9: O trabalho de literatura

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Apesar dos jogos e provocações, Valentina e eu somos uma dupla. E eu preciso manter minhas notas altas. Depender dela para isso é horrível, mas, de algum jeito, acaba acontecendo.
Estamos na biblioteca da escola, revisando os últimos detalhes do trabalho sobre Dom Casmurro. Valentina está ao meu lado, sentada na cadeira, dando conselhos e opiniões.

— Você sabia que o Bentinho, no fundo, está falando de si mesmo quando se refere à vingança? — Valentina diz, sem desviar os olhos do celular, mas com a voz cheia de certeza. Ela não parece nem um pouco desconcentrada, e isso me irrita.

Eu paro por um segundo, olhando para ela.

— Não sabia que você sabia tanto assim de literatura. — digo, a surpresa transparecendo na minha voz. Eu não esperava que Valentina fosse tão... profunda sobre esses assuntos.
Ela me lança um olhar rápido, ainda com o celular nas mãos, e sorri com um ar de quem sabe exatamente o que está fazendo.

— Eu não sou só um rostinho lindo, Luiza. — Valentina responde com uma risada, como se a frase fosse uma brincadeira, mas ao mesmo tempo, havia uma certa sinceridade nas palavras dela.

Eu fico em silêncio, meio sem saber como reagir, mas a curiosidade sobre o que ela está dizendo me faz continuar ouvindo.

— Mas é justamente isso. Ele se vinga por um motivo egoísta. A vingança dele não é só contra Capitu, é contra a própria vida. Ele nunca consegue superar a ideia da traição. E isso consome ele. — Ela olha para mim agora, com uma expressão que, de alguma forma, faz até o tema de Dom Casmurro parecer mais interessante.
Eu fico pensativa por um momento, tentando entender o que Valentina quer dizer com isso. Ela parece ter uma visão tão única das coisas, e me dá vontade de tentar entender mais.

— Nunca pensei dessa forma. — eu confesso, e sem querer, me pego mais envolvida no assunto do que eu imaginava.

Valentina me observa, sorrindo com aquele ar de quem se sente realizada por ter conseguido me fazer pensar de uma forma diferente.

— Bom, é isso que acontece quando você realmente lê e tenta entender— Ela dá de ombros, como se fosse algo simples.

Eu fico em silêncio por um momento, absorvendo o que ela disse. Valentina tem uma maneira de olhar para as coisas que eu nunca tinha considerado, e, por mais que ela me incomode às vezes, não posso negar que ela tem razão em muitos aspectos.

— Eu vou tentar olhar para isso de outra forma. — digo, de repente sentindo que talvez ela tenha me dado a chave para entender mais do que eu achava que sabia.
Valentina sorri, satisfeita, e volta a olhar para o celular.

— Esse é o espírito. Não tem segredo, Luiza, é só se entregar ao que você está fazendo.

E assim, entre risos e provocações, continuo trabalhando, mais motivada do que antes, talvez pela maneira como Valentina conseguiu, de forma tão inesperada, me fazer enxergar o trabalho de uma nova forma.

O som constante de notificações interrompe o silêncio entre nós, e, de repente, os dois celulares começam a vibrar. Eu pego o meu, sem muito interesse, mas, ao olhar a tela, vejo que uma notificação chama minha atenção. O nome de um dos grupos que eu sigo na escola pisca na tela.
“Novo casal no IDE!” O título é claro, e abaixo dele aparece uma foto de Rick beijando Duda, em um momento de pura espontaneidade, quase como se não se importassem com quem os estivesse observando.

Eu deixo escapar um suspiro baixo, sem saber se fico impressionada ou incomodada com o quanto aquele beijo de Duda e Rick já está circulando por aí. Quando olho para Valentina, ela parece ter percebido a minha reação.

Atrávez na minha janela (Em Revisão, sujeito a Mudanças)Onde histórias criam vida. Descubra agora