Tem uma mensagem de Amity no seu e-mail quando Luz chega em casa, a notificação aparecendo em seu celular. Ela sabe que é dela porque nenhuma pessoa além das relações públicas costuma enviar e-mails para ela. Luz nem sabe o porquê Amity não pediu o seu WhatsApp como uma pessoa normal, mas ela desconfia que seja por causa da distância que a advogada está tentando manter.
Talvez Luz também devesse fazer isso.
Luz deve fazer isso.
Ela só não sabe como ser tão imparcial na frente de Amity quando ela não é nada imparcial em relação à ela.
Luz sente que seu estômago está começando a ficar revirado. Então, apesar de saber que não deve, joga sua bolsa com o smartphone e tudo do outro lado da sala, decidindo ignorar completamente a mensagem. Ela simplesmente não tem energia para lidar tanto com Amity em um dia só.
Jogada no sofá, Luz fecha os olhos e dorme, o peso de tudo sendo forte demais para continuar suportado.
[...]
Quando está quase batendo dois dias que a morena mal sai do sofá e nem faz o restante das suas obrigações básicas, a urgência de suas amigas em falar com ela parece se tornar um caso de vida ou morte, porque seu celular começa a encher de ameaças sobre a polícia estar indo bater no apartamento dela nas próximas horas se a amiga não mandar notícias.
Luz digita lentamente um "estou bem, só tô sem bateria social" e volta a vegetar no local acolchoado até o dia do próximo encontro com Amity chegar, um dia depois e três desde que elas se viram pela última vez.
Luz não conseguiu escrever durante esses dias porque sua escrita é ela e quando os seus sentimentos estão uma merda, tudo o que ela consegue fazer torna-se isso: nada. E aí ela se sente pior ainda por não estar escrevendo, já que vive disso, e tudo vai se tornando um ciclo sem fim.
Sua vida parece estar repleta de muitos ciclos sem fim.
Luz sente falta de quando os seus personagens eram apenas dela. De quando ela ficava horas e horas dentro de um apartamento minúsculo de frente para o metrô, fugindo de sua própria mente, dando problemas as suas criações que ela sabia que seriam resolvidos mais tarde, diferente da sua vida naquele período, que estava praticamente à deriva.
Luz se sente mal por todas as horas até dar a hora do encontro com Amity e ela se ver forçada a tomar um banho e se tornar uma pessoa apresentável à sociedade. Então, antes de sair, a escritora toma um remédio para ansiedade, ou acabaria vomitando em algum lugar, e vai, sem nem pensar direito no que tinha vestido.
No caminho para encontrar Amity, tudo o que ela quer é voltar para a sua casa logo.
Quando Luz desce do uber no local indicado no e-mail, ela precisa admitir que fica impressionada.
A confeitaria é pequena, decorada em estilo vintage. Anos 50 ou 60, é difícil para a cacheada dizer. Ainda do lado de fora o cheiro é de se dar água na boca e da calçada já se escuta um rádio tocando baixinho uma música antiga, porém muito acolhedora. Pelo cheiro instigador, Luz percebe que o lugar também funciona como uma cafeteria, e apesar de ser meio barulhento por causa do tamanho, é o tipo de local que uma pessoa que não é muito ligada em tecnologia amaria.
Luz o ideia instantaneamente.
Jamais admitiria que a senhorita perfeitinha tinha acertado mais uma vez.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Amuleto - Lumity (Adaptação)
Fiksi PenggemarDepois de abandonar um relacionamento pedestinado ao fracasso, Luz Noceda escreveu um livro e vem cada vez mais solidificando sua carreira como escritora com o seu aclamado romance de estreia, "Amuleto". O problema é quando a mesma história que a le...