CAPÍTULO VINTE E CINCO

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A CASA DE PRAIA

   Já fazia pouco mais de quatro horas que Ricardo e eu estávamos dentro do carro dele. Nos bancos da frente, V dirigia concentrado, enquanto Raissa rolava o feed do Instagram. Ele e eu estamos desde ontem sem nos falar, já que tivemos mais uma discussão. Nossos amigos ficaram do meu lado, o que o deixou ainda mais emburrado. Para ficar mais claro, já faz dois dias desde que a festa aconteceu e agora estamos indo para a casa deles em Capri. Ontem, Ricardo tentou me ensinar a atirar e eu acabei descobrindo que ele é péssimo em ensinar algo assim. Além de querer fazer tudo por mim, ele gritava palavras difíceis em italiano, ficando difícil de acompanhar.

   Por fim, eu acabei me estressando e descarreguei um pente nos alvos, acertando dois ou três tiros. Ricardo ficou assustado e zangado, me dizendo que fui imprudente e irresponsável. O pouco de conversa que tivemos foram de bom dia, boa noite e um “eu te amo” que escapou da boca dele quando ele achou que eu já estava dormindo. E sim, ele dormiu me abraçando, mesmo bravo comigo. Mas o que me deixou com raiva foi ele ter desistido das aulas e ter mandado V me ensinar ao invés de continuar tentando.

   — Estamos quase chegando. — murmurou Ricardo, olhando para o lado de fora do carro.

   Murmurei um “okay” e continuei prestando atenção ao meu celular. Minha mãe estava me bombardeando com mensagens eufóricas sobre a viagem deles para a Itália. Eles iriam chegar amanhã, seria quando finalmente iríamos contar para eles sobre o Ricardo.

   — Tem alguma ideia de como contar aos meus pais sobre você ser um mafioso e assaltante de banco?

   — Ainda não, mas já estou me preparando para caso seu irmão venha querer me dar uma surra por te levar para o mau caminho.

   — Você não me levou para o mau caminho. — falei, o encarando com um sorriso divertido.

   Porém, Ricardo não retribuiu o sorriso. Ele me olhou com pena, talvez o arrependimento estivesse matutando na sua cabeça, quase como se só agora ele estivesse olhando para meu verdadeiro eu. Isso me deixou com raiva e tive que me controlar muito para não atirar o celular na cara dele. Por fim, cruzei os braços e virei meu rosto, ignorando qualquer outra coisa que saiu da boca dele. Ricardo até tentou conversar, comentando sobre alguns pontos turísticos, mas eu me esforcei para me manter em silêncio e sem olhar para ele. Talvez eu também estivesse com medo de olhá-lo e ele ainda estar me encarando com aqueles olhos de cachorro que caiu do caminhão de mudança.

   A casa de praia, ou melhor, a mansão de praia, ficava no alto de um pequeno cume. De longe, eu conseguia ver que era só um pouco menor que a mansão de Ricardo, que ficava no Brasil. Porém, ainda era muito bonita. A mansão era toda feita de madeira e tijolos, tinha dois andares e uma garagem para três carros. Havia um pequeno grupo de empregados nos esperando do lado de fora, todos que eu conhecia de quando ainda estávamos no Brasil. Quando saí do carro, não esperei por Ricardo vir abrir a porta para mim, como ele sempre fazia, apenas caminhei em direção aos empregados.

   Todos eles me saudaram com uma reverência e um “boa tarde”. Respondi a todos com educação e um sorriso no rosto. Porém, não esperei por mais nada, simplesmente fui até a porta da frente e entrei. Eliana já estava me esperando do lado de dentro, cumprimentando-me com um sorriso. Pedi para ela me levar até um quarto de hóspedes e, um pouco confusa, ela o fez. O hall de entrada era todo feito de uma madeira escura, havia quadros e esculturas como decorações. No teto, um enorme lustre balançava sobre nossas cabeças. Subimos uma escada que rangeu com nosso peso e Eliana se manteve em silêncio. Acho que eu não devia estar com uma expressão de contente.

   Chegamos em um longo corredor com inúmeras portas bastante espaçadas. Havia mais alguns quadros; alguns pareciam ser antepassados da família Bianchini. Eliana me levou até uma porta e pedi para me deixar sozinho, que eu chamaria caso fosse necessário. Ela apenas concordou com a cabeça e, após uma reverência, saiu em direção ao andar debaixo.

Meu Mafioso (Romance Gay) REVISADOOnde histórias criam vida. Descubra agora