Capítulo 2

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Ela não mostrava que estava com medo
Mas se sentir sozinha era demais para suportar
Mesmo que todos dissessem que ela forte
A Little Too Much - Shawn Mendes

Avisto um homem alto caminhando pelos corredores movimentados do hospital. Os seus cabelos escuros perfeitamente penteados e, ao mesmo tempo, contraditoriamente rebeldes, revelam a sua identidade. O playboyzinho do ônibus.

Apresso os meus curtos passos em sua direção, sentindo o meu jaleco se agitar ao redor do meu corpo. Alguns fios ruivos cobrem o meu rosto, e eu sou obrigada a arrumá-lo atrás da orelha.

- Você mentiu para mim. - Estou levemente ofegante e irritada, de alguma forma.

- É, eu sei. - Ele dá de ombros. Os seus olhos permanecem fixos nas fichas com as informações dos seus pacientes de hoje. - Não é exatamente um grande prazer conhecê-la. - Ele enfatiza o "grande prazer" que ele usou para falar comigo há dois dias atrás, quando, infelizmente, fomos formalmente apresentados.

- Não estou falando disso. - Guardo as minhas mãos dentro do bolso do jaleco.

- Bom, eu não menti quando falei que você parece um chihuahua quando está nervosa. - Ele finalmente ergue os seus olhos para mim. Aperto os meus lábios em resposta, o que faz o idiota sorrir largamente. - Viu? Igualzinha.

Respiro profundamente, desviando a minha atenção para um ponto qualquer daquele corredor claro e recém esterilizado.

- Jean e Louise terminam juntos no fim do livro. - Murmuro enquanto cruzo os meus braços e respiro profundamente, acalmando-me.

- Ah, é isso? - Ele inclina a cabeça para o lado, levemente. O sorriso em seus lábios apenas se intensifica, e eu noto um leve tremor em seu pomo de adão. Percebo que ele está silenciosamente rindo de mim.

Alguns enfermeiros que atravessam o corredor nos olham, curiosos.

- Olhe para mim, lindinha. - Scott se aproxima de mim, para que ele possa sussurrar as suas próximas palavras. - Veja se eu tenho cara de quem sabe o fim de algum livro idiota de romance.

O quê? O playboyzinho nunca soube o verdadeiro final de Jean e Louise? Então por que ele se deu ao trabalho de mentir sobre o destino dos meus personagens preferidos? Ora, eu não acredito que passei quase duas madrugadas em claro só para ler o livro o mais rápido possível por conta de uma brincadeirinha.

- Livro de romance é coisa de gente solitária e carente. - A sua voz é baixa, quase inaudível. Scott se afasta de mim, e eu posso finalmente soltar o ar preso em meus pulmões.

- Não sou carente. - Defendo-me, sentindo-me na defensiva por conta das suas palavras. Então, sem esperar a sua resposta, volto a caminhar pelo corredor, procurando pelo meu último paciente do dia.

- Mas é solitária. - Escuto o seu baixo sussurro próximo ao pé do meu ouvido. Seu hálito é quente e se choca contra o meu pescoço.

Ao olhar para o lado, encontro-o caminhando ao meu lado, acompanhando cada mínimo passo que dou. Dessa vez não há sorriso em seu rosto enquanto os seus olhos são direcionados unicamente a mim.

- Mas, me conta, enfermeira Sun... - A sua atenção é desviada momentaneamente à identificação do meu crachá, em frente ao meu peito. - Você fica arrasada quando deixa os seus três gatos sozinhos em casa todos os dias? - Ele imita a minha fala do ônibus.

Há há há. Os gatos são, de alguma forma, ligados à solidão feminina. E essa é sua maneira completamente hilária de me descrever como uma garota sozinha, sem qualquer perspectiva positiva em sua vida amorosa: uma viciada em livros de romance com três gatos para cuidar. Uau.

Flores para SolOnde histórias criam vida. Descubra agora