quatro

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Era quinta-feira e Nalú se sentia completa após ter estado nunca batalha underground da zona norte, junto com Youngui e Kroy.

Aquela noite ela havia perdido para Kroy na final, mas se sentia genuinamente feliz e grata.

Pôde batalhar com o coração, sem pensar em câmeras, dinheiro ou no que poderia estar representando ali na roda. Fez batalhas boas com pessoas incríveis e com o mesmo objetivo que ela. Fez uma final muito significativa com Kroy e mesmo sabendo que aquilo não geraria cortes no Tiktok ou apareceria em páginas de batalha, ela sentia que de alguma forma aquela noite tocou algumas pessoas.

Tinha ganhado alguns seguidores, pessoas que vieram da batalha da Aldeia, principalmente depois que seu vídeo da batalha com Guri foi postado e apagado, após perceberem que no vídeo claramente Nalú estava tendo uma crise de ansiedade e que aquilo poderia ativar gatilhos em algumas pessoas.

Ela estava sentada em uma calçada qualquer com Kroy e Youngui comendo um hot dog e falando besteira. Era o ponto alto da sua semana.

— O terceiro foi roubadasso, mano — Yougui brinca.

— Ah, Gui, 'cê é muito chorão meu mano. — Nalú responde indignada. — Admite que eu te botei pra mamar.

— Ana Lúcia tá se achando demais, só porque ganhou do Guri. — Kroy brinca e ri em seguida.

— E ganhou roubado! — Youngui aponta.

Eles gostavam de falar na brincadeira que Nalú só ganhava roubado, pois sabiam que deixava ela irritada e era uma coisa engraçada de se ver.

Poucas coisas deixavam Nalú genuinamente irritada, quase nada na verdade, mas o que mais pegava nela era quando tentavam a diminuir de alguma forma, principalmente quando se tratava de batalhas.

Por si só, as batalhas já são um ambiente tóxico e machista, as vezes mais do que o psicológico de Nalú conseguia aguentar. Ela entendia que aquilo era algo enraizado não só no RAP, mas na sociedade. E querendo ou não, é uma vida que ela escolheu pra si.

Poucas pessoas da cena estendem a mão para uma pessoa que não tá nos holofotes, e quando se trata de uma mulher, a possibilidade de ajuda diminui mais ainda. Mas ela estava chegando lá e sentia isso.

Desde a Batalha da Aldeia, ela se sentiu confiante e leve para rimar novamente apenas 3 dias depois. Parece pouco, mas em 7 anos de batalha, ela nunca se deu o luxo de ficar mais de um dia sem ir tentar a sorte em alguma batalha.

No dia seguinte, o trio Nalú, Youngui e Kroy foram rumo a Batalha da Norte. Nalú estava pronta para colocar seu nome no sorteio, quando vê Shade se aproximando.

— E aí, Naluzinha, tá bem? — ele se aproximando com um sorriso no rosto.

— E aí. Tudo bem sim... — ela responde olhando para o pedaço de papel, no qual estava começando a escrever seu nome.

— A gente teve uma baixa na lista de confirmados hoje. Se quiser substituir, não precisa colocar o nome aí. — ele diz apontando para o papel na mão dela.

— Claro, não precisa nem perguntar duas vezes. — ela sorri e guarda o papel em seu bolso — Valeu pela chance, Shadão.

— Não precisa agradecer, quando sobra vaga assim a gente sempre dá pros MCs que a gente vê que 'tão aí direto.

Ela sente uma pontada de alegria e euforia. A sensação única de sair de casa numa sexta feira, sem muitas chances de rimar aquela noite e de repente está confirmada na segunda maior batalha de São Paulo.

— Mas quem que não veio? — ela pergunta curiosa.

— O Guri. Ele avisou agora pouco que não ia conseguir chegar.

— Ah... Beleza, então. — ela dá de ombros.

— Boa sorte pra você, Nalú. — Shade sorri e Nalú retribui.

Ele volta para o palco e Nalú chega perto de Kroy e Youngui e eles esperam a batalha começar.

Nalú sempre soube que só precisava de uma oportunidade. Uma só era o suficiente pra ela mostrar seu potencial. Essa autoconfiança fez ela chegar no terceiro round da final da Batalha da Norte. A chave não havia sido fácil. Rimou contra Lil Vi, Apollo, Bask e na final com Kroy.

Todas as batalhas chegaram no 3° round, e de certa forma, a sensação do risco de ir até a última rima era boa demais. De perder e ganhar na mesma batalha, de poder errar e corrigir, de poder discutir um assunto na batalha, seja um assunto que ela dominava ou não.

Ela sempre soube que seu amor nunca foi pela vitória, mas sim pela batalha.

Aquela noite a vitória foi uma consequência. Bateu de frente com o campeão estadual e até a última rima, ninguém sabia quem ia ganhar.

Eles dividiram o prêmio de R$1000,00 e Nalú ficou tranquila de saber que poderia pagar o aluguel e passar o restante do mês rimando pelo amor, e não pensando no dinheiro.

vesúvio • guri mcOnde histórias criam vida. Descubra agora