3: A melhor amiga

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— Como é que é? — Duda, minha melhor amiga de infância, quase cospe sua bebida na minha cara. Sempre tomamos café da manhã juntas.

— Sim, é exatamente o que você ouviu — confirmo, suspirando, antes de beber um pouco do meu café.

Duda ri, balança a cabeça, ainda incrédula, e toma mais um gole do seu cappuccino. A cafeteria onde sempre nos encontramos é um dos nossos lugares favoritos: cheia de plantas suspensas, móveis de madeira e uma iluminação suave. O cheiro do café recém-passado mistura-se com o som suave das conversas ao fundo, criando uma atmosfera aconchegante. Sempre que estou aqui com Duda, sinto que posso confessar qualquer coisa sem que o mundo inteiro preste atenção.

— Você tem certeza de que entendeu a situação? — Ela ainda parece incrédula. — A Valentina apareceu no seu quarto de madrugada? Sério?

Dou de ombros, tentando esconder o nervosismo, e tento soar mais descontraída do que realmente me sinto.

— É, Duda, foi isso que aconteceu. Mas não é como você está pensando. Ela só queria ajuda pra encontrar o gato dela.

Duda ri, ainda balançando a cabeça.

— Claro, claro… Porque todo mundo invade o quarto de alguém no meio da noite só por causa de um gato perdido.

Eu olho para o café, sentindo o calor da bebida na minha mão. No fundo, sei que Duda tem razão. A situação parece até absurda, mas foi exatamente assim que aconteceu.

— Tá, mas a verdade é que... — Tento continuar, mas sou interrompida pelo sorriso de Duda, que já está de volta à sua posição descontraída.

— Aham, e qual é a parte que você está tentando esconder? Porque eu te conheço. Eu vi o quanto você era obcecada com a Valentina, observando ela de longe, quase como uma espiã. Você não consegue dizer que não ainda gosta dela, Luiza. 

Sinto um nó se formando na garganta, mas tento esconder o desconforto com um suspiro.

— Isso foi há séculos, Duda! Eu tinha 14 anos, estava tentando entender o que sentia. Agora não faz mais sentido. Eu realmente tentei superar, sabe?

Duda solta uma risada curta, mas divertida.

— Você acha que eu não sei disso? Só porque você tentou se convencer que a superou, não significa que tenha realmente superado, Luiza. No fundo, você ainda quer que ela repare em você. E isso te assusta.

Eu olho para a janela, tentando organizar meus pensamentos, mas ela tem razão. Tudo aquilo que eu tentei esconder, engolir, ainda está lá. Não importa o quanto tentei seguir em frente, Valentina sempre volta à minha mente, principalmente quando menos espero. Como agora.

— Eu não sei, Duda — admito finalmente, sentindo o peso da confissão. — Eu queria que fosse mais simples. Queria que os meus sentimentos fossem algo que eu pudesse controlar, entende? Mas parece que não é assim que funciona.

Duda me olha com os olhos suaves e compreensivos, e pela primeira vez em muito tempo, ela não me provoca, nem brinca. Ela simplesmente segura minha mão por um instante, como se quisesse me transmitir algo que palavras não poderiam.

— Se tem uma coisa que você precisa entender, Lu, é que ninguém controla o coração. Ele faz o que quer, e nós… Bem, o que nos resta é acompanhar o ritmo.

Eu sorrio, meio triste, porque sei que ela está certa. Não importa o quanto tente fugir disso, o fato de ainda ter sentimentos por Valentina me deixa vulnerável. E talvez seja isso que eu tenha medo de admitir: que, mesmo depois de tanto tempo, ela ainda tem poder sobre mim.

Atrávez na minha janela (Em Revisão, sujeito a Mudanças)Onde histórias criam vida. Descubra agora