Capítulo 2

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***DULCE***

2005


"Hoje não achei o jeito de estar em paz

Hoje não sei se devo dormir ou não parar

Tento fazer parte da sociedade para exercer 

minha liberdade, e me sinto diluída numa 

mesma mentira,

no vazio que me deixa ser uma pessoa a mais...

Seja você mesmo, procure seu mistério,

imponha-se frente à vida, estabeleça suas ideias

E não desista jamais, não queira ser igual àquilo

que parece normal... não se engane,

seja distinto, não se limite mais

Hoje não achei a felicidade,

buco-a nos ecos daqueles que pedem 

tranquilidade e somente encontro decepção.

Tento fazer parte da mesma ideia, a mesma

que dia a dia nos leva à ruína.

(texto: Seja você mesmo. Livro Dulce Amargo, Dulce Maria)

 

     A solidão parece ter se tornado minha companheira mais constante. Desde que me separei do Poncho, cada dia parece um desafio ainda maior. É como se um pedaço de mim tivesse sido arrancado e agora estivesse vagando por aí, perdido em algum lugar entre as lembranças e os suspiros.

   Todos os dias, quando estou nos ensaios do RBD, vejo Anahí e Maite conversando juntas, compartilhando segredos e risadas. É como se tivessem um mundo só delas, onde eu não tenho entrada. E os meninos... bem, eles parecem ter seus próprios universos particulares, conversando entre si. Às vezes, me pego observando-os, desejando poder me encaixar em suas conversas descontraídas, mas sempre me sinto como a estranha, a que não pertence completamente.

    Hoje não foi diferente. Enquanto ensaiávamos para o próximo show, percebi Anahí e Maite trocando olhares cúmplices, compartilhando segredos que pareciam dançar entre elas. E eu? Bem, eu estava ali, mas não me sentia parte daquele vínculo, daquela harmonia que parecia envolvê-las.

    É irônico como estamos todos juntos, mas ao mesmo tempo tão distantes. Como se cada um de nós carregasse um universo particular, cheio de segredos e sonhos não compartilhados. E no meio desse turbilhão de emoções, me vejo navegando em um mar de incertezas, tentando encontrar meu próprio rumo em meio às ondas tumultuadas da vida.

   Poncho e eu não conversamos mais. Às vezes, me pergunto se ele percebe o impacto de suas ações, se entende a magnitude das cicatrizes que deixou em meu coração.

    Nossas conversas agora são superficiais, refletindo apenas a mínima necessidade de comunicação. Mas, mesmo assim, ele parece fazer questão de me lembrar que tem outros interesses, outros contatinhos, como se estivesse determinado a me provocar.

    E eu me pergunto: para quê? Para infligir mais dor em um coração já dilacerado pelas suas escolhas? Para alimentar seu ego ferido às custas do meu sofrimento? Ele, que foi infiel comigo, parece se esquecer do estrago que causou, das lágrimas derramadas em noites solitárias, das promessas quebradas como vidro frágil.

   Mas posso dizer uma coisa? Tanto o meu afastamento com ele como seus flertes por aí não me incomodam nem pouco. Sei muito bem que meu coração nem liga mais para ele. Meu problema se chama Maite Perroni. 

 Ah, Maite Perroni... A simples menção do seu nome já é o suficiente para revirar meu mundo de cabeça para baixo. É com ela que me vejo verdadeiramente incomodada.

   É estranho como os sentimentos podem se enredar em um emaranhado de emoções complexas, cada uma mais intensa que a outra. Ver Maite ao lado de Anahí, compartilhando risos e confidências, já é o suficiente para acender uma chama de desconforto dentro de mim. Porém, é quando a vejo ao lado de Guido, seu namorado, que sinto uma pontada aguda de tristeza e desânimo. É como se uma faca afiada perfurasse meu coração, rasgando cada fibra de esperança e alegria que ainda restava dentro de mim. Por mais que tente disfarçar, por mais que finja que não me importo, a verdade é que ver Maite nos braços de outro é como um golpe doloroso, uma ferida que se recusa a cicatrizar.

   E então, me vejo presa em um ciclo vicioso de emoções contraditórias, lutando contra a maré de sentimentos que ameaça me arrastar para as profundezas mais sombrias da minha alma. Porque, no final das contas, não importa o quanto eu tente negar, o quanto eu tente fugir, o fato é que meu coração pertence a ela, mesmo que ela nunca tenha percebido. E é essa verdade que me assombra, que me consome nas noites solitárias, que me faz questionar o próprio sentido da existência.

Nunca fomos amigas - SAVIRRONIOnde histórias criam vida. Descubra agora