Capítulo 10 - Esconder & Revelar

1.4K 148 12
                                    

— Você está se torturando. — Avisou Emily enquanto a observava entornar a segunda garrafa de licor.

— Céus! Por que essa dor é tão difícil curar? Não há licor no mundo que vá me fazer apagar nesse ritmo, pelo amor de Deus! Não há álcool de verdade nessa casa? — Os olhos marejados e a mente turva não permitiam a Andrea racionalizar, não naquele momento, não com seu coração batendo despedaçado.

Maldita burrice de ter se apaixonado por alguém simplesmente inalcançável.

— Eu não tenho nenhuma bebida forte aqui justamente para que você não beba. — Resmungou.

Durante aquele terrível mês Andrea descobriu duas coisas: a primeira era que Miranda não mentia, e a segunda era que isso não era necessariamente uma virtude. Ela havia dito que o tempo a ser dedicado a morena seria escasso, e realmente foi, pois só puderam se encontrar duas ou três vezes fora do trabalho, sempre havia um imprevisto envolvendo suas filhas ou runway para frustrar os planos da morena. Para além disso, ainda que não com palavras, Miranda havia estabelecido que o relacionamento das duas se limitaria ao carnal, e assim era, pois em todas aquelas vezes Andrea não recebeu nenhum cortejo que não fosse com a intenção descarada de levá-la logo para a cama. Sem mentiras. Sem enganações. Sem mais que flertes baratos antes de perderem toda a roupa. Miranda não havia mentido.

Mas por Deus! Andrea estava completamente miserável.

E as garrafas de vinho branco e licor que Emily guardava em seu bonito apartamento certamente não eram o bastante para fazer aquilo ir embora. 

— Talvez você devesse procurar por amor próprio no dicionário. — Sugeriu a ruiva, com seu sotaque carregado e o jeito pedante que Andrea tanto apreciava. — Vai fazer bem pra você.

— Temo que não esteja incluso no dicionário que você me sugeriu para procurar o significado de amante. — Ela revirou os olhos ao ouvir a gargalhada de Emily.

— Serena vem pra cá hoje, você não pode dormir aqui. — Relembrou-a. — Embora eu esteja realmente cogitando cancelar meus planos, porque com aquela quantidade assustadora de álcool em sua casa você vai beber até morrer. — Andrea desprezou o último comentário com um aceno de mãos.

— Eu vou ficar bem, não se preocupe. — Ela juntou algumas roupas dentro de sua bolsa e foi em direção a porta. — Aproveite a noite mágica e a peça logo em namoro.

E ouvindo um xingamento por sua provocação, Andrea finalmente deixou o apartamento de sua amiga em meio a uma risada que logo se transformou em um suspiro melancólico. Naquele dia e especial ela estava se sentindo terrivelmente solitária e isso a levou de volta às memórias tristes de sua infância e adolescência, memórias que fazia questão de apagar de sua mente.

[...]

Andrea caminhava com alguma dignidade pelas ruas de New York enquanto rumava até seu pequeno apartamento, andando sempre com as roupas de grife que a elevavam a perfeição que a revista exigia, atraindo olhares curiosos e interessados, Andrea era uma mulher muito bonita e ela sabia disso. E assim como aqueles que a olhavam só possuíam interesse no seu externo, Andrea se entristeceu ao pensar que o mesmo valia para aquela que era a atual dona de seu coração. 

— Boa noite, senhorita Sachs. — O cumprimento doce e ligeiramente animado fora dado por sua vizinha de portal, Sra. Johnson, uma senhora de 80 e tantos anos, de cabelos grisalhos pela idade e um rosto com traços extremamente gentis. 

— Me chame de Andy, sra. Johnson. — A morena fingiu uma cara de brava, mas que logo se desfez em um sorriso ao ouvir a gargalhada fraca de sua vizinha. 

The SecretOnde histórias criam vida. Descubra agora