2: A Vizinha.

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Eu odeio ser interrompida quando estou dormindo. É uma das poucas coisas que realmente me irritam. Normalmente, sou uma pessoa tranquila e pacífica, mas basta me acordarem no meio do sono para que meu lado sombrio venha à tona. Um barulho vindo do lado de fora da minha janela me acorda. Fico me revirando na cama, tentando ignorar, cobrindo a cabeça com os travesseiros e tampando os ouvidos com o edredom. Mas não consigo voltar a dormir. Irritada, jogo o travesseiro para o lado e me sento, murmurando palavrões.

De onde vem esse barulho infernal?

Eu estava no meio de um sonho, o tipo de sonho que te envolve de tal forma que você quase não quer acordar. Mas o som… aquele som. Era como se alguém estivesse batendo incessantemente na porta da minha mente. Era impossível ignorar. Eu sabia que não podia continuar ali, sonhando, enquanto aquela barulheira insistia.

Levantando-me como um zumbi, caminho até a janela. A brisa fria entrando pelas cortinas me dá calafrios. Normalmente, durmo com a janela aberta, nunca me importei com barulhos à noite, mas, aparentemente, isso mudou.
Quem será que está fazendo tanto barulho a essa hora?

Meus olhos se fixam em uma silhueta no quintal. Alguém andando de um lado para o outro, revistando tudo o que encontra pela frente. Mas, dessa vez, não é Léo. É ninguém menos que minha vizinha, Valentina.

Se eu fosse descrever Valentina, diria que ela é a garota mais charmosa que já vi. E olha que já vi muitas por aí. Ela é alta, com um corpo atlético e um rosto bem fino, com maçãs do rosto bem desenhadas. Seu nariz parece ter sido feito sob medida, e os lábios carnudos, com um piercing no lábio direito, são simplesmente perfeitos. Já perdi as contas de quantas vezes sonhei em beijá-los. Seus olhos são de um azul profundo, como o oceano à noite.

O cabelo, preto como tinta, brilha contra sua pele branca e suave. Mas é nas costas que ela esconde um segredo. Quando usa blusas que mostram a pele, dá para ver as fases da lua tatuadas ao longo de sua coluna, como se fossem constelações.
Eu já vi essa tatuagem muitas vezes quando a observava pela janela, sem que ela soubesse.
Além dessa, Valentina tem outras tatuagens espalhadas pelo corpo. Alguns dizem que ela tem até mais do que consegue contar.

Eu, pessoalmente, já vi uma pequena frase no pulso que não consegui identificar e um desenho abstrato em seu tornozelo. Ela nunca deixa ninguém ver muito, mas quando a observo, sei que há algo de misterioso em todas essas marcas. Talvez sejam só desenhos, mas para mim, elas sempre parecem guardar um significado que ela nunca revela.

Valentina sempre carrega uma aura de mistério e perigo, e, na verdade, isso foi uma das razões pelas quais me afastei dela. Agora, ela está descalça, vestindo um short fino e uma blusa xadrez. É só uma questão de tempo até eu começar a xingá-la, mas então, algo acontece. Ela levanta o rosto e me vê. Seus olhos azuis se encontram com os meus, e nunca tivemos um olhar tão direto. Olhos frios como gelo.
— Precisa de alguma coisa? — A voz de Valentina é sem emoção, quase desinteressada.
— Eu é que pergunto. — Respondo, mal-humorada, tentando controlar a frustração. — O que você está fazendo no meu quintal, fazendo todo esse barulho?

Ela não responde de imediato, apenas me encara com um olhar que parece me atravessar. Isso só me deixa mais irritada, a sensação de que ela não tem nem um pingo de consideração por nada nem ninguém.

— Seu barulho me acordou. — Acrescento, como se fosse óbvio. Parece que ela nunca se importa com o que os outros estão passando.
— Você tem boa audição, então. Seu quarto fica bem longe. — Ela diz, sem um pingo de preocupação. A indiferença é tão forte que chega a ser irritante.

Eu franzo os lábios, indignada com a falta de qualquer remorso. Ela continua a me observar, sem uma expressão que sugira que se importa. Após alguns segundos de silêncio desconfortável, Valentina me encara de novo, sua sobrancelha arqueada em desafio. E então, como se a situação fosse completamente normal, pergunta:
— Vai ficar aí a noite toda?
Meu coração acelera um pouco, e a frustração toma conta de mim. Tento não mostrar o quanto aquilo me incomoda, mas não consigo esconder o tom sarcástico que escapa da minha boca.

Atrávez na minha janela (Em Revisão, sujeito a Mudanças)Onde histórias criam vida. Descubra agora