Capítulo 11

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***MAITE***


Dei um suspiro. Nós duas precisávamos conversar, e essa conversa não podia mais ser adiada.

- Dul. - falei olhando em seus olhos. - Podemos conversar sozinhas?

- Sim... - ela disse ainda séria. - Mas não aqui. Estamos com nossos amigos e maridos.

- Eu vou dar um jeito nisso... - olhei ao redor e procurei Anahí, que já nos olhava com um brilho nos olhos e um sorriso nos lábios. - Você pode deixar a Maria Paula com o Paco?

- Sim, claro. - Dulce me respondeu.

Tentei segurar Maria Paula para que Dulce pudesse se levantar com mais tranquilidade, mas a menina segurou com força roupa da mãe para que eu não a pegasse. Dulce se levantou e foi em direção ao seu marido.

Com um aceno de cabeça, Anahí se levantou e se aproximou, pronta para ajudar. Sabíamos que aquela conversa seria difícil, mas também sabíamos que era necessária.

Anahí sentou ao meu lado e dava para ver que estava super empolgada.

- Vocês estão se falando? - ela disse animada. - sempre esperei por esse momento.

- É... - eu disse um pouco constrangida, sabendo que a culpa era toda minha. - Esse dia finalmente chegou. Mas eu queria um lugar para conversar a sós com ela.

- O quarto de visitas! - Anahí disse prontamente. - Subindo as escadas, terceira porta à direita. Tem uma cama enorme. Podem usar a vontade. O banheiro já fica dentro do quarto, para vocês lavarem as mãos... - disse em tom malicioso e eu dei um rapa no ar, mostrando que aquilo era bobagem.

Rindo da sugestão de Anahí, eu agradeci pela ajuda e nos levantamos. Senti uma mistura de nervosismo e determinação se misturarem dentro de mim. Era hora de enfrentar o passado de frente, de encarar a verdade e buscar a reconciliação.

- Ah, amiga! estou tão feliz por vocês! - Anahí me abraçou - espero que vocês se resolvam. Fica tranquila que eu distraio o Paco e Andrés.

- Obrigada.

Dulce parou em nossa frente, com os braços cruzados e a cara fechada. Ao percebe-la, Anahí saiu dos meus braços e correu para abraçá-la.


***DULCE***

Surpreendida, eu me questionei: "Era sério? Maite realmente queria ter uma conversa comigo?"

Só o fato de ela estar buscando uma aproximação comigo já me deixava atônita. Agora, assumir seus erros e querer conversar estava me fazendo delirar de emoção. Quantos anos eu esperei por esse momento? Eu podia dizer que estava me sentindo nas nuvens.

Porém, não era isso que minha expressão transmitia. Eu estava séria e não correspondia a nada do que ela dizia ou fazia. Só que, ao contrário do que qualquer um poderia pensar, não era por raiva ou vingança. Que nada. Eu estava congelada. Não conseguia expressar nada, por mais que eu tentasse.

Depois do pedido dela, levei Maria Paula para ficar com Paco, que conversava animadamente com o Andrés. Mapí não quis ir com pai e ficou pedindo colo novamente para mim, acho que de verdade, ela queria me proteger.

Ao me aproximar de Maite, a encontrei abraçada com Anahí, como nos velhos tempos, ou melhor, como no dia em que me declarei para Maite. Toda essa cena trouxe à tona uma memória afetiva muito desagradável.

- Duuuul - cantarolou Anahí, me abraçando e falando perto do meu ouvido. - Estou tão feliz que finalmente vocês vão conversar! Aproveita, amiga! E não se preocupa com seus maridos que eu dou um jeito de despistá-los. Levem o tempo que for necessário.

A Anahí é maluca, o que ela imaginava que iria acontecer?

- Ai, Any... - soltei um riso preso e olhei para Maite que me sorria, com aquele rosto tão lindo.

- Vamos? - ela estendeu a mão para que eu pegasse.

- Vamos. - falei, dando alguns passos para frente e ela caminhou ao meu lado, indo em direção as escadas.

- Ê, Maria Paula! - brincou, referindo-se ao fato de eu não ter dado a mão para ela, como minha filha fez.

Fui andando ao seu lado, acompanhando os seus passos.

- Maite, você sumiu durante anos. Sua mão foi algo que esperei por dias e noites. Não vai ser agora que simplesmente porque você quer conversar, eu vou esquecer tudo o que aconteceu.

- Eu sei... - ela disse em tom tristonho. - Você tem toda razão. Desculpa pela brincadeira.

Fomos para um quarto e eu sentei na cama. Observei ela trancando a porta e indo na minha direção. Minhas mãos estavam molhadas, uma fina camada de suor cobria as palmas. Eu podia sentir cada pequeno tremor percorrendo meu corpo, desde os dedos até a ponta dos cabelos.
Minha respiração estava irregular, falhando em acompanhar o ritmo normal. O coração parecia uma bateria desenfreada, batendo tão rápido que eu podia quase ouvir seu som ensurdecedor nos meus ouvidos. Cada batida ecoava pela minha mente, aumentando ainda mais a sensação de nervosismo e ansiedade que me consumia naquele momento.

Ela se sentou do meu lado e deu um sorriso constrangido.

- Eu quero te contar tudo o que aconteceu desde o dia em que você se declarou pra mim... - ela suspirou. -Bom, ninguém sabia mas eu iria me casar com o Guido. Só que aquela sua declaração mexeu demais comigo. Eu fiquei muito assustada, não soube como reagir, mas a verdade era que eu também estava sentindo algo por  você.

Eu me surpreendi ao ouvi-la.

- Só que eu não sabia o que era. - ela continuou. - E depois daquele dia não parei de pensar em você um só minuto.

Enquanto Maite falava, meu coração parecia bater ainda mais rápido, se possível. Cada palavra dela ecoava na minha mente, fazendo-me reviver aquele momento doloroso em que me declarei e fui rejeitada. Mas agora, ouvir suas confissões trazia uma mistura avassaladora de emoções.

Eu a observava atentamente, tentando processar suas palavras. Suas mãos se moveram nervosamente, refletindo a melhoria que também sentiu em meu próprio corpo.

Quando ela mesma que também ficou confusa sobre seus sentimentos naquele momento, uma mistura de colapso e surpresa tomou conta de mim. Era reconfortante saber que não estava sozinha em minhas dúvidas e anseios.

- Eu... Eu também não sabia o que estava pensando naquela época - confessei, olhando para ela com sinceridade. - Foi um momento muito confuso para mim também. Mas eu não entendo uma coisa. Por que você preferiu me rejeitar do que vir falar comigo?

- Porque sou uma idiota. - ela disse me olhando fixamente. - Não tem outra explicação. Eu fui uma covarde e uma idiota. E continuo sendo. Entendo perfeitamente se você nunca me perdoar, afinal, eu mereço tudo isso. Agora que vamos nos ver com mais frequ...

Foi então que, sem pensar, interrompi sua fala e a beijei por impulso.

O momento pareceu congelar enquanto nossos lábios se encontravam, e por um instante, tudo o mais afastado. Era como se o mundo inteiro estivesse em suspenso, enquanto nos entregávamos à intensidade naquele momento.

O beijo foi uma explosão de emoções contidas, um gesto impulsivo que expressava tudo o que eu sentia por ela. Era uma mistura de desejo, amor e esperança, tudo envolto naquele único momento de conexão pura e sem reservas.

Quando finalmente nos separamos, o ar ao nosso redor estava carregado intensamente com a eletricidade daquela troca. Nossos olhos se encontraram, cheios de surpresa e incerteza, mas também com uma faísca de algo mais, algo que eu não ousava nomear.

Em silêncio, permanecemos ali, juntas, deixando as emoções fluírem entre nós. E mesmo que o futuro permaneçasse incerto, eu sabia que aquele beijo tinha mudado tudo, trazendo à tona verdades que não podiam mais ser ignoradas.

Nunca fomos amigas - SAVIRRONIOnde histórias criam vida. Descubra agora