Minha Meia Irmã [ Sáfico ] [ Dark Romance ]

One

    

[Duda]
                        
Eduarda Dias

E aqui estou eu, arrumando novamente minhas coisas, prestes a me trasladar para um lugar desconhecido, uma casa repleta de rostos que jamais vi antes.

Desde o falecimento do meu pai, minha mãe embarcou em uma sequência de relacionamentos — três, para ser mais exata — e esta tem sido a rotina da minha vida desde que completei nove anos, agora aos dezessete, vivendo sob a sombra de constantes mudanças. Estou exausta!

Termino de organizar as últimas peças na mala e desço as escadas, esbarrando diretamente com minha mãe.

— Oi, mãe — digo, deixando transparecer um tom de descontentamento.

— Filha, eu entendo que você esteja chateada, mas acredito firmemente que desta vez tudo dará certo. O Robert é um homem incrível e, além disso, ele possui uma estabilidade financeira admirável — responde ela, com um brilho esperançoso nos olhos.

Balanço a cabeça, dirigindo meu olhar para ela, e digo: — Não tenho mais palavras. Estou cansada de tudo isso. Agora, vamos logo, porque estou com sono e fome.

Ela concorda com um aceno e saímos em direção à calçada, aguardando a chegada do Uber, que não tarda a aparecer.

•••

Após quase duas horas de viagem, chegamos à cidade, que se revela ser um pequeno recanto. Enquanto olho pela janela, meus pensamentos vagam, questionando qual será o primeiro lugar a explorar.

O carro estaciona em frente a uma enorme residência, e fico deslumbrada.

— Uau! — exclamo, admirando a magnitude da casa.

— Linda, não é? — minha mãe surge atrás de mim, com um sorriso radiante. Nesse instante, um homem que parece ter o dobro da idade dela se aproxima.

— Olá, meu amor — ele a cumprimenta com um beijo que me provoca um leve enjôo.

— Então, só pra lembrar, eu ainda estou aqui — digo, meio envergonhada, enquanto ele me observa. Ele avança em minha direção e me envolve em um abraço caloroso — um gesto que não sou fã. Forço um sorriso, tentando aparentar uma felicidade que definitivamente não sinto.

— Que bom te conhecer, Eduarda — ele comenta, seu olhar afetuoso pousando sobre mim. Retorno com um sorrisinho nervoso.

— Igualmente, Rogério — respondo automaticamente.

— Filha, é Robert — minha mãe corrige, visivelmente constrangida.

— Robert, perdão — murmuro, lembrando-me de que Rogério era o ex.

Ele nos conduz para dentro da casa, abrindo a porta e revelando seu extenso lar. Observando cada detalhe, percebo que, de fato, o homem possui um gosto refinado.

— Sintam-se à vontade, este é o novo lar de vocês agora — diz ele, gesticulando com a mão. Uma mulher que estava parada na porta se aproxima.

— Mostre o quarto para a Eduarda — ordena Robert.

— Sim, senhor! — a mulher exclamou, antes de me chamar para acompanhá-la. Subimos as escadas e atravessamos um imenso corredor. Porra, isso é uma casa ou um museu? E não me entenda mal, eu não estou reclamando.

Ela finalmente abre a porta do meu novo quarto. Ao entrar, fico satisfeita com o tamanho do espaço; no entanto, a cor rosa que domina a decoração deixa a desejar. Mas que se dane, logo poderei imprimir meu próprio estilo nesse ambiente.

Ela se despede e eu fecho a porta, rapidamente organizando minhas coisas no guarda-roupa. Deito-me na cama e, em poucos instantes, adormeço... não por muito tempo, pois ouço uma voz estridente do lado de fora.

— Aí amiga, eu não consigo acreditar que esse garoto teve a audácia de fazer isso com você! Olha, nós vamos sair hoje e mostrar para ele exatamente o que ele perdeu — a voz fina vai se afastando, e eu deduzo que se trata da filha do Robert. Só por essa voz irritante, já tenho certeza de que não teremos uma boa relação.

Enquanto me levanto da cama, o peso do dia começa a se instalar em meus ombros. O lugar pode ser bonito, mas minha mente está longe daqui, pensando na vida que deixei para trás, nas memórias que não consigo apagar, nos planos que nunca chegaram a ser realidade. Sinto um nó no estômago ao pensar que esta nova fase pode ser mais uma tentativa frustrada de encontrar o meu lugar no mundo.