A viagem feita de ônibus até o interior de Ossoburgo foi passada em silêncio. Luz passou todo esse tempo introspectiva, olhando pela janela do automóvel com uma expressão distante. Amity tampouco disse alguma coisa, a cara enfiada no tablet o tempo inteiro. Não queria que elas brigassem de novo, estava exausta, mesmo que já tivessem se passado dois dias, vinha sofrendo de uma enxaqueca terrível desde que deixou o apartamento da escritora. Tudo o que ela queria era paz, sossego e uma boa noite de sono, já que ao decorrer desses dias, não vinha dormindo direito, as palavras de Luz ficavam se repetindo em um looping infinito na sua cabeça nas horas mais inconvenientes. A advogada ainda estava surpresa pela cacheada ter mandado uma mensagem a ela perguntando se elas ainda iriam procurar por Hunter. No momento presente, Amity gostaria de ter dito não.
Descidas do ônibus, o sol descendo do horizonte anunciando o pôr-do-sol, ficaram 15 minutos em completo silêncio na estação esperando o uber que as levariam até a pousada em que ficariam até amanhã, Luz agora o tempo inteiro com as mãos no celular.
1h45m depois, chegaram à estalagem pitoresca no meio de um monte de nada que parecia seriamente estar em risco de desabamento. As mulheres estavam tão cansadas que nem se importaram com esse fato. Era uma das poucas casas que tinham visto durante a viagem até ali e duvidavam que existissem lugares muito melhores nas redondezas.
Contra todos os seus instintos, mas não podendo ignorar sua verdadeira natureza, Amity se vira para Luz.
– Quer ajuda com as malas? – Pergunta.
Primeiro porque via que a morena estava tendo dificuldade com tantas bolsas e pelo visto dessa vez o uber não sairia do carro para ajudar - já tinha sido pago. Segundo, porque estava tentando agir como uma pessoa decente.
Tinha acontecido... muita coisa. Ela disse muita coisa. E para o bem ou mal, estavam finalmente fora de seu coração, dando a ela uma sensação de leveza e de culpa, afinal, ouvira muita coisa também. E se arrependia. Não do sexo ou da briga, apesar de tudo, pois agora a pergunta que a atormentava há quase três anos havia sido respondida, mas de não ter sido uma boa profissional. Ela detestou a graduação, contudo não odiava tanto assim o seu emprego a ponto de tratar mal as pessoas que a estavam pagando. Ela não culparia Luz se ela fizesse uma ligação para Edalyn e reclamasse de seu comportamento antiético, mesmo que tivesse sido ela a beijada em primeiro lugar.
– Não. Tô bem – a mais baixa responde, nem um olhar lançado em direção a mais alta, quase morrendo para tirar suas malas do porta-malas.
Amity revira os olhos e se aproxima mesmo assim, impedindo que uma bolsa caia no chão e pegando as outras faltando.
– Eu disse que não precisava!
– E eu decidi ignorar – a advogada responde, levando as malas para a recepção, deixando-as junto das suas.
Paciência tinha limites. Se Luz ia ficar brava pelo o que aconteceu, tudo bem, era direito dela. Mas Amity podia muito bem agir como se nada tivesse acontecido.
Na recepção, todas as bagagens para dentro, a escritora tocou o sininho e poucos minutos depois uma mulher de pele clara, loira e olhos verdes apareceu para atendê-las, uma carranca em seu rosto e uma caneca prata que a advogada podia jurar que continha álcool em sua mão. Ela não disse nada, só as fitou parecendo incomodada até que Amity limpou a garganta ruidosamente e disse:
– Boa noite. Temos duas reservas no nome de Amity Blight e Luz Noceda – tenta ser o mais educada possível apesar de estar incomodada pelo mal tratamento.
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Amuleto - Lumity (Adaptação)
FanfictionDepois de abandonar um relacionamento pedestinado ao fracasso, Luz Noceda escreveu um livro e vem cada vez mais solidificando sua carreira como escritora com o seu aclamado romance de estreia, "Amuleto". O problema é quando a mesma história que a le...