oito

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— Veio pegar água também? — ele diz a primeira frase depois de ficarmos alguns segundos nos encarando.

— Sim.

Me aproximo do filtro e ele dá espaço para que eu encha a minha garrafa.

— Deixa eu te perguntar uma coisa... — ele diz e eu respiro fundo, já desejando que o assunto acabasse — Você não levou nada de ontem pro coração, né?

— O que? Eu não! — respondo surpresa — Por que 'cê tá perguntando isso?

Na verdade, eu achei que ele quem tinha levado pro coração, justamente pela resposta que ele deu.

— Ontem eu cheguei aqui e você subiu. Achei que tinha acontecido alguma coisa.

Fiquei alguns segundos tentando lembrar se o vi na mansão ontem, mas sem sucesso.

— Ah, eu não vi você chegando. Só tava muito cansada e não queria mais interações humanas, aí subi pro quarto.

— Menos mal, então. Queria ter te parabenizado, mas ontem foi tanta loucura depois que a batalha acabou...

— Sim! Eu só lembro do Kroy e do Youngui indo pro palco, eles me arrastando pra plateia... — sorrio ao lembrar dos momentos de ontem — Mas fica tranquilo que eu não costumo levar essas coisas de batalha pro coração.

— Tudo bem, só quis ter certeza que tava tudo bem.

— Certo....Bom, eu já vou indo — digo saindo de perto dele em direção a porta da cozinha.

— Você vai de metrô?

— Uhum. — respondo parando ao lado da porta.

Ele hesita alguns segundos antes de perguntar.

— Eu vou também, te faço companhia. — ele diz já indo em minha direção.

— Você ja vai mesmo? Tão cedo assim? — olho de relance para o relógio da cozinha, que marcava quase 7h.

— Eu tenho que ir pra casa pegar minha mochila pra ir pro Rio. — ele diz e eu apenas concordo com a cabeça — Vamos?

— Vamos.

Espero Guri pegar suas coisas e saímos da mansão rumo à Estação Barueri.

No fundo agradeci pelo Guri estar indo comigo, porque eu não fazia ideia de como chegar na estação sozinha. Iria conseguir com ajuda do celular, mas me sinto mais confiante ao lado de alguém que provavelmente sabe pra onde tá indo.

Aproveito os primeiros minutos de caminhada para observar as casas. A mansão da Aldeia ficava no bairro Aphaville em Barueri, então dá pra imaginar o 'nipe das casas ao redor.

— Um dia eu vou morar aqui — penso alto e Guri acaba escutando.

— Aqui? Nesse bairro de boy? — ele me olha arqueando uma sobrancelha e sorrindo.

— Um bairro seguro, com umas casas bonitas...

— Ah, isso sim. Mas ainda prefiro Ribeirão. — ele diz me interrompendo — Você mora em Osasco, né? É um lugar tranquilo, perto daqui.

— Perto não é, né? Tudo em São Paulo acaba sendo longe por causa do trânsito. — digo e ele concorda — As vezes penso que queria morar no interior do interior. Algum lugar que dê pra fazer tudo a pé.

— Mas no interior você acha comida mexicana 4 da manhã igual aqui? — ele pergunta ironizando.

— 'Mermão, foda-se a comida mexicana — digo e ele ri — Guri, em São Paulo o céu é cinza!!! Você tem noção disso?

vesúvio • guri mcOnde histórias criam vida. Descubra agora