DÉCIMO SEGUNDO

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"Sobre nós."

Após essa revelação, as mulheres decidem irem fazer suas higienes matinais primeiro, antes de voltarem para cama e sentarem-se uma de frente para a outra, a morena de pernas cruzadas e a advogada com as pernas abaixadas, o dorso virado para ela.

O coração de Amity está martelando em seus ouvidos. Não consegue acreditar no que escutou até agora. Luz queria mesmo conversar? E sobre elas? O que isso significa? Será que ainda existe a possibilidade de um nós? A roxeada se odeia por esperar que sim.

– Sobre nosso passado – ela limpa a garganta, continuando depois da pausa. – Para ser mais específica.

Ah. Já era de se esperar, apesar da mais alta não achar que fosse realmente acontecer.

– Tudo bem – respira fundo. – Também acho que devemos conversar.

Ela não quer se despedir, não quer que Luz diga que quando o processo acabar, elas nunca mais se viram, como provavelmente vai acontecer. No entanto, também sabe que ficar adiando isso não vai adiantar de nada. É melhor arrancar o band-aid de uma vez do que ficar cutucando a ferida.

– Ok, então... Amity... – ela respira fundo, engolindo em seco, apertando tanto as mãos juntas que os nós dos seus dedos estão ficando brancos. – Eu sinto muito.

As sobrancelhas da roxeada se erguem além das linhas da sobrancelha. Ela abre a boca para falar, mas é cortada.

– Não, por favor, só... deixa eu terminar. – Amity assente, em silêncio, apesar de ter um milhão de perguntas rondando a sua mente. – Sinto muito por não perceber o quanto você estava sendo pressionada, por me prender apenas aos meus problemas e ao que eu precisava, por tudo. Nunca pensei que fosse precisar dizer isso, mas eu peço o seu perdão.

Com lágrimas nos olhos, a advogada funga.

– Não tem nada pra te perdoar. Tá tudo bem – responde, automaticamente. Essa é sempre sua resposta padrão todas às vezes em que ela percebe que a ex-noiva está atormentada por alguma coisa e ela pode livrá-la desse tormento.

– Não! Não, Amity, não tá. E não tá faz muito tempo. Olha, não me arrependo de ter te deixado. – Mesmo sabendo, ouvir isso dói como uma faca cravada nas costas. Amity limpa com as costas das mãos as primeiras lágrimas que caem. Não queria chorar, mas é meio inevitável. Essa conversa está muito carregada. Luz a fita com pesar.  – Mas você definitivamente não merecia ter passado por aquilo tudo sozinha.

Amity toma o seu tempo chorando e limpando as lágrimas. É bom finalmente deixar ir e Luz não a interrompe ou apressa.

– Droga, eu tô uma bagunça – ri sem humor.

A escritora lhe sorri gentilmente.

– Não tem problema chorar. É bom botar pra fora.

Ela assente, chorando ainda mais.

– Obrigada – responde alguns minutos depois. – Eu te perdoo. E espero que você também me perdoe algum dia. Eu sei que não cumpri nada do que te prometi, mas eu gostaria que você soubesse...– Soluço. Os olhos de Luz começam a ficar marejados. – Os quatro anos que passamos juntas, mesmo com todas as adversidades, foram os melhores da minha vida. Porque eu finalmente tava junto de você. E eu sinto muito, eu sinto tanto, Luz, que você nunca sentiu isso, porque foi extraordinário pra mim.

Amuleto - Lumity (Adaptação) Onde histórias criam vida. Descubra agora