Caminhei por alguns minutos, andei para onde imaginei ser o norte, e então, indecisa, voltei para o sul. No fim, andei em círculos procurando por qualquer coisa, mas não havia nada além de dunas na areia. A sensação de ansiedade ameaçou me tomar, e aos poucos vi nuvens escurecerem, fechando o céu claro, uma chuva imprevista. Raios se abriram, como se uma tempestade horrível estivesse vindo, enquanto sentia meu corpo esquentar de forma anormal, como se algum líquido fervente subisse de meu estomago até o peito, como se expandisse em mim. Meu sangue ainda percorria por mim, mas o ar parecia faltar. Sentia as coisas indo e voltando, fechei os olhos com força, o barulho me consumia, me inundava. Havia som de chuva, mas a água não chegava até mim. Talvez eu estivesse tremendo, ou talvez o chão estivesse tremendo. Não conseguia definir as coisas: eu, o chão, o céu, as coisas. Eram como algo único, inseparável, indeterminado. Algo crescia, dentro de mim, ecoando pelo meu corpo, querendo sair, ou crescer ainda mais do que eu era capaz de suportar. Não percebi que gritava até que tudo tivesse silenciado, e o único som fosse o meu. Até mesmo o vento parecia respeitar meu sofrimento.
Abri os olhos. O que crescia ficou menor, se tornando uma mera lembrança do que poderia ter sido, somente deixando a sensação do estrago que poderia ter feito. Algo sem definição, mas me pertencia, ou queria me pertencer, ou era eu que o pertencia.
Toquei a areia, definindo sua forma, sentindo sua textura, era algo, não um borrão de um conjunto, como uma pintura a óleo, uma coisa só, em um único local. Era algo, palpável, material, real. Enchi as mãos de areia e observei enquanto ela escapava entre meus dedos. Meus olhos desfocaram da areia, encontrando um ponto extravagante em meio ao deserto. O vento voltou a chiar. Observei aquele animal pequeno e esbelto, seu focinho fino e as orelhas pontudas, era magnifico. Não me lembrava de ter visto um animal como aquele, não de verdade. Haviam sido extintos a muito tempo, sobrando apenas animais de criação.
O animal me observava com o mesmo interesse que eu, até se virar e correr para fora do meu campo de visão. Me ergui, confusa, indecisa. Poderia ser uma armadilha, animais eram incomuns pelo mundo todo. Decidi ignorar o perigo e segui-lo, algo em mim me impulsionava a faze-lo, a não ignora-lo. Dei alguns passos enquanto observava um murro parecer emergir da areia, conforme subia a duna onde o animal esteve. Como não havia visto antes? Estava me aproximando de onde foi minha casa, meu lar, durante anos de minha vida. Onde cresci e criei laços, onde amei e perdi muitas garotas. Ao chegar ao topo da duna, tive a visão por completa, o animal entrou no local, onde antes haviam paredes e mais paredes de um longo labirinto, agora estava aberto e em ruínas, o centro, onde morávamos, era verde, como um oásis em meio ao deserto, um paraíso em meio ao inferno.
Observava de longe o local que me trazia uma nostalgia inexplicável. Era uma mistura de diversos sentimentos, feliz e claustrofóbico, saudade e ódio. Dei alguns passos a frente, em sua direção, olhando por onde andava, ao erguer o olhar, me encontrei ao lado das grandes paredes, enormes e imponentes. Me virei confusa, observando o topo da duna, onde tive a impressão de estar a segundos atrás. Talvez estivesse vendo uma miragem, talvez estivesse dopada do sol, ou talvez estivesse me tornando um Crank.
Novamente a criatura passou por mim, dessa vez, dando a volta ao meu redor, próxima como nunca antes havia ficado de um animal. Observei enquanto ele começava a correr pelo Refúgio, sumindo próximo aos dormitórios, uma saudade indescritível me dominou, me fazendo subir as escadas e andar pelas tabuas que sustentavam os corredores do dormitório aberto. Procurei pelo local mais elevado, onde minha rede ficava, além de alguns pertences, ver as coisas no local, recordar todo trabalho que deu fazer aqueles moveis simples, montar aquela estrutura, com as luzes nas copas das árvores que serviam como teto, ver tudo exatamente como me recordava, aquecia meu coração. Mas era estranho como tudo permanecia no mesmo local, como se nada tivesse destruído aquilo tudo, como se nada nunca tivesse acontecido.
-Eu deixei exatamente como você lembrava. - Foi inevitável conter o grito pelo susto de ouvir uma voz tão próxima, me virei pronta para briga, mas nada poderia ter me preparado para aquele momento. Para aquela pessoa.
-Maggie?! - A garota sorriu com a minha surpresa, caminhando até sua rede, não muito longe da minha.
-Senti tantas saudades desse local... de vocês! Depois de tudo, ainda era o único local que eu poderia voltar, que me fazia sentir segura... - Ela fez uma pausa, mas não aguardava respostas, ainda estava em estado de choque, tentando assimilar as coisas, organizar os pensamentos para fazer perguntas, mas não entendia que respostas poderia receber. - É engraçado não? Passamos tanto tempo tentando fugir, e no fim, retornamos até aqui.
-Você ta....Eu... Eu morri?
-Não! - Ela riu, debochada. - Você só ta desacordada.
-Estou dormindo? Isso é um sonho? - As perguntas se embolavam, sem criar qualquer linha lógica.
-Não. Bom, na verdade, em partes! A questão não é essa, você precisa aprender a usar seus poderes, não pode ter medo deles para sempre. Desculpe jogar isso tão rápido, você não tem muito tempo mesmo.
-Eu vou morrer? - Ela me encarou em silêncio, aumentando minha ansiedade.
-Não sei, não vejo o futuro! - Maggie desviou o olhar, se balançando em sua rede de forma calma, pacifica até demais.
-Então como sabe que não tenho tempo?
-Você acordará em breve, era a isso que me referia! - Observei enquanto ela parava de se balançar e se levantava, vindo até mim. Continuei parada, não sabia como agir, o que fazer.
-Eu não entendo...
-Não precisa ter lógica, Toni, você precisa focar no que importa! - Seu semblante pacifico se alterou para uma expressão irritada, era normal ver aquilo quando ia para o labirinto, mas fazia muito tempo que não via aquele rosto, hora tão familiar. - Perguntar como viemos até aqui e porque não é relevante, você vai enlouquecer se procurar por respostas a isso, porque não existe! Foque nos seus poderes, em controla-lo, você precisa disso, precisa deles. Lembre-se de quem você é! Lembre do que esqueceu!
-O que? Do que você ta falando?
-Eu sei que é confuso, acredita em mim, agora eu lembro! Mas eu fui dopada, com você foi diferente, porque eles precisavam que você lembrasse, mas você passou por muita coisa, eles não podiam previr isso, prever o quão forte isso foi, o quão abalada você ficou, mas nada daquilo realmente aconteceu, Toni! Você bloqueou as suas memorias para se proteger, e ninguém sabia! Matteo e Theo não deveriam ir até nós, mas eles estavam entre nós! Toni, presta atenção nele, você sabe quem ele é! E ele vai saber quem vocês são! - Ela apertou meus braços, puxando e empurrando, como se quisesse me fazer lembrar a força. Mas eu não fazia ideia do que aquilo significava, não sabia do que ela estava falando. Matteo, Theo, lembranças apagadas e traumas. O que era tudo aquilo? - Eu sei que ta confuso, eu sei, mas Toni.... pense nisso e observe tudo, você vai entender depois!
Ela me soltou e desceu das árvores com uma facilidade quase felina. Demorei a ir atrás dela, estava confusa demais, ela havia enlouquecido? Eu havia enlouquecido? Ela estava morta, mas eu a estava vendo, em carne e osso, senti seu toque, sua força, ouvi sua voz. Corri para as escadas, descendo o mais rápido que as cordas permitiam, mas não havia sinais dela, para onde havia ido? Procurei por qualquer rastro, que me pudesse levar até ela, não havia nada. Gritei por seu nome, para que me respondesse, mas a única resposta foi um rosnado. Um som brutal que me arrepiou, senti minhas pernas fraquejarem em uma resposta natural aquilo. Juntei forças para me virar, lentamente, para descobrir contra o que iria lutar. Mas foi além de tudo que imaginei, ele era exatamente como aquele animal que vi mais cedo, mas ao contrario do pequeno e doce bichinho, havia uma besta enorme, indecifrável, um contorno de trevas e escuridão, que parecia transbordar de si, sem forma correta, como se fosse uma orbe sobrenatural pronta para engolir qualquer coisa. E antes que pudesse piscar, a escuridão me engoliu.
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The Maze Runner - A Pioneira! || Newt
Teen Fiction"Sujeito 001 - Grupo Beta - A Pioneira" Experimentos: - Teste 07BT número 2 - Impressão Sanguínea Tipo 08 - Modificação Binária BT A5 - Infusão de Metonectalina Apoio dorsal NOTA: Encerrar testes. Modificações extrapolar. O sangue foi intensamente m...