Capítulo 8

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Onde estamos
Eu não sei onde estamos, mas vai ficar tudo bem
Where We Are – The Lumineers

– Preparar para fechá-la. – Jackson Scott Hill ordena após retirar o tumor de três centímetros que estava sobre o pulmão direito de Hope, uma das pacientes que eu acompanho há longos meses.

Aperto os meus olhos para observar atentamente a tela que mostra o seu pulmão exposto. Estou no andar de cima, apenas assistindo a sua cirurgia através da parede de vidro porque prometi à Hope que o faria. E, então, eu noto algo estranho a poucos centímetros de onde o seu tumor foi retirado.

– Tem outro tumor ali... – Sussurro para mim mesma ao me dar conta do que os meus olhos estão vendo. – Tem outro tumor ali! – Aperto o botão na parede da sala em que eu estou, assim todas as pessoas presentes na sala de cirurgia podem me ouvir.

Jackson ergue o seu rosto por um momento e, então, ele aperta os seus olhos até se dar conta de que sou eu quem está ali em cima.

– Eu retirei tudo, enfermeira Sun. – Ele confirma, balançando a cabeça. Em seguida, ele faz questão de me mostrar a bandeja metálica onde há o tumor retirado.

– Ali, na imagem. – Aponto desesperadamente para a imagem da tela. Há uma massa irregular com aparência diferente do restante do pulmão. Jackson vira o seu rosto para observar atentamente o órgão de Hope. – É outro tumor. Você precisa tirá-lo.

Percebo que ele ergue a sobrancelha, surpreso por não ter notado aquele simples detalhe.

– A paciente está perdendo muito sangue, Scott. – A residente Fortier alerta. – Precisamos fechá-la agora.

– Não! – Eu grito de volta, nervosa. – Vocês precisam tirar tudo!

– Ela não vai aguentar. – Um homem da equipe ergue os seus olhos para mim. – A paciente pode entrar em choque se perder mais sangue aqui. – Ele limpa o canto do corpo de Hope, onde escorre um sangue avermelhado.

– E ela não vai aguentar outra cirurgia. – Respondo, sentindo o meu coração palpitar.

Hope é uma garota extremamente forte, que finge estar bem com as suas piadas e o seu ótimo senso de humor. Mas eu a conheço como a palma da minha mão, porque a minha amiga Saturn era exatamente como ela. Sei que ela não suportará mais rodadas de quimioterapia e muito menos aguentará uma nova cirurgia. E eu sei disso porque, dias atrás, ela brincou sobre largar o tratamento porque não aguenta viver sem conseguir jogar hóquei.

Jackson observa atentamente a sua preceptora, a cirurgiã chefe do departamento oncológico, buscando saber o que deve fazer. É perceptível o desespero transparecendo em seus olhos castanhos, que estão absolutamente perdidos.

– Você é o responsável pela garota, Scott. – A cirurgiã diz, calmamente. – Você que decide o que deve ser feito.

Por longos e torturantes segundos, Jackson Scott passa os seus olhos sobre o corpo exposto de Hope, onde a equipe tenta conter o sangramento da cirurgia; e, em seguida, direciona os seus olhos para mim. Posso ver o seu peito subir e descer com a sua respiração pesada.

– Traga mais uma bolsa de sangue O negativo para a paciente. – Ele volta a sua atenção para os instrumentos cirúrgicos ao seu lado. – Vamos retirar o tumor.

Fecho os meus olhos, completamente aliviada. Finalmente tiro os meus dedos do botão ao meu lado e, instantaneamente, sinto o meu corpo relaxar por inteiro. Porque eu sei que Hope gostaria que todo o tumor fosse retirado imediatamente, a qualquer custo.

Alguns minutos mais tarde, escuto um apito baixo. Viro a minha cabeça, procurando saber de onde o som está vindo. Há algo de errado com a cirurgia de Hope, o que me deixa em alerta.

Flores para SolOnde histórias criam vida. Descubra agora