CAPÍTULO 02

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Senti uma cutucada nas minhas costas e olhei, era Paulo que me trouxe de volta para a realidade. Voltei a olhar o rapaz que estava com a mão estendida para mim.

— B-bom dia, prazer, meu nome é Anastácia.

— Prazer, Anastácia, meu nome é Fernando. — Assim que demos as mãos, ele virou e puxou para perto de sua boca e beijou o dorso da minha mão.

— Com licença, vou trazer um café.

— Obrigada, Paulo. Sente-se, por favor. Soube do seu interesse em fazer negócios com a minha empresa. Então me diz, Senhor Fernando, o que minha empresa ganha fazendo negócios com você? — Fui direta ao assunto, não queria ladainhas.

— Primeiramente, quero expressar minhas condolências pelo ocorrido com seus pais. Soube da trágica notícia, porém estava fora do Brasil. Anastácia, conhecia seus pais há um tempo e realizamos vários negócios juntos, todos bem-sucedidos, graças a Deus. Estávamos planejando fazer mais um de sucesso e, infelizmente, essa tragédia aconteceu. Vim até o Brasil pois escutei rumores de que a sua empresa não vai bem. Confesso que recebi a notícia tarde, se não eu teria vindo antes para me apresentar. Sei que precisa de dinheiro para investir nos lucros de sua empresa, e eu posso te ajudar com este problema. Recebi milhões fazendo negócios com seu pai e, com o tempo, conheci investidores importantíssimos que, sem dúvida, teriam interesse em fazer parte da sua empresa.

— Certo, e me diz por qual motivo esses seus investidores têm interesse em minha empresa?

— Anastácia, seu pai era um homem importante no ramo de negócios. Todos queriam ser sócios dele, porém ele era um homem desconfiado. Entendo o lado dele, realmente, quando falamos em negócios, há muitos vigaristas. Tanto eles quanto eu queremos ser seus sócios. Todos, de alguma maneira, têm um carinho especial por seu pai, e ninguém que conviveu com ele dentro dessa empresa quer vê-la decretar falência.

— Certo, e por que deveria confiar em você? Você pode ser um vigarista.

— Entendo sua preocupação, Anastácia. Você é igual ao seu pai e admiro isso em você. Lembro como se fosse hoje que o conheci. Seu pai foi um tanto complicado de confiar em mim, mas aos poucos mostrei que sou um homem de confiança e de palavra. Desejo que confie em mim também, quero fazer uma parceria.

— Não sei, Fernando. Preciso pensar. Mesmo você dizendo isso, não estou cem por cento confiante em você. Minha empresa não está em seus melhores dias, porém não vou deixar qualquer um entrar e fazer o que bem quiser. — Não sei, minha cabeça está confusa com o que ele diz, mas também não posso recusar ajuda, já que a empresa está em um momento crítico.

— Certo, entendo seu ponto de vista e não vou te forçar, mas pensa melhor na minha proposta. Conheço seu pai, conheço os negócios da sua família, deixa-me ajudar você. O que acha de nos vermos daqui a duas semanas? Assim, você poderá pensar melhor sobre minha proposta.

— Combinado, vou pensar em sua proposta, porém não fique confiante, Fernando. — Apertamos as mãos e pedi para Paulo acompanhá-lo até o elevador. Voltei para a minha sala e, depois de 5 minutos dentro dela, escuto alguém bater na porta.

— Entre.

— Licença, Anastásia.

— Entre, Paulo.

— Desculpe pela pergunta, sei que não é da minha conta, mas como foi a reunião?

— Olhei para ele e descansei minhas costas na cadeira. — Sinceramente, fui péssima. Não sei nem o que pensar, nunca tive reuniões de negócios. É difícil tomar decisões sozinha, principalmente em algo tão importante como este. Ele diz conhecer meus pais, mas será mesmo? A realidade é que não posso cruzar os braços para quem está estendendo a mão para me ajudar.

— Não gostei desse sujeitinho, Anastasia. Ele me passa um ar de desconfiança. Quem ele pensa que é para beijar a sua mão?

— Olhei para ele e dei um sorriso de lado, sabia o que ele estava querendo dizer. — Ele me deu duas semanas para pensar.

— Desculpa por me intrometer, mas a minha opinião é não para ele como sócio. Porém, se for parar pra pensar, não podemos recusar. E caso aceite a proposta que ele tem a oferecer, peço que tome cuidado e vigie até a sombra dele dentro dessa empresa, se for necessário.

- Realmente, você tem razão. Estou exausta, acabei deixando essa empresa ir para o buraco.

- Não pense tão negativo. Estou aqui para te ajudar. Essa empresa é como se fosse minha família, vou protegê-la e principalmente você.

— Levantei-me e fui até ele, abracei em forma de agradecimento e dei um beijo em seu rosto. Senti sua respiração próxima ao meu rosto e olhei para ele, senti algo me esquentando e me afastei dele, voltando para minha mesa. — Bom, tenho duas semanas para pensar, não posso ficar louca.

— C-certo, bom, vou voltar para o meu lugar. Bom trabalho.

Respondi com um balançar de cabeça e, após um longo dia, fechei o notebook, peguei meu celular, olhei as horas e eram 23:30. Meu Deus, estou atrasada! Peguei minha bolsa e corri para o carro, fui em direção ao encontro com a Maria. Deixei meu carro mais longe do local combinado e passei por entre os matos, conseguindo vê-la com a lanterna do celular ligada.

— Meu Deus, que demora.

— Desculpa, perdi o horário. Por que pediu para a gente se encontrar aqui? — Perguntei, limpando minha calça de carrapicho.

— Hoje é plantão, então só estamos eu, os caras que cuidam da câmera e os policiais. Dei uma pequena dosagem de sonífero para eles e os outros saíram para procurar o que comer. Porém, precisamos ser rápidos, não sei que horas eles vão voltar ou acordar. — Desliguei a luz geral da delegacia e entrei por um buraco que tinha na cerca. — Só estou fazendo isso porque vão tirar daqui amanhã as pistas e vão levar para outro lugar.

— Eu não entendo, tem algo errado, eles não me contam nada. — Estou frustrada com o rumo dessa investigação.

— Tenha calma, amiga, eles não vão contar sem ter uma prova concreta. — Peguei a chave, destranquei a porta do arquivo e fui direto na caixa onde foram guardados os objetos encontrados dentro do carro. — Aqui chegamos. — Liguei a lanterna. — Foi encontrada uma arma e algumas coisas dentro do carro, mas não sei se isso serve para achar o culpado. — Anastácia, num pulo, pegou um plástico onde continha uma corrente prata com crucifixo.

— Maria, lembro desse colar. Estava no pescoço dele naquele dia em que ele matou os meus pais. — Passou um momento da cena na minha cabeça.

— Você tem certeza disso? Eles vão te perguntar.

— Mas é claro que lembro, na hora em que ele pegou minha mãe pelos cabelos e jogou perto do meu pai, a corrente saiu de dentro da camisa.

— Infelizmente é tudo isso que tenho para te ajudar, precisamos sair daqui.

Concordei com ela e ao sairmos de dentro daquela sala, uma sensação de raiva e ódio me atingiu, e Maria percebeu meu estado.

— Amiga, respira. Eu sei que está sendo difícil essa situação sem ter respostas. Estou fazendo o melhor que posso, mas não está ao meu alcance. Eles estão retendo qualquer informação de mim porque sabem que somos amigas.

— Isso não é motivo, Maria. Eu não vou me cansar até encontrar o maldito, e você pode ter certeza de que se eu o achar, você vai me prender por homicídio doloso, e não vou ter nenhum arrependimento por ter matado aquele imundo. — Falei olhando nos olhos dela com ódio em cada palavra que saía da minha boca. Se a justiça não faz nada, eu serei a justiça.

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