Sentia o corpo quente ser partido ao meio quando o grito final rompeu por sua garganta como ferro quente, a sensação de alívio no momento seguinte quando ouviu o pequeno choro invadir o ambiente não foi o suficiente para que ela própria parasse de chorar.
— É uma menina! — A doula exclamou e as demais mulheres ao seu redor começaram a parabenizá-la com certo pesar.
Com os cabelos negros colados em sua pele suada, Beatrycze estava zonza pela força feita, a respiração ofegante tentava sem sucesso se regular e seus músculos estavam trêmulos. A recém-nascida foi entregue em seus braços enrolada em lençóis manchados de carmim os quais ela afastou do pequeno rosto para poder vê-la melhor.
Nojo.
Diziam para ela que aquele sentimento que a acompanhou durante toda gravidez pararia assim que segurasse seu primeiro filho nos braços. Ah, como elas estavam erradas.
— Tirem isso daqui. — Exclamou empurrando-a de volta para os braços da mulher.
— A senhora precisa alimentá-la. — Uma de suas damas de companhia informou. — Precisa criar um vínculo com sua filha.
— Eu não a quero. — Retorquiu grosseira tentando ficar de pé. — O príncipe queria um herdeiro.
— Deixe a princesa descansar. — Teodora anunciou levantando-se e pedindo para que as demais se retirassem. — Leve a criança para uma ama de leite.
Assim que ficaram sozinhas, a ruiva sentou-se na cama e começou a desgrudar os cabelos do rosto da outra, penteando-os com cuidado. O silêncio se estendeu por minutos extremamente longos.
— Não senti nada quando o segurei, Dora. — Beatrycze falou com a voz fraca. — Aquela criança não faz parte de mim.
— Às vezes leva tempo, Bea.
— Não amo a criança, não amo meu marido. — Apoiou o rosto nas mãos. — Eu não os amo, Teodora. Eu conheci o amor verdadeiro e nada disso é comparado, sinto nojo deles.
— Falando novamente de seus contos de fadas?
— Não zombe de mim. — Repreendeu. — Existem mais coisas no mundo do que você acredita.
— Perdão, senhora.
Suspirou.
— A culpa é minha. — Beatrycze se lastimou. — Não estaria passando por isso se tivesse escolhido naquela noite.
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𝑬𝒑𝒉𝒆𝒎𝒆𝒓𝒂𝒍 【Saga Anoitecer】
VampireNenhum dos irmãos acreditava em lendas até que eles mesmo se tornaram uma delas: criaturas da noite amaldiçoadas à escuridão eterna na qual vagavam sedentas, alimentando-se da vida humana para evitar a punição que os aguardava no inferno. Decididos...