que aconteceu, lamento por hoje.

-E eu lamento que tenha visto o que viu.- Palavras sinceras.

A Coroa de PedraOnde histórias criam vida. Descubra agora