vesúvio • guri mc

onze

Nalú

— Perder no RJ roubado é um evento canônico de todo MC, então? — digo enquanto voltamos para o QG do coliseu.

O Guri acabou perdendo para o Neo fazendo uma das melhores batalhas que eu já vi. Ele ficou feliz e sente que foi justo, mas todo o resto do pessoal que veio de São Paulo falou que ele perdeu roubado e me disseram que isso vai acontecer comigo em algum momento também.

— É, mas não foi o meu caso. — Guri diz — E parem com isso. — ele diz olhando para Levinski e Lino, que eram os que mais estavam aloprando.

— A gente vai relevar porque foi com o Neo. Maluco é cabuloso. — diz Lino.

— Nem me fala...— Levinski diz chacoalhando a cabeça — Vocês voltam pra São Paulo amanhã também?

— Eu acho que si... — começo a dizer

— Não. — Guri diz ao mesmo tempo que eu.

Olho para Guri sem entender e Levinski e Lino olham confusos para a gente.

— Eu vou ficar pro Tanque amanhã. — Guri explica — E tu? — ele pergunta olhando pra mim.

— Hmm...Não sei ainda. — digo.

Confesso que ver o Tanque pessoalmente seria uma realização da Ana Lúcia adolescente que via toda semana as batalhas de gastação pela internet.

Aproveitar mais um dia de Rio seria ótimo também. Mas aí vem aquela cobrança de: Eu tô podendo ficar um dia da semana sem batalhar?

Chegamos no QG do Coliseu e logo subimos para nossos quartos. Combinei com Guri de passar no quarto dele devolver sua camiseta assim que colocasse uma minha. Quando coloquei, fui até o quarto de e bati na porta. Ele abre pra mim.

— Entra aí. — Guri diz dando espaço para que eu entre no quarto.

Dou uma espiadinha para ver se não tinha ninguém lá e entro. O quarto era praticamente igual ao que eu estava dividindo com Levinski, com um beliche, um colchão extra e uma cômoda. Os quartos do QG são extremamente pequenos e simples, mas pelo jeito tinham vários desses pela casa.

— Tá dormindo aqui sozinho? — digo olhando ao redor.

— Não, tô com o Lino e o Ajota. — ele responde se virando para mim e fechando a porta — O Ajota ficou na praça bebendo e o Lino acho que tá tomando banho.

— Ah, entendi. — digo — Ó, tua camiseta. Obrigadão por ter me emprestado ela, me salvou muito. — digo entregando a camiseta para ele.

— Não tinha como eu não te ajudar ali. Nem precisa agradecer. — ele pega a camiseta e sorri.

— Obrigada mesmo assim. — sorrio — Bom, acho que eu vou pro quarto...

— Peraí, peraí. Me diz uma coisa...'cê vai ficar amanhã?

— Tô pensando ainda...Eu queria muito, mas...— digo completamente receosa.

É complicado pra mim abrir todos os medos que eu sinto por pensar em ficar sem batalhar, sem poder ganhar dinheiro por um dia sequer. Por mais que eu imagine que o Guri entenderia, é difícil se abrir principalmente com um colega de profissão.

— Tô com saudade do meu lar já. — sorrio fraco.

— Tudo bem, 'cê que sabe. — ele diz — Eu acho que você curtiria ver a vibe do Tanque. É uma fita complemente diferente de qualquer coisa que tenha em SP.

— Tá querendo me convencer? — digo rindo.

— Se eu quisesse te convencer eu te diria que amanhã vai fazer um dia lindão pra ir pra praia, que amanhã o pessoal vai fazer um churrasco aqui no QG... — ele diz me olhando — Mas como eu não quero te convencer eu não vou dizer nada disso.