Capítulo 1. Pesadelo

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Violeta despertou em meio a um desespero avassalador, seus gritos ecoaram através do quarto com uma intensidade tão penetrante que as ondas sonoras pareciam se apoderar do espaço. O clamor desesperado dela reverberou de tal forma que as próprias paredes pareciam tremer, e a porta, como se respondendo ao chamado angustiante, cedeu à pressa e se abriu abruptamente, revelando um cenário tumultuado de emoções que preenchia o ambiente com uma atmosfera carregada de aflição.

— Vossa Alteza — O guarda real adentrou o quarto, segurando sua espada, e deparou-se com Violetta, sentada em sua cama. Suas mãos correram pelo rosto suado da princesa. — Está tudo bem?

Violetta permanecia em silêncio, enquanto Vitor a observava com olhos grandes como frutas tropicais, preocupação estampada em sua expressão.

— Apenas tive um pesadelo.

O pesadelo que assombrava Violetta era como uma sombra persistente em sua mente, uma repetição cruel e angustiante que a mergulhava em um abismo de tormento a cada vez que fechava os olhos. Na visão sombria, ela se via novamente desferindo um golpe contra Max, seu amado, em uma cena carregada de desespero e agonia. As noites se transformavam em um ciclo interminável de aflição, onde o pesadelo se desenrolava repetidamente, como uma tragédia que ela não conseguia evitar.

Vitor permanecia ali, imóvel ao lado da cama, observando-a. Desde que se tornara o guarda pessoal da jovem princesa, todas as noites ela despertava em gritos, sempre no mesmo horário, como se os fantasmas assombrassem com frequência.

— Se a senhorita quiser dar uma volta novamente. — A voz de Vitor era uma melodia suave que permanecia no ar.

— Adoraria.

Violetta ergueu-se da cama com um suspiro, envolvendo-se em seu casaco para proteger-se do frio residual do final do inverno. O ar ainda carregava um toque gélido, e os últimos resquícios de neve derretiam sob o crescente calor. Acompanhada por seu guarda, ela dirigiu-se ao grande jardim do castelo.

O que já havia sido um esplêndido jardim florido estava coberto de uma película branca, Violetta deparou-se com uma paisagem sem cores. Era um reflexo da própria princesa, colorida por fora e por dentro apenas um ambiente cinza, como se a beleza que um dia florescera em seu coração tivesse desaparecido, deixando apenas a aridez da saudade.

Enquanto caminhavam pelo jardim, o sol começava a pintar o horizonte com tons suaves de amanhecer. No entanto, mesmo sob a luz reconfortante do novo dia, Violetta se encontrava perdida em pensamentos sombrios, envolvida por memórias dolorosas de Max. O nascer do sol, que deveria trazer renovação, parecia ser apenas uma testemunha silenciosa da tristeza que envolvia a princesa.

— Vossa Alteza? — O guarda chamou-a, e seus olhos não se desviaram do horizonte. — Vamos voltar para dentro; está frio.

— Não sinto frio.

— Seus lábios estão roxos, de frio. Vamos voltar, ou acabará pegando um resfriado.

Vitor retirou seu próprio casaco e o colocou sobre os ombros de Violetta. Silenciosamente, os dois retornaram para o interior do castelo. Violetta desejava, de alguma forma, sucumbir ao frio; sua vida parecia sem sentido, e a felicidade se tornara uma lembrança distante. A morte, naquele momento, parecia ser a única esperança.

Na quietude de seu quarto, Violetta sentou-se em uma cadeira. Levou algum tempo até que os servos chegassem para ajudá-la a se vestir. Seus novos compromissos reais assemelhavam-se a Antonella e sua mãe, ambas tentando se ajustar à nova convivência e proporcionar a Antonella uma sensação de pertencimento.

Após vestir um traje preto, Violetta deixou o quarto, acompanhada por Margarida e Vitor. O luto em seu vestuário refletia não apenas o que estava fora, mas também ecoava a escuridão que envolvia sua alma. O corredor, antes palco de passos leves e risos, testemunhava agora a princesa avançando com uma tristeza que se manifestava não apenas em suas roupas, mas também na atmosfera pesarosa que a seguia.

— Vossa Alteza. — Margarida chamou a jovem com um tom de respeito. — A senhorita tem uma visita.

— A essa hora? — Violetta ergueu uma sobrancelha, surpresa pela visita inesperada.

— Não, alguém está chegando para vê-la.

— Quem? — Violetta indagou, curiosa sobre a identidade do visitante.

— O ministro Alexandre. Ele solicitou uma reunião com a senhorita. Já faz muito tempo desde que ele pediu por isso. Você não pode se recusar a vê-lo, especialmente hoje.

Hoje era o aniversário de Max, o dia em que pela primeira vez eles trocaram juras de amor. Era uma ocasião que costumava aquecê-la com memórias de afeto, como um abraço de verão.

— Está bem, Margarida.

Os passos de Violetta ecoavam pelo corredor, mas por mais que seus pés seguissem firmes no chão, sua mente estava tumultuada, afogada em lágrimas mais uma vez, perseguida pelo pensamento de tirar a própria vida para reunir-se com seu grande amor.

Vitor abriu a porta da sala, revelando um cenário silencioso e sereno. Ninguém havia chegado ainda. Violetta afundou-se em uma cadeira e tomou um gole de seu chá quente, mas mesmo o calor reconfortante não conseguia dissipar a atmosfera de melancolia que envolvia a sala.

— Vossa Alteza, preciso me ausentar por um momento para uma reunião com o chefe da guarda real. — Vitor anunciou sua partida, aguardando a aprovação de Violetta.

Ela apenas acenou em concordância, sem saber da realidade do encontro. Assim que Vitor deixou a sala, seu verdadeiro propósito revelou-se. Sem perder tempo, ele escapou do castelo e correu em direção à mata, buscando seu ponto de encontro. Ao alcançar uma árvore solitária, ele apoiou-se nela, lutando para recuperar o fôlego.

— Lord Vitor Hugo.

— Senhor. — Ele se curvou diante da presença de seu verdadeiro contratante, pronto para receber suas instruções

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