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Foi quando a lua nova surgiu, mergulhando a noite em uma escuridão profunda, que eles se encontraram aos arredores da cidade, longe dos olhares curiosos que espiavam as duas figuras encapuzadas andando pelas ruas de pedra precariamente iluminadas

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Foi quando a lua nova surgiu, mergulhando a noite em uma escuridão profunda, que eles se encontraram aos arredores da cidade, longe dos olhares curiosos que espiavam as duas figuras encapuzadas andando pelas ruas de pedra precariamente iluminadas.

O vulto menor era gracioso, mas seus passos eram traçados com hesitação como se fosse sua primeira fuga noturna; ao seu lado, segurando sua mão, seu amado a guiava como um espectro protetor.

Saíram dos limites da cidade e adentraram na floresta, ele carregava uma tocha para auxiliá-la em seu caminho enquanto caminhavam por alguns minutos antes de chegarem à clareira onde o encontrariam. O pequeno coração humano palpitava como uma canção para os ouvidos das criaturas, um cântico que os hipnotizava.

— Ele está aqui.

Ela franziu as sobrancelhas escuras sem enxergá-lo até finalmente vê-lo surgir em meio às sombras ao se aproximar do fogo. Era a primeira vez que os via lado a lado e, apesar da visibilidade baixa, era possível ver inúmeras semelhanças nas feições sérias.

Foi então que ela sentiu pela primeira vez o fogo lamber seu interior fazendo um mal estar apossar de seu corpo, não estava acostumada com sentimentos tão cruéis. Pendências de uma vida familiar compartilhada os acompanharam em suas mortes e estarem tão próximos depois de décadas trouxe tudo à tona novamente, para completar, ainda tinham a situação de Beatrycze em mãos.

— Eu a encontrei primeiro.

— E eu a encontrei sozinha.

— Parem de se referir a mim como se eu fosse algum animal perdido. — Choramingou. — Parem de brigar, por mim.

— Creio que não será possível.

— Mas é necessário. — A garota bateu o pé. — Como vocês esperam que eu seja feliz durante uma eternidade enquanto vocês brigam ao meu lado?

— Você precisa escolher.

Não podia escolher entre eles. Será que não entendiam isso? Será que não conseguiam sentir a agonia que ela carregava no peito?

Não queria escolher apenas um.

— Consigo sentir a raiva que carregam, sinto o amargor desses sentimentos que compartilham e eles estão me adoecendo, não consigo suportá-los. — Disse frustrada. — Dessa mesma forma, sei que vocês conseguem sentir a angústia que me acompanha nas últimas semanas...

— Você precisa escolher, Tryce.

— Ou escolhemos por você em um duelo.

— Não! — Exclamou apavorada com a ideia. — Não suportaria viver com a dor de perder qualquer um de vocês, será que não entendem? Carrego parte de vocês dois em mim, ambos estão vivos em minha essência!

— Sugiro que você escolha, então. — Disse seriamente. — Escolha um e o outro partirá com a promessa de que os caminhos nunca mais vão se cruzar, mas você terá a certeza de que a outra parte está viva. O que acha, irmão?

— Por mais que eu queira matá-lo com minhas próprias mãos, estou de acordo com você, irmão.

Beatrycze chorava a ponto de soluçar.

Sempre teve certeza do que e de quem ela queria, porém quando finalmente estava prestes a conseguir aquilo aconteceu: uma batida na porta no meio da noite em um momento que seu amado estava distante, a forma que se sentiu finalmente completa quando selou seus destinos oferecendo-se como alimento e a certeza de que seu destino, diferente do que acreditava até ali, era ramificado em dois. Desejava sentir raiva deles, desejava ser consumida por aquele sentimento e deixar queimar, mas não conseguia.

Os irmãos nunca entenderiam como ela se sentia porque para eles sempre foi apenas ela, porém seu coração sempre clamou pelos dois.

Secou as lágrimas com as costas das mãos.

— Irei escolher. — Anunciou após respirar fundo em uma tentativa de se recompor, os olhos violetas ainda brilhosos escureceram. — Não agora.

Os irmãos se entreolharam.

— No meu aniversário escolherei um de vocês, mas até lá desejo que os dois saiam da minha vida para que eu possa ter um tempo a sós, sinto que não seguirei meu coração se continuarmos próximos.

— Seu aniversário é daqui a seis meses.

— Sim, até lá vou viver a vida que meu pai decidir, mas quero que saiba que meu coração pertence a vocês.

— É perigoso.

— Nunca ficamos tanto tempo separados.

— Agora é necessário. — As feições delicadas eram sérias, mas seu interior estava aos prantos e eles sentiam. - Me parte o coração tomar essa decisão, não quero vê-los, não quero senti-los... Eu saberei se estiverem aqui. Peço que, por favor, respeitem-me.

Naquela noite, Beatrycze retornou sozinha.

Naquela noite, Beatrycze retornou sozinha

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𝑬𝒑𝒉𝒆𝒎𝒆𝒓𝒂𝒍 【Saga Anoitecer】Onde histórias criam vida. Descubra agora