Atrávez na minha janela (Em Revisão, sujeito a Mudanças)

6: Sensações à Flor da Pele

Hoje foi o dia mais estranho da minha vida. Estou deitada aqui, na cama, com os pensamentos voltados para algo que eu não deveria estar pensando: nos olhos azuis de Valentina me encarando, ela em cima de mim. Deus, eu não deveria ter gostado disso.

Ainda com o uniforme escolar, como se eu tivesse voltado aos meus 15 anos. Distraída, me aproximo da janela. Será que ela está por ali? Meu coração dispara. Por que estou me sentindo assim? Abro as cortinas e olho para a casa de Valentina. Da minha janela, consigo vê-la bem, já que ela sempre deixa as cortinas abertas.

Adormeci enquanto estudava. Minhas costas estão doloridas, o peso da cadeira na minha coluna me incomodando. A luz do quarto está um pouco forte, e o cansaço já toma conta de mim. Me levanto da cadeira e, sem muita vontade, deixo tudo do jeito que está. Fui ao banheiro, arranquei as roupas rapidamente e me meti debaixo do chuveiro.

Quando a água quente bate no meu corpo, um gemido involuntário escapa. É tão bom, tão relaxante. Foi um primeiro dia bem agitado, não só pelas aulas, mas por tudo o que aconteceu. O nome de Valentina me vem à mente, quase como se ela estivesse ali, me observando.
Tremo só de pensar nela, em tudo o que aconteceu. Dentro daquele carro... aqui, na minha sala. Um arrepio percorre meu corpo, não deveria estar assim. A água quente está perfeita, mas meu corpo reage de forma diferente. Passo sabonete, espalho a espuma e, meu Deus, só de pensar nela, fico assim?
Desligo a água quente e ligo a fria, buscando um choque térmico que me faça parar.

Vários xingamentos vêm à minha cabeça, mas eu me forço a ignorá-los. Tento me concentrar na água fria que agora cai sobre meu corpo, esperando que ela me traga algum alívio, alguma sensação de normalidade. Eu não devia estar pensando em Valentina assim, não devia ter deixado isso acontecer. Mas o que aconteceu entre nós... Não posso negar que me mexeu de uma forma que eu nunca imaginei.

Me enfio debaixo da água fria, sentindo o choque percorrer minha pele, tentando apagar as imagens dela, o jeito como seus olhos azuis me olharam, como ela estava ali, perto de mim. Mas é difícil. Eu sei que vai ser difícil esquecer o que aconteceu.

Quando saio do banheiro, coloco uma muda de roupa confortável e suspiro, tentando afastar os pensamentos confusos. Meu computador está aberto, a tela ainda acesa, me lembrando do tanto de coisas que preciso resolver. Os livros estão empilhados no canto da mesa, com post-its coloridos colados em cada página importante, todos marcando o que ainda preciso revisar.
Olho para o material espalhado e tento me focar no que está na minha frente. Já tenho muito o que fazer, e a última coisa de que preciso é ficar pensando em Valentina e no que aconteceu hoje. Mas, por mais que eu tente, sinto um impulso estranho que me faz pegar o celular e, quase sem pensar, abro as mensagens, me perguntando se, talvez, ela tenha mandado algo.

Perco a noção do tempo, mas ouço a porta da sala se abrir e os passos leves da minha mãe pelo corredor. Ela surge no sofá com a elegância de sempre, apesar do longo dia de trabalho. O cabelo dela está impecável, e as roupas, sem um único vinco. Está absorta no celular, mas ao notar minha presença, me oferece um sorriso suave.

— Oi, filha. Como foi o dia? — Ela pergunta, com aquele tom tranquilo que só ela tem.

— Foi... normal, acho. Muita coisa para fazer — digo, tentando esconder a agitação.

Ela me observa, atenta, como se enxergasse além das palavras, e eu sei que, mesmo sem perguntas, já percebeu que algo está diferente.
Minha mãe é uma mulher forte, alguém que sempre me inspira. Mesmo com a rotina exaustiva de médica, ela nunca deixa de me dar atenção e de manter a casa em ordem. E mesmo após um plantão longo, ainda exala uma serenidade que me conforta.

— E o seu? — pergunto, me sentando ao seu lado.

— Cansativo como sempre, mas nada que me impeça de aproveitar minha filha. — Ela sorri e, antes que eu perceba, me puxa para um abraço apertado.