A gentil manipulação

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CONSULTÓRIO DA DRA. THAIS

Questionado sobre as demais mulheres com quem se envolvia, Roberto explicou seu relacionamento, pouco ortodoxo, com cinco mulheres, entre elas sua Namorada Amanda e sua chefe, Denise. A terapeuta faz diversas anotações em sua prancheta, deixando Roberto angustiado.

— Com quantas mulheres se envolveu simultaneamente?

— Cinco.

— Elas sabiam umas das outras?

— Sim. Inclusive com todas ao mesmo tempo.

A doutora arregalou os olhos, mantendo a caneta junto ao papel. Refletiu por alguns segundos e escreveu algo, gesticulando negativamente com a cabeça.

— Roberto, antes de mais nada, preciso te dizer que esse comportamento de seduzir várias mulheres é nocivo, para elas e para você. A escrita de contos é saudável como forma de expressão, mas por mais que tenha um fetiche de dominação, exercê-la controlando várias mulheres pode provocar um sofrimento inconsciente nelas. O mal que isso faz pode provocar respostas inesperadas.

— Você fala como se eu fosse um abusador. É isso que está escrevendo aí?

Thais, sorri.

— Não se preocupe com minhas anotações. Não estou dizendo que é, mas pode ser inconscientemente. Assim como elas sofrem sem terem consciência da origem do problema, é a devoção delas a você. Suspeito, inclusive, que essa demissão seria uma forma de sua chefe se curar de você.

Roberto olha para o teto, pensativo.

— Me desculpa, doutora, mas não me entendo como alguém que tem em vista fazer mal a outro.

— Isso nem sempre é consciente, como eu já disse. Homens e mulheres com esse perfil podem ser muitos gentis no dia a dia e manipuladores sem se darem conta de sê-lo.


NATASHA

Já fazia algum tempo que Denise sofria com excesso de trabalho. Como uma workaholic, sempre assumiu grandes responsabilidades como uma líder nata. Sua postura proativa lhe dava respaldo para ser a diretora exigente que era. Sua disposição sempre invejável, era exemplo para toda a empresa. Porém, o fôlego para suportar todo o stress diário um dia enfraqueceu. Os reflexos disso foram imediatos em prazos perdidos e tarefas mal executadas. Denise temeu perder seu trabalho, mas a empresa entendeu suas dificuldades e trouxe alguém para dividir as tarefas.

Trouxeram de volta Natasha. Uma ex-funcionária, saída de lá havia alguns anos e que ganhou experiências em outras grandes empresas. A nova diretora era igualmente apegada ao trabalho, mas bem diferente de Denise no trato com funcionários. A loira era firme em suas posições, exigente e muitas vezes implacável com quem falhasse com ela. Era comum alguns funcionários a temerem. Natasha era o oposto. Negra, com lábios grossos, tinha um sorriso largo e o usava constantemente. Era amável, sendo esse seu próprio jeito de motivar os empregados. Todos gostavam dela e faziam questão de agradá-la. Não demoraria muito para surgir entre os funcionários, boatos sobre alguma rivalidade entre as duas.

Para quem olhava a relação das duas à distância, parecia normal, com Natasha sendo sempre gentil e Denise correspondendo educadamente. Para o funcionário, porém, que ouve a voz doce de Natasha cinco minutos depois de uma bronca de Denise, não era difícil imaginar que métodos de liderança tão distintos levassem a discordâncias entre elas.

Denise percebia a diferença na forma de tratamento e como os próprios funcionários, correspondia às duas. Ela, entretanto, ignorava isso, pois entendia como certa a sua forma de trabalhar. Ser dura no ambiente de trabalho significava frieza o bastante para não se deixar afetar pelas relações com os funcionários. Essa diferença de tratamento, seria apenas mais uma distração, que seria ignorada se ela mantivesse sua firmeza. Normalmente ela encararia a situação dessa forma, mas algo mais forte a perturbava.

Departamento das Fantasias Secretas IIOnde histórias criam vida. Descubra agora