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Me olho, pela milésima vez, no espelho e suspiro pesadamente. Ao menos, não estou tão vermelho e inchado como antes, mas a dor continua completamente inteira em cada parte de meu corpo. Entre toda a saudade e angústia, o vídeo de meu avô ainda repete incansavelmente por minha mente e não consigo esquecer cada detalhe.

Eu não gosto de pensar na morte, mas agora, não consigo não pensar. Por que as pessoas que mais amamos são obrigadas a nos deixar? Ou temos que deixar aqueles que nos amam?

Não quero morrer, simplesmente porque não consigo acreditar que a vida possa ter um ponto final. Aceitar a ideia de que até a vida tem limite, é agonizante. Uma vez em um livro, li um poema em que dizia que as pessoas não gostam da morte, pois não conseguem imaginar uma vida sem elas. E sim, eu também acho isso. Não consigo me encaixar em outro lugar, senão com minha família e meus amigos. Não quero outro lugar, senão onde estou agora mesmo.

Ser arrancado daquilo que você já se acostumou ou ama, não é uma coisa aceitável. Assim como eu ter ido embora e abandonado todos, apenas pelo meu prazer e pela minha dor. Sou egoísta e quando erro, uso a desculpa de que errar é humano. Mas o problema está exatamente aí. Errar não é humano, isso só faz parte das desculpas esfarrapadas para justificar um erro. Gosto de errar, mas quando vejo outra pessoa errando, eu simplesmente não gosto, mas somente porque não estou fazendo parte daquilo. Mesmo que me desculpe, vou continuar errando e tentando justificar com outros milhares de erros. O clico nunca acaba.

Fecho a janela e vejo que já não tem mais sol, mas sim uma lua linda e percebo que já anoiteceu. Por que não posso ficar no meu quarto para sempre?

Quando era criança, eu amava Natal, mas só porque ganhava milhares de presentes. Agora? A pessoa nem se preocupa em se desculpar por ser apenas uma pequena lembrança, até porque nem lembrança tem. Vem com a barriga e pronto, já é o presente de todos. Crescer não é tão legal.

Tomo coragem e abro a porta do quarto, já conseguindo ouvir ruídos de vozes e alguns gritos de Niall... Típico. Me aproximo dos degraus da escada e desço calmamente, com medo de demonstrar que estive chorando ou de conter minha vontade de correr para os braços de minha avó para compartilhamos nossa perda. Paro no último degrau e procuro por algum rosto conhecido, logo vendo Zayn e o chamando com as mãos.

- Achei que já não iria mais descer.

- Percebi isso pelas trezentas mensagens que você me mandou. - Digo em desdém, rindo quando o sinto dar um tapa em meu braço e me puxar para um abraço em seguida. Zayn sendo Zayn.

- Não gostei de termos ficado tanto tempo sem nos falar, yeah? - O sinto sussurrar entre meus cabelos, me fazendo suspirar e levar meus dedos aos seus cabelos.

- Foi só um dia, coisa grudenta. - Sussurro, sorrindo e revirando meus olhos. Apesar de ter sentido sua falta.

- Mas já é mais do que o suficiente para sentir saudades. - Retiro meus dedos de seus cabelos e o olho nos olhos. - Como você veio para casa ontem? Não vi você no carro de Liam na volta e ele me disse que você tinha ligado falando que já estava em casa. - Engasgo e tento disfarçar, fracamente fracassando e o lançando um olhar de piedade.

- Depois explico tudo, huh? - Imploro, o vendo assentir desconfiado e me puxar para algum lugar da casa. Abro um sorriso de alívio e suspiro alegremente.

- Chegou o aniversariante. - Escuto minha mãe gritar para meio mundo e sinto meu rosto quase explodir de tão quente. Tento esconder meu rosto com minhas mãos, mas não tenho sucesso algum por serem tão pequenas. Solto um grunhido envergonhado e tento abrir um sorriso simpático, na intenção de saudar todos os familiares presentes na sala e tentando diminuir minha fama de antipático. Na verdade, só tentava ser um pouco simpático por causa de minha mãe mesmo.

Vejo Jay vir em minha direção e abro meus braços, a abraçando fortemente e sussurrando repetidamente como odeio quando ela faz isso.

- Abra um sorriso e vá cumprimentar seus familiares, yeh? Todos querem lhe dar os parabéns. Prometo que mais tarde está liberado para sair e se divertir com seus amigos sem hora para chegar, contanto que apareça depois. Claro. - Forço um sorriso e beijo seu rosto, me lembrando das gêmeas me acordando de manhã para a pequena festa supresa que mamãe tinha preparado para meu aniversário.

Saio de seu abraço, com muita relutância, logo andando pela casa e indo cumprimentar cada pessoa conhecida presa aos meus olhos. Até eles pararem em um único ser, congelando minha visão de todo o resto e me prendendo no chão. Sinto minha respiração falhar e a estranha sensação de calor me consumir. Droga.

Imagens da noite anterior voltam a me perturbar e eu fecho os olhos fortemente, tentando dissipá-las. Infelizmente, abro os olhos novamente e sinto seu olhar preso ao meu. Merda. Gostaria de poder andar, mas parece que só seus olhos ditam o movimento de meu corpo. Momentos do vídeo do vovô também aparecem e me lembro que, em quase todos, Harry estava presente. Sempre com um sorriso e um olhar brilhante. Diferente de agora.

Bem, agora, seus sorrisos são mínimos e os olhares são distantes. Assim como os meus.

O vejo se mover e não consigo me desviar da pontada de dor ao ver seu noivo o prendendo com os braços, sussurrando em seu ouvido e o fazendo rir levemente, mesmo que o ato tenha sido meio forçado aos meus olhos. Tento focalizar em outra coisa, mas meus olhos insistem em ver a cena patética que se passa bem na direção de meus olhos. Vejo Harry tentar afastá-lo discretamente, mas não obtendo sucesso algum. Consigo desviar meus olhos e tento ao máximo impedir que essa cena não afete o restante de minha noite. Mas ao ver vovó, vejo uma reposta contrária de uma noite perfeita. Ela está sentada em um dos sofás da sala e praticamente corro para sentar ao seu lado, deixando para cumprimentar o restante dos convidados depois. Só preciso parar, respirar, me acalmar e fingir que nada está acontecendo. Afinal, depois de desse tempo fora, devo aproveitar meu aniversário feliz e matando a saudade de todos. Nossa, como eu sou péssimo. Assim que me afundo no sofá ao seu lado, seu olhar demonstra preocupação e apenas tento engolir a sufocante angústia que vem me consumindo desde que cheguei aqui.

- Está tudo bem, babe? Você já viu o vídeo e está assim? Ou alguma outra coisa? - Consigo ouvir vovó perguntar preocupadamente e apenas balanço a cabeça em negação, sentindo minha garganta arder e impedir qualquer fala de sair.

Sinto seus dedos enrugados fazendo carinho em minha nuca, puxando alguns fios de cabelo de vez em quando para me acalmar. Ela sabe exatamente o que fazer para me acalmar. Chega a ser surreal.

- Está tudo bem, não se preocupe. - Susussro, sentindo medo de que minha garganta possa explodir se falar alto demais. - Eu amei o vídeo e a carta, inclusive. E eu só queria dizer que sinto muito, mas muit-

- Oh, tudo bem, meu amor... Eu sei que sente. Nunca ninguém irá entender a relação que você, eu e seu avô tínhamos, yeh? Ele estará sempre presente em cada mínimo detalhe nosso, pode ter certeza. - A vejo sussurrar e abrir um sorriso discreto, porém verdadeiro. Abaixo minha cabeça com um sorriso ainda mais discreto e enxugo uma lágrima que conseguiu escapar, implorando para não desabar de vez agora. Lutando para não olhar para onde Styles está sendo envolvido pelos braços de Nicholas, inteiramente feliz e satisfeito com sua vida.

Nunca pensei que amaria tanto alguém assim, me sentindo fraco e triste ao mesmo tempo. Odeio me sentir tão frágil com a presença de Harry, mas amo a sensação de ansiedade que me consome assim que ponho os olhos no mesmo. Não posso negar que Styles está mais em mim do que posso sequer impedir, ele ainda vive dentro de cada átomo que compõe meu corpo.

- Você é a melhor avó do mundo, huh? Não consigo parar de repetir isso. - Suspiro de alívio ao conseguir que minha voz saia além de um sussurro, beijando suas bochechas e desviando os olhos para ver as outras pessoas que estavam na sala, mas logo os abaixando novamente.

- Hora de ser simpático, huh? - Sinto a mão de vovó em meu queixo, me fazendo encará-la. - Apesar de sempre acharmos que nossa família é banhada de falsidade, as pessoas que estão aqui hoje, vieram especialmente para ver aquele Louis brincalhão e sorridente. Se recorda dele? Elas querem ver você feliz, assim como seu avô e Harry. E sim, eu sei que as coisas estão difíceis, mas está vendo onde estou? Então qualquer coisa, é só correr até aqui.

Abro um sorriso e a abraço fortemente, tendo a iniciativa de levantar e tomar coragem para encarar a noite de hoje. Sorria, acene e finja que é o universitário mais feliz de todo o mundo.

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