Capítulo 11

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E o amor é uma coisa engraçada
Está fazendo meu sangue fluir com energia
E está na hora certa
Love Someone – Jason Mraz

– O lugar ideal é a sua casa? – Ele pergunta assim que eu adentro a sala de estar. Os seus olhos percorrem cada milímetro do cômodo, analisando cada pequeno detalhe.

– Onde mais seria? – Respondo, simplesmente. Jogo as chaves sobre a mesinha de vidro e, em seguida, dirijo-me em direção à cozinha para encher o pote de ração de Maggie.

– Quer me levar para casa sem antes me pagar um jantar? – Escuto a sua fraca voz ressoar pelos cômodos silenciosos, porque ele permanece em algum lugar da sala de estar. – Não é assim que as coisas funcionam, lindinha. – E não há emoção alguma em sua voz. Não há alegria, excitação ou provocação alguma. E, então, eu sei que ele ainda está pensando em Max.

Após finalmente colocar a ração da minha manhosa gata, alcanço a garrafa de vinho que estava guardada no fundo do meu armário, junto com duas solitárias taças de vidro. Então, volto-me para a sala, mas não encontro sinal algum de Jackson.

A porta do meu improvisado ateliê de pintura está aberta, e, sem sequer pensar duas vezes, adentro o pequeno e caótico cômodo. Jackson está alternando o seu olhar entre a minha antiga fotografia da escola – onde ele aparece ao fundo –, e a pintura que fiz dias atrás – um garoto e uma garota ao lado de uma grande árvore.

E obviamente ele percebe que se trata de um nostálgico desenho de nós dois, há quinze longos anos atrás.

– É recente? – Ele pergunta, observando atentamente a pintura. Eu apenas balanço a cabeça em concordância e, em seguida, os seus olhos percorrem o meu rosto com grande pesar e carinho, porque ele sabe que eu só pinto quando estou triste.

E como explicar a Jackson Scott Hill que eu pintei este quadro quando ele chamou a residente Fortier para sair? Mas, para o meu completo alívio, ele apenas respira profundamente antes de finalmente pegar a garrafa de vinho das minhas mãos.

– Tem abridor? – Ele volta para a sala, mudando completamente de assunto.

Após abrir a garrafa de vinho, servimos-nos com algumas taças. E, entre um gole e outro da bebida doce e contraditoriamente amarga, Jackson me conta acerca de todo o breve tratamento que ele acompanhou do pequeno Max. Ele me revelou que ambos gostavam do filme Carros, inclusive, em uma das suas sessões de quimioterapia, Jackson assistiu ao filme ao lado de Max.

– Eu me lembro que você tinha o estojo do Mcqueen na escola, e não deixava ninguém encostar nele. – Comento, rindo.

– E você jogou ele no lixo depois que eu roubei o seu cachecol. – Jackson sorri largamente, lembrando-se daquele caótico dia. – Eu fiquei tão nervoso com você, Violet.

– Em minha defesa, você me irritava todos os dias. – Abandono a minha taça de vidro sobre a mesinha de centro e, em seguida, encosto-me sobre o confortável sofá. – E roubar o meu cachecol foi a gota d'água.

– Você me odiava tanto. Tanto. – Jackson fecha os seus olhos e balança a cabeça, levemente. Vejo-o pegar a sua taça para beber um longo gole do vinho branco, em completo e absoluto silêncio. – E continua odiando. – Ele completa, praticamente sussurrando.

– Eu não odeio você. – Junto as sobrancelhas seriamente enquanto um pequeno e espontâneo sorriso nasce em meus lábios. No mesmo instante, Jackson ergue os seus olhos para mim, surpreso. – Quer dizer, eu odeio o fato de você ser um ótimo médico.

– Ah, não. – Ele balança as mãos e os ombros, ironicamente. – Eu sou apenas um residente que não sabe o que está fazendo, não é, enfermeira Sun? – Jackson imita a minha fina voz de uma maneira completamente irritante e irreal.

Flores para SolOnde histórias criam vida. Descubra agora