2. Tempo- Anne

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Estou tão feliz. Vou poder realizar o meu sonho e fazer os meus pais felizes. Poderei ser médica e estudar canto e piano. É tão bom não ter problemas. E hoje é a minha primeira audição ou concerto. Como quiserem chamar. Espera não... ele também tem que estudar piano. Viro-lhe as costas. O Simon tinha mesmo que vir para aqui estudar. Existem dois conservatórios nesta cidade e tem que ser mesmo no que eu entrei. Mas porque raio é que eu não escolhi o professor.

Agora vou ter de bater palmas quando ele tocar. Não, eu odeio-o. Eu detesto-o. Ele exagerou no perfume dá para sentir a léguas. Aquele fato. Ai não. Imagina só ele ir para um casamento assim. Ia ser tão mau. Mas não duvido de alguma daquelas tias dizerem-lhe que está lindo e perguntarem-lhe pelas namoradinhas. Que devem ser tantas ui (se não perceberam estou a ser sarcástica).

Sinto aquele cheiro. E tento andar um pouco mais depressa. Para não ter de me cruzar com ele.

-Olá, tudo bem ?- ignoro-o.

***
Q

ue estranho ele foi simpático? Porque razão seria. Deves estar a iludir-te. Só pode. Só tens de te lembrar uma coisa. Nunca contar aos pais disto. Senão adeus sonho. Adeus música.

Sigo como sempre os meus horários para dormir. São dez da noite e já estou de pijama. Enfiada na cama que estava tão quente. Estamos em Setembro mas ainda está tanto calor. Tenho de deixar a janela aberta para poder sentir uma brisa.

***

Acordo com o meu gato a massagear os meus pés. São cinco da manhã. Uau. Não me lembro nunca de ser tão cedo. Pego no meu telemóvel e tenho uma notificação do Simon. Ele quer-me seguir? Bem ok. É melhor aceitar.

Que estranho. Isto está cada vez mais estranho. Parece que o objetivo dele é incomodar-me e nunca mais sair do meu pensamento. E é por estes motivos que o detesto. Odeio-o com todas as minhas forças. Que parvo por me fazer isto. E eu devo ser burra para deixar. Se calhar sou burra mesmo. Em todos os sentidos. A sensação de incapacidade sempre fez-me chorar ainda mais quando penso que é verdade.

***

O despertador toca. São 7 da manhã. A minha almofada está toda molhada. Quando vou à janela ver se o carro do meu pai está em casa reparo que esse lugar está vazio. É sempre assim. Sempre a mesma porcaria. Sempre assim. Sempre sem o meu pai aqui ao meu lado. A minha mãe parece que só quer saber de notas e beleza. Sinto que isto dá cabe de mim...

- Filha anda logo, tens de ir para escola. Não queres ser uma menina má e burra certo?- a minha mãe está com as mãos nos meus ombros. Ela sempre faz isto. Levanto-me e visto-me rapidamente. Não como nada. A mãe diz que o meu peso não pode variar.

***

Acho que a escola não é assim tão má. Não preciso de ser tão perfeita com os meus amigos. Posso ser quem eu sou.

Ao chegar lá vejo o Oliver. O rapaz que gosto e sempre gostei. O que me faz esquecer os problemas. O que tem imensas fotos comigo. Cada foto mais parva que a outra. Eu adorava as nossas conversas. O seu sorriso. A forma como me faz rir. Todas as músicas que escrevi foram para ele. Os poemas... tudo. Ele foi o único rapaz que apaixonei-me. O único que quero sentir os seus lábios.

Ele dá-me um abraço. O seu cheiro era tão reconfortante. Depois a Mary. Essa vem logo a correr para mim. A Olive (irmã gémea do Oliver) vem logo de seguida e a Jane.  Depois o Adam, namorado da Jane e o meu melhor amigo. Acho que este é o verdadeiro significado de lar. Creio que lar só se usa quando estou com as pessoas que amo. E eu amo os meus amigos.

Pelo o que descobri havia uma nova rapariga. Italiana. Ouvi que ela encantava todos os rapazes. Que ela era tipo uma sereira. Fico um pouco enciumada mas não tinha de ficar. Sabia que o Oliver nunca me iria trocar. Dizemos isso indiretamente com o olhar. A minha frase favorita de Nicholas Sparks pode ser aqui utilizada "os olhos sempre dizem a verdade".

Juro Que Foi Sem QuererOnde histórias criam vida. Descubra agora