III

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A sala estava iluminada pelos feixes de luz vindos da janela, silhuetas se movimentavam conforme o ressoar das cortinas pelo vento. Produzindo a sensação da sala estar clareando, e às vezes escurecendo.

Luanne com as mãos sobre a mesa, ansiava por uma resposta. Folheava a prancheta de presença, verificando como de costume, os seus atendimentos do dia.

Rubens, está encostado na poltrona a sua frente, desnorteado. Pensando em cada episódio passado, em uma simples manhã de Terça-feira.

Pensando como será os próximos dias após o seu relato de hoje.

Luanne certamente o julgará como louco assim que disser que hoje seria cravado a sua morte, mas por um milagre estar vivo. Como mágica, para ainda estar em sua presença mais uma vez.

Mas ainda sim, contar tudo que aconteceu não parece ser uma boa ideia para Rubens.

O que é hoje uma consulta, amanhã poderá ser um quarto em branco e terrivelmente macabro ao seu ver pelos filmes que já assistiu.

-Ei, o que houve? - Luanne se inclina para frente um pouco mais. Como tentativa de consolo e também para conseguir o que mais almeja no momento, fazê-lo falar.

Rubens relutava em dizer, mas com um simples movimento dos ombros, a bolsa preta de alça apoiada sobre eles, desliza para a mesa.

Com um leve movimento com a cabeça ele confirma estar entregando todos os seus problemas para ela.

Luanne inclina-se mais ainda, precisando se levantar de sua poltrona. Ela então segura a bolsa pela alça e a abre.

Arregalando os olhos, em imediato, Luanne desvia o olhar para Rubens.

- Foi você? - Luanne diz como se tivesse um mistério no ar.

- Não. - Mais uma vez, Rubens não entrega qualquer detalhe.

- Quer jogar assim? Não me importo. - Ela desvia o olhar de Rubens e abre uma das gavetas de seu lado da mesa, e retira de lá um papel e uma caneta, pondo-os a mesa ela se vira para ele novamente - Quanto mais tempo ficarmos aqui, menos tempo terá para descansar até o próximo dia de trabalho. - Ela sorri, em tom brincalhão.

Ela começa com os seus joguinhos de palavra de ser boazinha para arrancar informações. Sempre quando se sente desafiada. Parecendo sufocar com alternativas cada vez mais difíceis aos aventureiros que buscarem o seu pico. Ela é boa nisso.

Rubens já entende que se continuar assim, hora ou outra não terá saída.

- Tudo bem. - Rubens sorri em redenção . Tentando não parecer nervoso de mais e continuar em prática o seu plano. - Eu fui roubado por três assaltantes. - Ele retoma seco e sem qualquer detalhe.

Luanne se inclina para trás em supetão. Com certeza foi surpreendida. De repente a sua expressão muda.

- Foram eles que te machucaram assim? - Estava encostada na poltrona, paralisada.

- Roubaram tudo, e ainda me machucaram. - Rubens tenta deixar o acontecimento mais real. Ele se aproxima arduamente sobre a mesa. - Tá vendo o porque eu quis ir pra casa? Não foi por qualquer coisa. - Seus traços se enrugam em formato de v.

Neste momento Rubens só gostaria de sumir. Quer continuar guardando consigo o hoje, e pretende guardar até aos seus últimos suspiros.

Isso se ele conseguir partir desse mundo, pensa.

Luanne fica boquiaberta com a atitude de Rubens. Ele nunca agil dessa maneira com ela. Parecia querer revidar, mas parecia lhe faltar forças.

Rubens parece perceber o que havia dito.

A ApariçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora