— Como é que é? — Duda, minha melhor amiga de infância, quase cospe sua bebida na minha cara. Sempre tomamos café da manhã juntas.
— Sim, é exatamente o que você ouviu — confirmo, suspirando, antes de beber um pouco do meu café.
Duda ri, balança a cabeça, ainda incrédula, e toma mais um gole do seu cappuccino. A cafeteria onde sempre nos encontramos é um dos nossos lugares favoritos: cheia de plantas suspensas, móveis de madeira e uma iluminação suave. O cheiro do café recém-passado mistura-se com o som suave das conversas ao fundo, criando uma atmosfera aconchegante. Sempre que estou aqui com Duda, sinto que posso confessar qualquer coisa sem que o mundo inteiro preste atenção.
— Você tem certeza de que entendeu a situação? — Ela ainda parece incrédula. — A Valentina apareceu no seu quarto de madrugada? Sério?
Dou de ombros, tentando esconder o nervosismo, e tento soar mais descontraída do que realmente me sinto.
— É, Duda, foi isso que aconteceu. Mas não é como você está pensando. Ela só queria ajuda pra encontrar o gato dela.
Duda ri, ainda balançando a cabeça.
— Claro, claro… Porque todo mundo invade o quarto de alguém no meio da noite só por causa de um gato perdido.
Eu olho para o café, sentindo o calor da bebida na minha mão. No fundo, sei que Duda tem razão. A situação parece até absurda, mas foi exatamente assim que aconteceu.
— Tá, mas a verdade é que... — Tento continuar, mas sou interrompida pelo sorriso de Duda, que já está de volta à sua posição descontraída.
— Aham, e qual é a parte que você está tentando esconder? Porque eu te conheço. Eu vi o quanto você era obcecada com a Valentina, observando ela de longe, quase como uma espiã. Você não consegue dizer que não ainda gosta dela, Luiza.
Sinto um nó se formando na garganta, mas tento esconder o desconforto com um suspiro.
— Isso foi há séculos, Duda! Eu tinha 14 anos, estava tentando entender o que sentia. Agora não faz mais sentido. Eu realmente tentei superar, sabe?
Duda solta uma risada curta, mas divertida.
— Você acha que eu não sei disso? Só porque você tentou se convencer que a superou, não significa que tenha realmente superado, Luiza. No fundo, você ainda quer que ela repare em você. E isso te assusta.
Eu olho para a janela, tentando organizar meus pensamentos, mas ela tem razão. Tudo aquilo que eu tentei esconder, engolir, ainda está lá. Não importa o quanto tentei seguir em frente, Valentina sempre volta à minha mente, principalmente quando menos espero. Como agora.
— Eu não sei, Duda — admito finalmente, sentindo o peso da confissão. — Eu queria que fosse mais simples. Queria que os meus sentimentos fossem algo que eu pudesse controlar, entende? Mas parece que não é assim que funciona.
Duda me olha com os olhos suaves e compreensivos, e pela primeira vez em muito tempo, ela não me provoca, nem brinca. Ela simplesmente segura minha mão por um instante, como se quisesse me transmitir algo que palavras não poderiam.
— Se tem uma coisa que você precisa entender, Lu, é que ninguém controla o coração. Ele faz o que quer, e nós… Bem, o que nos resta é acompanhar o ritmo.
Eu sorrio, meio triste, porque sei que ela está certa. Não importa o quanto tente fugir disso, o fato de ainda ter sentimentos por Valentina me deixa vulnerável. E talvez seja isso que eu tenha medo de admitir: que, mesmo depois de tanto tempo, ela ainda tem poder sobre mim.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Atrávez na minha janela (Em Revisão, sujeito a Mudanças)
FanficLuiza vive um amor platônico por sua vizinha Valentina desde que se mudou para a casa ao lado. Mas Valentina sempre a ignorou.Apesar de ter uma vista privilegiada do quarto de Valentina, não é o suficiente para Luiza e ela acaba desistindo de...